Grupos de famílias aproveitaram o sábado para visitar livrarias, ouvir contadoras de histórias e comprar livros de variados gêneros, principalmente os infantis, na 36ª edição da Feira do Livro de Brasília (FeLiB), no Complexo Cultural da República. Com o tema "O Quadradinho, O Quadrinho e a Leitura… Sempre em Frente", o evento — iniciado na sexta-Feira — homenageia o ilustrador e escritor Roger Mello, e movimentou a "Cidade da Leitura", nome dado à estrutura erguida para abrigar a festa das letras.
Acompanhada pela família, a moradora de Arniqueira Violeta Rocha, 39 anos, chegou ao evento ao lado do marido Darlan Alves, 40, da filha Nina Rocha Moura, 4, e do enteado dela Gabriel Moura, 8. "Eu lia muitos quadrinhos da Turma da Mônica, e trouxe minha filha para a Feira, porque ela gosta muito de ler em casa", explica a empresária.
Darlan conta que comprou artigos educativos para o filho Gabriel, que está sendo alfabetizado. "A gente veio atrás de livros de aprendizado de leitura por esse motivo, e estar nesse evento é um incentivo para ter o contato com a Literatura desde pequeno, o que melhora as atitudes dele no decorrer da vida", avalia o pai do garoto.
Entre as novidades da mostra, destaca-se a criação da "Praça Família Leitora" e dos espaços "Sesc Vitrine Literária", "Quadradinho Autoral", "Beco dos Quadrinhos" e "Espaço Casa do Cordel". A 36ª edição conta com três grandes eixos de curadoria: leitura no âmbito familiar, escolar e criativo-autoral. As histórias em quadrinhos, os encontros com autores, as contações de histórias, as atividades artísticas para bebês e crianças e as oficinas arte-educativas são o destaque na programação.
Mundo da fantasia
Com chapéu e roupa da bruxa, a moradora do Noroeste Nilvani Perpétua da Silva Bugarin, 49, foi uma das contadoras de histórias da mostra. Vestida à caráter, ela recebia as crianças para ler os livros As maluquices da Bruxinha Luariel — de 2017 da editora Outubro, publicada em português e japonês, que trata do uso excessivo dos eletrônicos e das mídias sociais —, e da obra ilustrativa em português e inglês Bruxinha Luariel, Forma e Cores no Parquinho, de 2018. "Acredito que o livro tem um poder de desenvolver o potencial da criança como leitora e um ser pensante, porque ela consegue assimilar mais as ideias", avalia Nilvani.
Ao lado dela, a moradora de Taguatinga Norte, Edna Craveiro, 40, participou pela primeira vez da Feira como contadora de histórias. Vestida de princesa da Disney, a professora de literatura na Secretaria de Educação, citou os efeitos da leitura na vida dos jovens. "Acho que a gente entra muito no imaginário infantil, então, quando coloco uma roupa de princesa, me sinto criança de novo e estou no universo infantil novamente", contextualiza.
O Universo infantil é o que a servidora pública Veridiana Saraiva, 36, busca inserir no cotidiano do filho Lucas, 4, que sempre ouve histórias antes de dormir. "Vim escolher um livro bem ilustrado para chamar a atenção, porque quando ele gosta de um, só quer ler aquele todas as noites", conta a moradora de Sobradinho.
"Quero que ele tenha esse hábito desde pequeno, porque a leitura vai ajudá-lo a compreender as coisas de forma ampla, desenvolvendo a linguagem dele, que já tem um vocabulário bom para a idade que tem", opina a mãe de Lucas.
Dono da Livraria do Professor, em Ceilândia Sul, Avelar Soares Costa, 49, assegura que o interesse por livros infantis foi o que ajudou a elevar em 30% as vendas em relação a 2019, última edição do evento. "Estamos esperando um público melhor pela vontade do povo de sair de casa. E percebo que as pessoas estão querendo se libertar da tecnologia e dos livros em aparelhos eletrônicos", avalia.
Oficinas para o público geek
A Feira do Livro de Brasília reserva espaço especial para os adolescentes amantes do universo geek e dos animes, com oficinas de histórias em quadrinho e outras atrações. Nessa modalidade serão priorizados autores brasilienses, que vão compartilhar suas experiências com o público. Segundo Emerson Vasconcelos, organizador da ComicCon do Rio Grande do Sul, que ministrará oficinas na FeLiB, os quadrinhos foram e ainda são a porta de entrada para a alfabetização.
"A base da iniciação ainda se dá nas histórias em quadrinho, em que a criança aprende a ler os significados das imagens e, ao começar a aprender o alfabeto, passa a ter contato com o texto e assim consegue aproveitar todas as facetas do material", comenta Emerson. Além das histórias em quadrinhos tradicionais, de modelo ocidental, Vasconcelos apresentará outras formas não convencionais de criação, como os chamados webtoons — quadrinhos digitais, mangás e HQ's para as redes sociais.
Outra atração que promete chamar atenção da garotada é a mini-Feira "Do Quadradinho ao Sol Nascente", na qual mangakás (artista de mangá) brasilienses que já fazem sucesso no Japão, marcarão presença para um bate-papo sobre como é a vida de um autor de mangás em terra estrangeira e darão dicas para alcançar o tão sonhado sucesso.
O evento ocorre até 26 de junho, de forma presencial, com classificação indicativa livre e entrada franca. Além das exposições, a Feira terá ainda programações para todas as idades, palestras, apresentações culturais e ações educativas em mais de 60 estandes. Em um deles, da exposição do Correio Brasília 61 1 anos de história — que mostra as 62 capas do jornal em aniversários da capital federal.
Quem parou para prestigiar a mostra foi o aposentado Manuel Madureira, 65, que chegou na cidade em 1964, ano do golpe militar, cita que a versão impressa acompanhou muitos cafés da manhã. "Fiquei sabendo pelo Correio que teria o evento, e as capas representam muito porque o jornal é um patrimônio da cidade", opina.
Quando se trata de patrimônio, a Feira do Livro deve muito a um dos criadores, em 1982, o presidente da Academia Taguatinguense de Letras, Gustavo Dourado, que expôs os livros de cordel, e a obra, de 2016, I Antologia da Academia Taguatinguense de Letras, que reúne mais de 100 escritores do DF. "É importante mostrar os autores de fora do Plano Piloto, tanto que priorizo os de Ceilândia, Taguatinga e Samambaia neste livro, que tem uma poesia inédita do Carlos Drummond de Andrade", cita.
Diante da diversidade de opções, o curador literário e coordenador da FeLiB, Marcos Linhares, afirma que a ideia é valorizar o acesso aos livros em qualquer faixa-etária. "O contato com as publicações propicia uma experiência, seja decorando com um marcador de página ou grifando uma frase. A leitura pega todo mundo", afirma.
*Estagiária sob a supervisão de
Michel Medeiros - Especial para o Correio