Olha pro céu, meu amor

"Olha pro céu, meu amor / Vê como ele está lindo"... Quanta beleza cabe em dois simples versos? Uma declaração à pessoa amada, ao firmamento, ao São-João. Brasileiro sabe mesmo desfrutar de tudo quanto é oportunidade de celebração. Passeando pelas quadras, já é possível ver as tradicionais festas tomando conta dos pátios das igrejas. E os nossos festejos são tão democráticos que o último arraiá a que me lembro de ter comparecido, antes da pandemia, foi o do Templo Budista. Entre bandeiras multicoloridas e comida típica, havia itens tradicionais da cultura nipônica.

Este ano, junho chega nos brindando com a festa que, inclusive, ganhou seu nome, mas de tão popular começa já em maio e só vai cessar perto de agosto. Foram dois longos anos sem que pudéssemos nos reunir da forma mais tradicional. Os templos inovaram, com drive-thru de comidas e shows para os espectadores sentados nos carros estacionados. Uma nova onda da covid-19 assusta e ameaça os festejos, é verdade, mas a faísca dessa fogueira permanece acesa, e nós nos adaptaremos novamente, se necessário.

Confesso que não tenho nenhuma vocação para o baião. A coordenação para a dança em geral é o que me falta. No casamento, para dançar uma simples valsa de menos de dois minutos foram vários dias de ensaio, e um frio na barriga toda vez que chegava a fatídica hora do rodopio — nada mais que uma voltinha de mãos dadas com o companheiro. Sempre cometo o maior dos erros: não me deixo ser conduzida. O corpo enrijece e nada flui. Mesmo com todas essas limitações, não consigo resistir a um arrasta-pé. Ainda mais se embalado a clássicos do gênero. Luiz Gonzaga, Dominguinhos, os talentosos do Grande Encontro.

Tive o privilégio de ver Dominguinhos tocar em Brasília, não me recordo mais o ano, mas me lembro bem do carisma e da doçura que emanava não apenas da voz e do movimento cadenciado da sanfona, mas também do olhar. Vai parecer contrassenso falar de dança e forró e dizer que a música que me vem à mente quando lembro daquela apresentação é justamente uma das mais lentas, para o momento "casais apaixonados", obrigatório do show.

"Estou de volta pro meu aconchego / Trazendo na mala bastante saudade / Querendo um sorriso sincero / Um abraço para aliviar meu cansaço / E toda essa minha vontade. / Que bom poder estar contigo de novo / Roçando teu corpo e beijando você / Pra mim tu és a estrela mais linda / Teus olhos me prendem, fascinam / A paz que eu gosto de ter."

E, assim, com um convite a uma celebração intensa e envolvida com boa música, dessas de aquecer o coração, encerro essa crônica e convido a aproveitar a jornada de arraiás, pois ela está só começando!