Violência contra a mulher /

Em menos de 24 horas, quatro mulheres foram agredidas pelos companheiros

Só no primeiro semestre deste ano já são mais de 3,9 mil casos registrados no DF, segundo a SSP. No mesmo período do ano passado, foram 4,1 mil notificações. Para especialista, Justiça falha em oferecer a medida protetiva prevista na Lei Maria da Penha

Ana Luisa AraujoDarcianne Diogo
postado em 25/06/2022 06:00
 (crédito:  Editoria de arte/CB/D.A Press)
(crédito: Editoria de arte/CB/D.A Press)

Ao menos quatro mulheres foram agredidas pelos companheiros no Distrito Federal e entraram para a revoltante estatística de violência doméstica, em menos de 24 horas. Já são mais de 3,9 mil casos registrados só no primeiro semestre deste ano, segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF). No mesmo período do ano passado, foram 4,1 mil notificações.

Ontem, um foragido do Complexo Penitenciário da Papuda esfaqueou a esposa, uma jovem de 24 anos, e o ex-marido dela, de 37 anos, em uma distribuidora de bebidas, em Ceilândia. Guilherme Júnio Amara da Silva, 29, foi preso em flagrante por policiais penais e civis.

  • Foragido do saidão, Guilherme atacou a esposa e um ex dela Material Cedido ao Correio

Sentenciado a mais de nove anos de prisão por cometer duas tentativas de homicídio, em 2015 e 2019, Guilherme cumpria pena em regime semiaberto no Centro de Progressão Penitenciária (CPP), mas fugiu da unidade ao não retornar da saída temporária — o saidão — do Dia das Mães, em maio. Na noite de quinta-feira, a mulher do acusado saiu de casa, em Ceilândia, para ir a uma festa na casa da irmã do ex-marido, com quem tem uma bebê de 7 meses. Em depoimento, a jovem disse que, na madrugada de quinta-feira, por volta das 4h, saiu com o rapaz para comprar bebidas em uma distribuidora do Sol Nascente.

Ao chegarem no estabelecimento, a jovem e o ex foram surpreendidos por Guilherme, que foi em direção à mulher e desferiu vários chutes e socos. Para defender a jovem, o rapaz entrou na frente dela, mas acabou sendo atingido com duas facadas, no tórax e no braço direito. "Já que você quer defendê-la, você vai tomar por ela", teria dito Guilherme antes de esfaquear a vítima. A jovem também teve a mão lesionada.

Fuga

Após o crime, o acusado sentou-se em uma cadeira de bar, começou a beber cerveja e só saiu quando equipes do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) chegaram para prestar os primeiros socorros à vítima. O homem chegou a ficar com o intestino exposto e está internado em estado grave no Hospital Regional de Ceilândia (HRC).

Com um mandado de prisão expedido por fuga da cadeia, policiais penais e civis localizaram Guilherme após receberem uma denúncia anônima. O homem tentou escapar pulando pelo telhado, mas acabou detido. Guilherme responderá pelas tentativas de feminicídio e homicídio.

Agressão

Na quinta-feira, o DF registrou mais uma ocorrência de violência contra a mulher. A vítima, de 40 anos, deu entrada no Hospital de Base na companhia do marido, um médico, apresentando lesões graves na boca e com os dentes quebrados. Profissionais de saúde perceberam que o esposo também tinha um ferimento na mão e desconfiaram que a paciente havia sofrido agressão.

A mulher relatou à Polícia Civil que havia se machucado em um acidente de trânsito na garagem do prédio onde mora, no Noroeste. A corporação constatou, porém, que se tratava de um caso de violência doméstica e registrou o fato como lesão corporal na Lei Maria da Penha. Um inquérito foi instaurado na Deam 1 da Asa Sul. Agora, os investigadores vão ouvir os depoimentos de testemunhas, da vítima e do suposto autor.

Também ontem, um homem, de 43 anos, foi preso por policiais militares após dar uma facada no ombro da companheira, 43, na Vila Planalto. A vítima foi encontrada na residência desacordada e recebeu os primeiros socorros do Corpo de Bombeiros (CBM-DF) até a chegada ao Hospital de Base. O agressor foi levado à delegacia e responderá pela Lei Maria da Penha, podendo pegar de três meses a três anos de prisão.

Judiciário

A Justiça brasileira, na análise da professora de antropologia da Universidade de Brasília (UnB) Lia Zanotta, falha em oferecer a medida protetiva prevista pela Lei Maria da Penha. Muitas vezes, em casos de violência doméstica, alega-se conflito patrimonial, e quando a briga é enquadrada nesse termo não se aplica a lei. No entanto, na visão da especialista em violência contra a mulher, quando um marido bate, agride e ameaça jamais poderia ser considerado conflito patrimonial.

Além dessa razão, Lia afirma que a Justiça também erra quando não enquadra violência doméstica como de gênero. "Toda violência doméstica é o sentimento de posse que um homem tem para com uma mulher, e a Lei Maria da Penha serve para atuar exatamente nesse tipo de caso, mas não é assim que tem ocorrido", pondera.

Segundo a especialista, não se oferecem medidas protetivas a uma mulher que é casada e sofre violência verbal, ameaças e empurrões, mas que tem emprego, uma vez que esta não estaria em situação vulnerável, podendo sair de casa. "Estou absolutamente preocupada, porque o grande elemento da Lei Maria da Penha, que são as medidas de proteção, não tem sido respeitado", afirma.

 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação