Estima-se que 2.938 pessoas vivem em situação de rua no Distrito Federal. A informação é da pesquisa da Companhia de Planejamento (Codeplan) divulgada nesta terça-feira (14/6). Os dados mostram que, desse total, 29,2% estão nessa condição há mais de 10 anos. Outros 38,2% da população em vulnerabilidade social afirmaram que foram para a rua desde o início da pandemia, ou seja, há cerca de dois anos.
O relatório tem como objetivo fazer a contagem das pessoas nessa situação que estivessem no espaço das ruas, em serviços de acolhimento institucional e em comunidades terapêuticas de todas as regiões administrativas do Distrito Federal, além de traçar o perfil dessas pessoas.
O presidente da Codeplan, Jean Lima, destacou que a pesquisa da população em situação de rua tem o intuito de dar visibilidade a essa população. “É importante conhecer o perfil dessa população para que os gestores possam enfim pensar políticas públicas na área de segurança, na área da assistência social, na área da Secretaria de Justiça e de Direitos Humanos”, ressaltou.
Lima aponta duas questões distintas em relação ao perfil dos entrevistados na pesquisa. “Uma que é um efeito imediato da crise sanitária econômica que atinge 40% das pessoas e uma questão mais estrutural de 60% das pessoas que estão na rua há mais de três anos, ou seja, já é um tempo muito grande”, analisou.
Considerando o total de pessoas identificadas, as Regiões Administrativas com maiores concentrações foram Plano Piloto, com 728 pessoas (24,8%), São Sebastião com 385 (13,1%), Ceilândia com 370 (12,6%) e Taguatinga com 351 (11,9%).
Lima explica que o DF apresenta um perfil de pessoas em situação de rua muito centralizado no Plano Piloto. “Ou seja, se concentram onde tem um poder econômico, onde tem o ciclo de pessoas. O Plano recebe um fluxo de um milhão de pessoas, aumenta em quase cinco vezes a população do plano durante o dia, você vê que a população se concentra nessa área”, pontuou.
Além do Plano, as outras regiões em destaque aparecem com um grande volume de pessoas devido às redes de acolhimento, segundo Jean. “Especificamente, São Sebastião, que foi a segunda cidade que apareceu o maior número de pessoas em situação de rua, se destaca pela rede de acolhimento lá e pelo alto número de estrangeiros venezuelanos que vieram e estão ali nas casas de abrigo”, ressaltou o presidente do órgão.
Gênero, idade e educação
A quantidade de homens é 2.375, o que representa 80,7% do total. Além disso, 563 (19,3%)
são do sexo feminino. Outro ponto relevante na pesquisa indica que quase metade dos entrevistados têm entre 31 e 49 anos (47,2%). “Do ponto de vista demográfico, é a idade mais produtiva da pessoa, está no auge profissional, vamos dizer assim. Então, é preocupante esse cenário”, destacou Lima.
Cerca de 22% das pessoas têm entre 18 e 30 anos. Um total de 19,4% da população tem 50 anos ou mais, sendo que 13% têm entre 50 e 59 anos e 6,4% são idosos com 60 anos ou mais.
Outro dado do relatório mostra que um percentual de 71,1% das pessoas se declarou negra, enquanto o percentual de pessoas alfabetizadas em situação de rua é de 87,6%. Além disso, as doenças mais comuns relatadas por essas pessoas foram depressão e transtornos mentais (37,7%), seguido por problemas de saúde bucal (35,7%) e dores crônicas (28,7%).
De acordo com a pesquisa, entre os lados negativos indicados pelos entrevistados, 40,7% se sentem com medo e insegurança por viver na rua e 17,4% relataram sofrer violência física. “A gente percebeu na pesquisa que a principal questão das pessoas é o medo de serem violentadas, medo de qualquer tipo de violência, então é uma população muito vulnerável”, comentou Lima.
Continuidade
No segundo semestre, a Codeplan irá entregar a parte qualitativa da pesquisa. “Vai destrinchar mais as questões sobre as razões pelas quais as pessoas estão na rua, sobre as violências que elas sofrem. A gente vai entender um pouco do ponto de vista qualitativa”, destacou o presidente do órgão.
Segundo ele, a companhia junto ao Governo local estuda a periodicidade dessa pesquisa. “Não dá pra ficar dez anos de novo sem fazer a pesquisa. A gente não tem ainda a periodicidade, se vai ser bianual ou quadrianual. Importante é que, a partir desse estado, a gente vai ter referência, vai poder desdobrar em outros estudos”, concluiu Lima.