"Tudo suporto pelos eleitos". O texto, tirado da segunda epístola do livro de São Paulo e Timóteo, é usado por dom Paulo Cezar Costa como uma espécie de testamento espiritual, e identifica a sua vida dentro da igreja. Conhecido pela entrega e doação ao seu ministério, exercido há 30 anos, o atual arcebispo de Brasília teve mais um reconhecimento, após ser listado entre os 21 cardeais do consistório criado pelo papa Francisco, no último domingo (29/5). Nessa terça-feira (31/5), dois dias após o anúncio, durante a missa que teve como intenção sua indicação como cardeal, Paulo pediu orações pela nova missão. "Rezem para que eu continue a ser um servidor da igreja", completou.
A história de dom Paulo com a igreja católica vem do berço. Natural de Valença, no Rio de Janeiro, filho de Geraldo Manoel da Costa Amaral e Maria Alice Miranda Amaral, foi ordenado presbítero em 1992, aos 25 anos. Anos depois, em 2010, foi nomeado pelo papa Bento XVI como bispo-auxiliar da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, onde atuou em diferentes ocupações. Em 22 de junho de 2016 foi nomeado 7º bispo da Diocese de São Carlos (SP) pelo Papa Francisco, cargo que deixou em meio a pandemia, em 2019, ano em que o arcebispo chegou, de mala e cuia, para assumir a Arquidiocese de Brasília. A posse ocorreu em cerimônia restrita na Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida, em 12 de dezembro de 2020.
Professor, orientador espiritual, amigo, pastor. A extensa carreira de dom Paulo dentro da igreja justifica, por si só, o anúncio do pontífice no último domingo. Apesar disso, o arcebispo garantiu, em coletiva realizada nessa terça-feira, que a informação foi uma surpresa. "O papa Francisco pegou todos nós de surpresa, a mim também, anunciando o meu nome na lista de cardeais. É a graça de servir, e servir principalmente em Brasília", cita. Para o sacerdote, o chamado reforça, ainda mais, a importância do servir, missão que acolheu ao vir para a capital federal como arcebispo. "Quando vim para Brasília, nem sonhava em ser cardeal. Eu disse que queria servir. O posto de cardeal veio com a bondade do papa Francisco, como reconhecimento do nosso trabalho e da nossa doação. E eu pretendo continuar servindo, olhando para Jesus Cristo. Ele é o servidor por excelência", completa.
Brasília
Apesar da nova missão, dom Paulo garante que o posto como Arcebispo de Brasília não será deixado de lado. "Minha missão principal continua aqui, que é a de ser arcebispo dessa grande cidade, fazer com que a nossa igreja possa, cada vez mais, ser evangelizadora, missionária e servidora", ressaltou. Atualmente, o Vaticano tem 208 cardeais. Com a atualização, passa a 229. Os cardeais são escolhidos diretamente pelo Santo Padre para serem os assessores direto do pontífice. Para ser cardeal, é obrigatório ser bispo ou arcebispo. Aqueles que tiverem menos de 80 anos podem votar para eleger o próximo Papa. Por esse motivo, dos nove integrantes brasileiros no Colégio dos Cardeais, só seis votariam num eventual conclave, que ocorre após a renúncia ou morte de um papa. Da lista anunciada, 16 religiosos estariam aptos a votar.
Aos 54 anos, dom Paulo torna-se o cardeal mais novo entre o Colégio, posto antes ocupado por Dieudonné Nzapalainga, da República Centro-Africana, de 55. De acordo com o sacerdote, as experiências que viveu como professor, arcebispo e pároco de outras igrejas são o que devem guiá-lo na nova missão. "Eu sempre fui um pastor, trabalhei na academia, mas sempre me dediquei à vida pastoral e tive contato com o nosso povo. Então um dia após o outro, com as experiências que tenho e que ainda vou adquirir, devo trilhar esse caminho, sempre com alegria, em busca de amadurecimento", reitera.
A cerimônia oficial para os novos cardeais será dia 27 de agosto. O Consistório reúne todos os cardeais, inclusive os recém-escolhidos, para assistir o Papa em decisões administrativas e econômicas. Questionado se a passagem para Roma já foi comprada, dom Paulo riu e afirmou: "Tenho que ir preparando as coisas, mas tudo isso com calma. Papa Francisco foi generoso, e anunciou que o consistório será somente em 27 de agosto. Depois, haverá uma reunião dos cardeais. Então ainda tenho um tempinho para ver vestes, batinas, e passagem", cita. Agora, o arcebispo garante que o coração está mais calmo e ressaltou: "Interiorizei que é isso que ele quer para mim e planejo continuar olhando para frente, vivendo e buscando cada dia fazer a vontade do Senhor", relatou.
Fiéis celebram
A notícia da indicação de dom Paulo para cardeal foi bem aceita pelos fiéis do Distrito Federal. Matheus Vinicius de Oliveira, 29, é um dos colaboradores da Cúria da Arquidiocese de Brasília e também no gabinete do arcebispo. Para ele, dom Paulo é uma pessoa muito próxima dos que participam da igreja e não mede esforços para realizar o que deve ser feito pela igreja. "É alguém disposto a dialogar com todos. Essas são características que o papa Francisco deve ter levado em consideração, ele quer que os bispos estejam mais próximos do povo e das diversas realidades presentes em nossa sociedade", avalia.
Jaqueline Abrantes, 37, também foi acompanhar a primeira missa pós-nomeação ao cardinalato. Para ela, a nomeação do arcebispo é de muita importância para a Igreja da Capital. Ela também destacou a capacidade de diálogo de dom Paulo, apontando essa característica como fundamental. "É uma conquista. Ter um cardeal em Brasília é uma graça de Deus. A igreja só tem a ficar feliz e agradecer essa nomeação. Isso mostra que aqui surgem bons líderes para o Brasil. Dom Paulo tem um bom diálogo com a sociedade, com o governo, e só tem a agregar."
De acordo com o padre João Firmino Galvão Neto, 48, a indicação é um reconhecimento do trabalho que o arcebispo desenvolve, tanto no DF, como em outros locais por onde passou. "Ser cardeal é ser uma pessoa que se coloca a serviço da igreja, e dom Paulo vem manifestando isso", ressalta. De acordo com o sacerdote, o novo cardeal é muito sério no trabalho que faz. "Ele reconhece e leva os outros a ajudá-lo nesse serviço. Há um amor grande ao povo que pertence, e é uma pessoa de oração, que procura estar sempre junto nas diversas situações do povo, como também dos trabalhos que têm precisam ser desenvolvidos aqui (no DF)", pontua.
*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira