O senhor foi presidente num momento de crise mundial. Tudo fechado, pessoas morrendo, medo e muitas dúvidas. Como foi enfrentar a pandemia?
Do lado da mesa da presidência, tenho uma Bíblia, que em todos os momentos recorro à palavra. Mas ninguém foi eleito para passar por uma pandemia. Nós tínhamos um planejamento, aquilo que a gente pretendia fazer nos quatro anos, mas passamos metade do mandato cuidando de uma pandemia. E até hoje a gente não sabe se tem outra onda vindo. Nós acertamos, nós erramos, mas nós fomos muito propositivos. Nosso índice de aprovação de projetos no plenário aumentou muito. Mas não foi por conta da votação virtual. Foi porque o momento nos obrigava a alterar diversas legislações que, numa situação normal, jamais precisaríamos alterar, como imposto para máscara, para álcool em gel. Não precisaríamos diminuir impostos para diversas atividades para que determinados setores não morressem. Em vez de a gente trabalhar para criar novos CNPJs e gerar novos empregos, a gente se viu numa batalha para manter os CNPJs ativos, para manter os empregos. Então, foi bem complicado. Mas boa parte das atitudes que tomamos aqui foram referência para o restante do Brasil. A Câmara Legislativa foi a primeira do país a entrar com medidas restritivas, criamos auxílios, como o Prato Cheio, o Vale-Gás, o Cartão-Creche, ampliamos o Cartão Material Escolar. Trabalhamos duro para manter os terceirizados do governo. As creches estavam fechadas, mas ninguém que trabalha em creche conveniada deixou de receber o salário em dia. As merendeiras, os vigilantes, o pessoal da limpeza da mesma forma.
E o que deixou de ser feito na Câmara nesse período de pandemia, quando a população estava preocupada em sobreviver? O que estava no planejamento e ruiu?
Por exemplo, nos programas de qualificação profissional e nos programas que o governo vinha desenhando de incentivo fiscal para a gente trazer novos investimentos e novas empresas para o DF para aumentar a geração de empregos. Isso é o principal, que ficou parado. Nós tivemos uma desaceleração da economia no primeiro momento que ceifou milhares de empregos no DF. Claro que teve o impacto da saúde. Infelizmente, nós perdemos muitas vidas, mas também a tragédia econômica foi imensa. E tem muitos casos que a gente não sabe se fez certo ou se fez errado. Por exemplo, de fechar escolas, de fechar o comércio.
Esse tema acabou sendo muito politizado e virou um embate entre os que defendiam o lockdown e os favoráveis à abertura…
Aqui na Câmara a gente tentou ao máximo despolitizar esse debate. Em São Paulo, foram fazer política em cima de vacina, em cima de fecha, abre, fica em casa… Isso não deu certo, tanto é que a aprovação de quem era pretenso candidato a presidente da República não deu certo.
O senhor falou da exploração política de medidas e Doria não conseguiu ser candidato à presidência. Acredita que ele não cresceu nas pesquisas porque as pessoas não querem que a pandemia seja usada como marketing político?
Pode ser isso. Também tem o excesso de imagem, o excesso de politização em cima de um tema que é tão complexo, como a saúde pública. Tudo que se fazia ia para a frente de uma televisão, chamava uma coletiva de imprensa, para falar o que pretendia fazer e criticar o que o outro estava fazendo. Nas dificuldades, é o momento de união: unir a Câmara, unir o Poder Judiciário, unir o Poder Executivo, para discutir as matérias.
Seu nome foi cogitado para compor a chapa majoritária. Por que não foi para frente?
Tinha muita gente que tinha interesse de me ver fora de disputas de diversos cargos. Falaram que eu vinha à reeleição. Outros disseram que eu ia para o Senado ou disputar com o Ibaneis. Também que íamos formar uma chapa puro-sangue. Nunca foi meu objetivo. Acho que, na política, existe um rito e a gente precisa saber quais são os espaços oportunos num determinado momento. Minha ideia não é pular uma fase. Acho que o caminho natural, depois de assumir a Câmara Legislativa, depois de assumir a presidência, é tentar um mandato de deputado federal para poder contribuir com a cidade de forma diferente no Congresso. E depois lá na frente a gente discute outro projeto. Não me passou pela cabeça nada diferente, até porque a gente tem uma responsabilidade muito grande com a reeleição do governador Ibaneis. Uma chapa puro-sangue pode gerar um desconforto aos demais partidos que compõem a base e têm demonstrado interesse na vice-governadoria. Para o Senado, atrapalharia também porque são apenas três vagas na majoritária. Seria difícil defender duas vagas para o MDB.
