Porsches, Lamborghinis, Ferraris, Mercedes e BMW. A lista de carros luxuosos ligados a grandes criminosos e apreendidos pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) é extensa. Em pouco mais de um ano, a Justiça determinou o "sequestro judicial" de mais de 10 veículos em, pelo menos, quatro grandes operações da PCDF, como a que investigou o youtuber Kleber Moraes, a do sargento da PMDF Ronie Peter e o “Rei da Telebrasília” — um dos maiores traficantes de cocaína da capital. Juntos, os automóveis ultrapassam a marca de R$ 10 milhões e, atualmente, estão alocados em uma divisão especial de custódia de bens da corporação.
Caso polêmico e de repercussão nacional, o youtuber Kleber Moraes, mais conhecido como Klebim, 27, virou alvo de uma investigação da Divisão de Repressão a Roubos e Furtos (DRF1) e chegou a ser preso em 21 de março acusado de participar de um esquema milionário de jogos de azar e lavagem de dinheiro. As apurações policiais revelaram que o influencer chegou a faturar R$ 20 milhões. Apontado como o 01 do esquema, ele fazia rifas ilegais em que os automóveis, preparados com suspensão e rodas, eram os prêmios.
A Polícia Civil apreendeu 23 carros ligados a Klebim. Entre eles, uma Lamborghini Huracán prata, avaliada em R$ 3,5 milhões; uma Ferrari 458 Spider vermelha, de R$ 2,5 milhões; uma Mercedes Benz C200 marrom, de R$ 180 mil; uma Mercedes Benz GLA 200 branca, de R$ 300 mil; e uma BMW Z4 azul, estimada em R$ 450 mil. Todos os veículos estão em um pátio coberto da PCDF, destinado especificamente para abrigar bens apreendidos.
Sargento agiota
Uma outra grande operação da PCDF desencadeada em fevereiro deste ano trouxe à tona um esquema milionário de agiotagem chefiado pelo policial militar Ronie Peter Fernandes da Silva, 45. No cargo de terceiro sargento, Ronie usava as redes sociais para ostentar viagens em lugares luxuosos e paradisíacos. Os registros também contavam com fotos em carros milionários.
Ronie está preso e foi acusado de gerenciar um negócio ilegal que movimentou quase R$ 8 milhões. O PM junto ao irmão emprestava dinheiro e extorquia as vítimas. Áudios colhidos pelos investigadores mostraram ameaças macabras aos devedores. Numa das gravações, o servidor chegou a dizer que morderia os olhos das vítimas.
O PM morava em mansões e colecionava carros de luxo, os quais também foram apreendidos São eles: uma Porsche 911 Carrera, de R$ 1 milhão; uma Porsche 911 Carrera Cabriolet, de R$ 1,2 milhão; uma Porsche Boxster S, de R$ 500 mil; uma lancha 30 pés, avaliada em R$ 400 mil; e um jet-ski Sea Doo RXTX 300, de R$ 140 mil. ,
“É preciso percorrer o caminho dos valores obtidos com os delitos patrimoniais. Muitas vezes o dinheiro segue para contas de empresas de fachada, que são utilizadas para ocultar a origem dos recursos e adquirir veículos de alto luxo, tudo com inequívoca intenção de mascarar e de reintroduzir os valores ilícitos na economia. A nova persecução está atenta aos delitos de lavagem e à importância de se buscar inviabilizar financeiramente os grupos criminosos”, afirmou, ao Correio, o delegado Fernando Cocito, diretor da DRF1/PCDF.
Traficantes luxuosos
Em maio, a Coordenação de Repressão às Drogas (Cord) prendeu um grupo especializado em financiar, transportar, armazenar e distribuir cocaína no DF. As investigações duraram cerca de três anos e contou com a participação do Ministério Público (MPDFT).
Os policiais cumpriram 14 mandados de prisão temporária e 60 de busca e apreensão. Entre os presos, estava um traficante apontado por comandar o esquema, mais conhecido como “Rei da Telebrasília”. Além dele, a PCDF prendeu os “Irmãos do Pó”, moradores de Samambaia. Luxuosos, os criminosos também ostentavam carros milionários. Atualmente, pelos menos duas Porsches que, juntas, são avaliadas em mais de R$ 700 mil, estão no pátio da PCDF.
Já em fevereiro do ano passado, a Cord deflagrou a operação Sborone e prendeu cinco pessoas acusadas de tráfico interestadual de drogas. Na ação, foram cumpridos mandados judiciais de sequestro de três imóveis – uma casa, um apartamento e uma chácara – localizados em Goiânia (GO), Águas Claras e Brazlândia, no valor de, aproximadamente, R$ 4 milhões; e apreendidos 12 veículos, avaliados em R$ 1,2 milhão. Entre os carros, estão um Toyota Corolla de R$ 160 mil e uma Range Rover Velar, de R$ 430 mil.
Delegado Paulo Francisco Pereira, da Cord, explica que, no caso do tráfico de drogas, prevê o art. 243 da Constituição Federal que todo e qualquer bem de valor econômico apreendido será confiscado e reverterá a fundo especial com destinação específica, na forma da lei. “As grandes ações policiais realizadas nesse contexto vão de encontro ao que preveem as convenções internacionais, como por exemplo, a Convenção Contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas, de Viena e a Convenção de Palermo, que reconhecendo que o tráfico de drogas e a atuação do crime organizado geram lucros milionários aos criminosos, bem como causam incontáveis danos à sociedade em geral”, frisa.
Porsche transformada em viatura
Uma das Porsches apreendida com o sargento da PM Ronie Peter ganhou uma nova “aparência”. A PCDF solicitou a caracterização provisória dos veículos para exibição em ações pedagógicas de repressão ao crime organizado. O pedido foi deferido pela Vara Criminal de Águas Claras e um dos veículos foi provisoriamente caracterizado com a nova identidade visual da PCDF para exibição em exposições e eventos pedagógicos de repressão e descapitalização de organizações criminosas. A decisão judicial veda o uso do veículo em ações rotineiras da PCDF.
Vale ressaltar que o uso pedagógico do veículo não importa em despesas para a PCDF e garante a conservação do bem até decisão sobre eventual confisco ou alienação antecipada. Na decisão, o juiz Paulo Afonso Correia Lima Siqueira, titular da Vara Criminal de Águas Claras, consignou que a medida, além da finalidade pedagógica e publicitária, visa à preservação do bem, medida salutar considerando o valor do veículo.