ENTREVISTA / Fábio Félix, deputado distrital (PSol)

"Falta priorizar a saúde"

Ao CB.Poder, parlamentar cobra do GDF mais diálogo com profissionais que atuam nos hospitais. Também discute a questão dos direitos das mulheres e dos adolescentes. A sociedade precisa debater sobre o aborto, por exemplo

Lorena Rodrigues*
postado em 28/06/2022 00:01
 (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

O CB.Poder — parceria do Correio com a TV Brasília — teve, ontem, a participação do deputado distrital Fábio Felix (PSol). Em entrevista ao jornalista Lucas Móbille, o presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) falou sobre a questão dos direitos das mulheres, crianças e adolescentes, e das tentativas de criminalizar o aborto legal, além das eleições de 2022.

A questão da saúde pública no Distrito Federal é um problema que vem se arrastando há anos, qual a sua opinião sobre
a atual situação?

Falta contratação, falta priorização da saúde e cuidados com nossos servidores e servidoras, além do acompanhamento. Falta "ouvir a ponta" (os profissionais). Todo secretário novo que chega não escuta os servidores, nem a área técnica, falta escutar quem realmente entende e pode fazer a saúde, de fato, funcionar.

Falando das eleições de 2022 e a pré-candidatura de Keka Bagno. Como foi esse processo?

Em 11 de junho nós lançamos essa pré-candidatura a deputado distrital pelo PSol. A gente está muito animado, porque em 2019 chegamos a Câmara Legislativa com um mandato de renovação, independência, oposição firme ao governo do Distrito Federal, muito comprometido com as pautas de direitos humanos e direitos sociais, sempre dialogando diretamente com a população da cidade e apesar das dificuldades, resistimos e estamos com a pré-candidatura firme. Excepcionalmente neste ano, o PSol não vai apresentar uma pré-candidatura à Presidência da República e vai apoiar o ex-presidente Lula. Aqui no Distrito Federal nós apresentamos a pré-candidatura da Keka Bagno, a primeira mulher negra a concorrer ao governo do Distrito Federal. A gente está apostando muito na campanha de Keka Bagno.

Qual a opinião do senhor em relação aos estupros que estão acontecendo e as tentativas de criminalizar o aborto legal?

Eu sou presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Câmara Legislativa do Distrito Federal e esse é um tema muito urgente. A discussão do aborto é um tema que a sociedade não tem procurado fazer e essa questão precisa ser debatida em conjunto, porque quando falamos sobre aborto, estamos falando necessariamente sobre uma questão de saúde pública. As mulheres que possuem mais condição e querem abortar, podem proporcionar esse aborto pagando clínicas, mas as mulheres pobres são aquelas que ficam mais vulneráveis. Quando falamos da questão do aborto, também estamos falando do controle sobre os corpos das mulheres, onde elas não têm autonomia sobre seu próprio corpo e sua história. Estamos falando de dois casos emblemáticos muito graves, um que a juíza tentou estimular aquela criança a esperar a gestação e isso é lamentável pois fere o direito à infância. O outro caso recente de estupro  prova que os direitos das mulheres não são respeitados. É um sistema que vai contra as mulheres. Queremos debater o aborto como uma questão de saúde pública e também direito da mulher.

O senhor fez uma publicação recentemente no Twitter trazendo um número alarmante de 36 mil crianças que tiveram a infância perdida só no ano passado, certo?

Exatamente, a questão da infância e da adolescência é urgente. Políticas públicas nessa área são fundamentais. As crianças e os adolescentes também precisam ser ouvidos e reconhecidos como indivíduos que também possuem direitos. Sou um defensor de que a gente precisa falar sobre sexualidade na escola desde a infância, obviamente com metodologias adequadas para cada faixa etária, porque isso é ,inclusive, um instrumento para que a criança e o adolescente se proteja de abusos e violações sexuais, sabendo o que é carinho e o que é violência. Isso precisa ser discutido por meio de políticas públicas.

O que o senhor está achando das escolas militarizadas? Como enxerga essa gestão compartilhada da educação com a Polícia Militar?

Eu sou muito crítico desde o início desse projeto de militarização das escolas, porque acredito que quem tem que cuidar de escola é professor e professora, que têm capacitação técnica para isso. O projeto, até para quem é favorável, é uma fraude, levando em consideração aquilo que foi apresentado pelo governo do DF em 2019 e não foi cumprido. É uma metodologia que tem se mostrado autoritária e insuficiente, do ponto de vista da diversidade e do ponto de vista pedagógico.

*Estagiária sob a supervisão
de José Carlos Vieira

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