A chegada do inverno, que traz doenças respiratórias como ponto de preocupação, agora conta com a 4ª onda da pandemia de covid-19 no DF. O Dr. Lucas Albanaz, clínico geral e mestre em ciências médicas, tratou do tema na edição de ontem do CB.Poder — programa do Correio em parceria com a TV Brasília, com apresentação da jornalista Sibele Negromonte. "Já era esperado algo mais agudo, mas não nessa magnitude", pontuou.
Podemos dizer que estamos
na 4ª onda?
Sim. Já era esperado algo mais agudo, mas não nessa magnitude. Porém, não temos observado muitos casos graves e internações como observamos nas outras ondas. Um dos motivos de aparecer a quarta onda é o próprio período que facilita a circulação dos vírus respiratórios entre a população mais rapidamente. Outra questão é a saída de casa para os trabalhadores, a volta das crianças à escola. Houve o relaxamento das medidas de isolamento, das medidas protetivas. Tudo isso corrobora com o aumento da taxa de transmissão da doença.
A cobertura vacinal está
abaixo do ideal?
Na segunda dose, temos mais de 80% de vacinados em todo o país. Mas na terceira dose esse número cai bastante. Isso é observado pela resistência das pessoas e pela falta de avanço da cobertura. Não por questões governamentais, porque hoje a gente observa um número bem expressivo de doses guardadas esperando pela população, mas desta mesma se mobilizar e tomar essa dose. Seja por convicções políticas ou por perder o medo da pandemia, infelizmente, passamos por isso.
Qual a preocupação com as crianças, já que não há imunização abaixo de quatro
anos e com uma baixa
cobertura dos 5 aos 11 anos.
É um ponto-chave da pandemia. Percebemos que as crianças, durante a pandemia, foram menos afetadas. Vemos um menor número de internação e de casos graves. Mas, não significa que esse índice seja nulo. Há casos graves e morte de crianças. Vacinar é uma forma de proteger a criança e a família também. Aconselho fortemente esse ato de responsabilidade e segurança. Não há relatos de casos graves de reações vacinais nas crianças. Mesmo com uma alta de casos, atualmente temos menos casos graves.
O que ocorre com uma pessoa que se vacina e está com a doença?
Pedimos aos pacientes para que eles não estejam com a vigência do vírus no organismo, para que não tenham outros sintomas. Justamente porque, muitas vezes, o paciente tem um quadro de covid, ele pode ter outras reações voltadas ao vírus e não à vacina e isso pode ser confundido. No caso de acontecer, o que é comum, não leva um problema grave ao paciente, mas vai confundir com os sintomas. Não há um estudo de baixa eficácia ou prejuízo ao paciente que vá se vacinar durante a vigência da infecção.
Em relação às mudanças nos protocolos de proteção, como o isolamento de 14 dias para os infectados, como funciona agora? Como fazer um exame para identificar a doença?
Basicamente, para não passar o vírus adiante, hoje os pacientes vacinados, que são a maioria da população, temos um período de isolamento de sete dias, a contar do primeiro sintoma, em sintomas leves. Com uma gravidade maior, sem quadro de sintomas no 7° dia, se estende até o 10° dia. Ficou mais difícil para os pacientes identificarem isso porque temos uma exceção: os que testam positivos e estão assintomáticos, caso refaçam um teste no 5° dia, como negativo, este pode sair do isolamento. O teste deve ser feito a partir do 3° dia de sintomas, até o 7° dia.
Há uma subnotificação de testes?
Com certeza, desde o início da pandemia a gente sabe que o número real sempre é bem maior que o notificado. Algumas pessoas nem sempre vão procurar o serviço de saúde, outras com casos leves, outras não são notificadas. Infelizmente não temos um número real. Seria importante a gente ter esse número real para tomar medidas mais condizentes com a nossa realidade.
O foco da tragédia sanitária e humanitária da pandemia negligenciou outras doenças?
Infelizmente era algo esperado diante da pandemia. Tanto por parte do usuário do sistema de saúde, focado em se proteger e esquecido de fazer o rastreio da prevenção total da saúde. Avaliações periódicas se perderam com a pandemia. Temos que pensar em uma saúde de prevenção, porque se a medicina for apenas curativa, vamos andar passos atrás. Uma avaliação preventiva, à frente, ajuda bastante a saúde.
*Estagiário sob a supervisão de Márcia Machado