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Desafio de viver sem todas as cores

O daltonismo (discromatopsia) atinge cerca de 350 milhões de pessoas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Distúrbio de caráter hereditário não tem cura, mas há ferramentas para melhorar a vida de quem tem a condição

O mundo é repleto de vida, beleza e cores magníficas. Mas, a maneira como muitos enxergam essa realidade pode ser um pouco singular. Isso acontece em pessoas com discromatopsia, mais conhecida como daltonismo — distúrbio da visão que interfere na percepção das cores — por exemplo. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que cerca de 350 milhões de pessoas tem o distúrbio.

Segundo a oftalmologista Ana Cristina Sampaio, a principal característica da condição é a dificuldade de distinguir o vermelho e o verde, e, de maneira menos recorrente, o azul e o amarelo. "É na retina, uma das estruturas do olho, onde as imagens são formadas e, posteriormente, transmitidas ao cérebro através do nervo óptico. As células da retina, sensíveis às cores, são chamadas de cones, sendo cada uma delas sensível a um determinado espectro luminoso", explica a médica.

O daltonismo pode ser total — incapacidade de distinguir a cor — ou parcial — tem alguma percepção de tonalidades. Por ser um distúrbio hereditário, não há cura. No entanto, existem algumas formas de melhorar a qualidade de vida dos daltônicos como óculos e lentes. Geralmente a própria pessoa consegue se autodiagnosticar, sem exames laboratoriais ou de imagem.

Descoberta na família

Os irmãos gêmeos Victor e Gabriel Pacheco, 23 anos, pensavam que as cores em suas vidas não eram um problema. Mas, aos 18 anos, quando estavam prestes a tirar a carteira de motorista, os dois realizaram o teste de Ishihara — que consiste em acertar o número dentro de um círculo colorido. Na ocasião, o médico informou que eles que eram daltônicos. "Na escola, o pensamento sempre esteve voltado para alguma dificuldade em matérias que exigiam essa identificação de cores", destaca Victor. Gabriel detalha que os tons avermelhados, como vinho e marrom, são os menos visíveis. Ambos garantem que a condição não os prejudicam nas atividades do cotidiano.

Em crianças, o oftalmopediatra Tiago Ribeiro, explica que, na maioria dos casos, a distinção de cores é feita a partir do primeiro ano de vida. Entretanto, a identificação de cada tonalidade ocorre próximo aos 3 anos. É nessa fase que o especialista orienta mais atenção dos pais. "Na hora de comprar roupas, é importante ensiná-los a distinguir as cores. É interessante, nos lápis de cor e nessas vestimentas, que estejam o nome da cor por escrito marcado", aconselha o médico.

O servidor público Guilherme Bueno Ribeiro, 41, é pai de Bernardo, 9. O morador da Octogonal descobriu que o filho tem daltonismo quando o menino estava no primeiro ano do ensino fundamental. Uma professora da escola suspeitou e avisou a família. "Ele havia confundido as cores de uma pipa que tinha tons de vermelho e verde escuros. Levamos a uma médica, que confirmou, após alguns testes, a condição dele", detalha.

Guilherme lembra que Bernardo tinha vergonha. Depois de um árduo processo e de conhecer outros daltônicos, o menino passou a entender o distúrbio. As principais dificuldades do garoto estão vinculadas aos tons mais escuros de verde e vermelho. O pai conta que, hoje, o filho até ri da condição em algumas ocasiões.

Em 1995, aos 12 anos, o professor de inglês Alisson Cândido, hoje, com 39, descobriu que era daltônico. Em 2021, ganhou de um ex-aluno um par de óculos diretamente dos Estados Unidos, que ameniza o distúrbio visual. "É como se fosse um filtro do instagram, que deixa a cor mais intensa. Eu vejo elas em um nível mais pastel", descreve.

*Estagiário sob a supervisão de Guilherme Marinho