Com a explosão de casos de covid-19 e o aumento na procura por atendimento em hospitais e unidades de saúde, especialista afirma que o Distrito Federal já enfrenta a quarta onda da doença. Ontem, foram registrados 3.055 casos e três mortes por covid-19, segundo a Secretaria de Saúde do DF (SES-DF). Em relação a terça-feira da semana passada, quando 2.142 casos foram registrados, houve aumento de 42,6%. Na última segunda-feira, foram 6,6 mil casos, cerca de 156,4% a mais do que na segunda-feira da semana passada, quando Brasília teve 2.604 testes positivos. A taxa de transmissão da doença também aumentou, de 1,47 na segunda-feira, para 1,53 ontem.
A SES-DF ainda não confirma que a capital enfrenta uma nova onda da doença, mas a preocupação dos brasilienses tem aumentado a cada dia. No fim da manhã de ontem, a fila do posto de testagem da rodoviária do Plano Piloto estava dando voltas. O geógrafo e morador de Taguatinga Lucas Garcia, 29 anos, esperou mais de 1h para fazer o teste de covid. "Já faz uns dias que estou me sentindo mal, com enjoo e vertigem, e tentei fazer o teste mais cedo, em outro posto, na 612 Sul, mas os testes acabaram lá, por hoje. Então, vim para cá, cheguei às 9h30, mas só fui atendido às 11h, porque está muito cheio", relata.
Lucas teve covid-19 em 2020, antes de se vacinar. Ele não apresentou sintomas fortes, mas desenvolveu sequelas psicológicas. "Eu não tinha mais disposição física e mental para nada, depois da doença. Fiz muitos exames, e, com ajuda de psicólogos, identificaram que eu realmente estava deprimido por conta da covid. Hoje, ainda uso medicações para a depressão e faço acompanhamento", diz.
O estudante e morador de Ceilândia Luan Rodrigues, 23 anos, pegou covid em março de 2021, e, na ocasião, ficou internado por 20 dias, foi entubado e teve 70% do pulmão comprometido pela doença. Sem comorbidades, ele conta que se surpreendeu ao ser diagnosticado e que sempre seguiu os cuidados recomendados pelas autoridades sanitárias. "Eu já tinha tido a doença, em 2020, e não achei que pegaria de novo, mas peguei e tive um quadro bem grave. Hoje, já estou melhor, o nível de comprometimento do meu pulmão caiu para 10%, mas ainda tenho sequelas na memória, e, às vezes, me faltam palavras na mente. Meu pai também pegou, na época, foi internado três dias depois de mim, mas, infelizmente, faleceu", lamenta o jovem.
A professora Lician de Cássia, 50 anos, também tem receio de pegar a doença novamente e procurou o posto da Rodoviária nesta terça-feira. "Na escola em que trabalho, tem um professor que foi diagnosticado com covid. Como eu lido com crianças, não posso trabalhar doente, então, vim me testar. Já tive covid duas vezes, e, felizmente, não tive sequelas, mas meu irmão ficou internado por 15 dias", conta a professora. Ela apoia que o uso de máscaras volte a ser obrigatório no DF, justamente para evitar novas internações e quadros graves da doença.
O fortalecimento de medidas restritivas, como o uso obrigatório de máscaras e o isolamento social, também tem o apoio de profissionais da saúde do DF. Para a infectologista Joana D'Arc, há indícios claros de que já estamos vivendo a quarta onda da doença. "Pelo grande aumento de casos, já estamos na quarta onda. Vemos muitas autoridades fugindo de discutir essa questão, mas a população precisa ser instruída e norteada. Não podemos expor a população", alerta a médica.
Segundo ela, as diferentes mutações e o desenvolvimento de novas cepas do vírus ocorrem devido a maior circulação viral e têm contribuído para o aumento da transmissibilidade. Por isso, é preciso que as autoridades fiquem atentas às aglomerações. "Em vários países não se fala mais em lockdown, porque isso pode resultar em uma ordem incapaz de cumprir. E isso assusta a população, há muita resistência por fatores econômicos e educacionais. Mas nós temos de estar atentos às aglomerações em shows, festas, eventos, e na época eleitoral também, quanto os políticos gostam de estar perto do povo", explica a especialista.
Devido à vacinação da população, o número de pacientes internados e em UTI's ainda não está em alta. Ontem, a taxa de ocupação total de leitos de UTI para covid estava em torno de 47,2% na rede pública e cerca de 53,6% na rede privada. A infectologista lembra, porém, que muitos ainda não se vacinaram com todas as doses, o que pode trazer graves consequências para o sistema de saúde. "O Estado, o poder público, tem que ir atrás de grupos que não foram imunizados. Pessoas doentes, incapazes, e trabalhadores que não têm tempo: esses ainda não encontraram formas de tomar algumas doses pendentes. Com o aumento da cobertura vacinal, a transmissão é mais difícil", esclarece Joana D'Arc.
Procurada pelo Correio, a Secretaria de Saúde informou que "segue monitorando todos os casos de covid-19 e demais síndromes respiratórias agudas graves (SRAG)". A pasta também informou que, desde o início da pandemia, os estudos sobre a doença são encaminhados ao Governo do Distrito Federal (GDF) para que sejam tomadas as decisões de intensificação ou de relaxamento das medidas de distanciamento social. O órgão ainda ressaltou que o estoque geral do DF possui mais de 500 mil testes para covid, e que a testagem está sendo feita na Rodoviária do Plano Piloto e em Unidades Básicas de Saúde (UBS).
* Estagiário sob a supervisão
de Malcia Afonso