Em 2014, durante a Copa do Mundo de futebol no Brasil, peguei dengue. Não saberia dizer precisamente onde fui picado pelo Aedes aegypti, mas desconfio que teria sido nas investidas em terrenos baldios do condomínio onde moro. Cresci em uma casa que era quase uma chácara, com uma infinidade de fruteiras: mangueiras, jambeiros, cajueiros, pitangueiras e abacateiros.
Sempre gostei de apanhar frutas nas árvores. É muito diferente de comprar no supermercado. Parece uma dádiva. Além disso, gosto de andar pelo cerrado. Mas, depois que peguei dengue, nunca mais enveredei pelos terrenos baldios.
Lia ou assistia a reportagens com a informação de que o ciclo da doença era de, no máximo, 10 dias. No entanto, constatei que essa era uma meia-verdade.
De repente, acordei com a cabeça pesada, as articulações doloridas, as pernas com toneladas e um gosto de chumbo na boca. Não quero me jactar, mas meu pai era pastor presbiteriano, fui criado dentro da ética protestante do trabalho. Quando bateu o desalento da doença, resisti. Embora com mal-estar, dificuldade de locomoção e de articulação do pensamento, continuei a trabalhar normalmente.
No quinto dia de incômodo, concordei em ir até um posto, fiz o exame e foi confirmada a dengue. Permaneci por mais três dias, mas a recuperação não se deu como rezam os manuais médicos. Sim, porque escrevo todos os dias e preciso estar com a energia alta.
E, neste sentido, só me recuperei plenamente cerca de um ano depois de ser acometido pela doença. Alertei um colega de redação, que também tinha sido pego pela dengue, e ele me disse, recentemente, que os índices do exame de sangue só voltaram à normalidade após um ano.
Claro que cada um reage de uma maneira, e isso não pode ser generalizado. Mas, agora, existem outras doenças associadas ao Aedes, que também são terríveis: a zika e a chicungunha.
Mesmo fora do período das chuvas, a ameaça voltou a pairar sobre a cidade. Bem, sabemos que é difícil combater a dengue. Envolve questões de saúde e de educação. Mas ela já está no calendário e não é enfrentada. Quando chega, é um Deus nos acuda de soluções improvisadas.
Está certo que a crise da covid-19 demandou muitos esforços. No entanto, parece que a dengue ficou em segundo plano. Por isso, o DF apareceu no topo do ranking de contaminações pelo Aedes aegypti. Claro que nenhum governo pode resolver o problema sozinho.
É preciso promover campanhas de conscientização dos cidadãos, aumentar o número de fiscais e prover os servidores dos instrumentos necessários ao combate do mosquito. Diferentemente do que aconteceu com a covid-19, o Aedes não é uma novidade. É uma doença que pode levar à morte. Falta uma política pública para o combate à dengue no DF.
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