Como vai ser essa negociação para vice do Ibaneis?
Nos bastidores, a conversa é grande. Agora eu vejo um carinho, um respeito muito grande do governador com o vice-governador atual, o Paco. Vejo em ações, no dia a dia. Há uma grande sintonia entre os dois. A escolha do vice é muito pessoal. Aqui, por exemplo, nas minhas duas eleições, escolhi o meu vice, que é o deputado Delmasso. Ele me ajuda muito no comando da Câmara. Não só ele como os demais membros da Mesa Diretora. Ele vai escolher quem compõe melhor, tem um discurso mais alinhado e que seja um vice-governador que seja parceiro.
Acredita que, se a Justiça liberar, Arruda será candidata ao Governo?
É difícil a gente trabalhar com suposição. Agora, creio que, pelo trabalho feito por ele no passado e pelas movimentações políticas feitas por ele agora, sem dúvida alguma — se a justiça liberar — Arruda será candidato, na minha visão. A base do Ibaneis é muito parecida com a do Arruda. Então, certamente, ela vai rachar, caso aconteça uma candidatura dos dois.
No DF, há uma tradição de governadores não se reelegerem. Acredita que vai acontecer com Ibaneis?
Se for para fazer uma avaliação mais precisa, só não foram reeleitos os governos de esquerda. O Arruda certamente seria reeleito, só que aconteceram todos aqueles problemas e o governo dele não continuou. Mas considero que o governo Ibaneis pode quebrar esse 'jejum' de reeleição no DF. Pelo menos o que as pesquisas indicam é que ele é o favorito disparado. Inclusive, com grandes chances de vencer no primeiro turno, caso siga com a configuração atual.
O que o senhor pretende fazer na Câmara dos Deputados?
Quero buscar mais recursos para investir no DF. Acho que ainda podemos melhorar muito nesse quesito. Tive uma experiência muito grande aqui na Câmara Legislativa. Fui membro da comissão de orçamento e aprendi bastante sobre o tema. Hoje, tenho uma compreensão grande daquilo que pode ser feito. Vou poder contribuir, no Congresso Nacional, para viabilizar boa parte dos recursos para a nossa cidade.
A Câmara aprovou um Refis que reduziu o valor principal da dívida. É justo com os adimplentes?
Sempre defendi que o Refis deve acontecer em momentos muito esporádicos, como acontece no Refis nacional. Enquanto estou aqui, já foram votados seis Refis — um por ano no governo Rollemberg. Sinceramente, não acredito nesses Refis. Porque, na verdade, isso é um incentivo para que os empresários não paguem o imposto da forma correta e aguardem para fazê-lo com o desconto e ainda parcelar em várias vezes. Então, é um incentivo à sonegação. Sobre o último Refis feito, vale ressaltar que era um período de pandemia, era outra motivação. Na época, diversas empresas estavam fechando, endividadas por conta da crise. Talvez, sem o período de pandemia, não teríamos feito isso. No entanto, nunca foi feito no DF, o condicionamento para que os empresários conseguissem pagar as dívidas antigas. Isso teve um sucesso muito grande. Tivemos a renegociação de mais de R$ 3 bilhões, além de colocar R$ 1 bilhão no caixa do GDF, de forma imediata.
Foi correta a privatização da CEB?
Foi a venda de uma companhia que dava prejuízo e que, além de deixar de dar prejuízo, foi negociada por R$ 2,5 bilhões. Foi um valor substancial, que será 100% investido na cidade. Claro que toda mudança tem, de imediato, impactos negativos. Mas tenho visto um esforço muito grande da Neoenergia, que já regularizou mais de 100 mil moradias no DF, por meio do projeto Energia Legal. Talvez, com uma empresa pública, a gente não teria avançado tanto. Claro que alguns ajustes precisam ser feitos, mas, de forma geral, vejo essa troca de forma positiva.
Quais são seus planos para o futuro?
Sempre me propus a me dedicar e fazer entregas. Sigo ainda com esse desejo de fazer boas entregas e contribuir com o crescimento e o desenvolvimento do DF. Não tenho apego a cargo. Não é minha profissão. Estou aqui emprestado de forma temporária da iniciativa privada, para trabalhar pela população. Acho que as coisas vão acontecendo naturalmente. Eu fiz um bom trabalho como distrital, as pessoas reconhecem isso. Apresentei aquilo que eu fiz e nós tivemos uma eleição com uma votação imensa. Vou para esse novo desafio porque considero que ainda posso contribuir muito mais com Brasília, no Congresso Nacional. Só que é a população que vai decidir se eu fiz uma boa gestão ou não. Enquanto ela tiver me apoiando, continuarei seguindo.