Uma técnica de enfermagem da Unidade Básica de Saúde (UBS) 9 de Ceilândia, no P Sul, foi agredida, anteontem, com socos e chutes por uma paciente. A vítima, Débora Evelin, 35 anos, conta que estava trabalhando quando ouviu gritos na recepção da unidade e saiu para ajudar. Ao chegar no corredor, inferiu que se tratava de um surto psicótico e tentou conversar com a paciente de forma calma e perguntou do que ela precisava. Agitada, a mulher afirmou que queria trocar a receita do remédio. Porém, Débora informou que somente um médico poderia fazer o procedimento e, naquele momento, não havia profissional no local.
Com a resposta, a paciente ficou mais nervosa e desferiu um soco na técnica de enfermagem, seguido de chutes nas costas da servidora. Assustada e com dores, a servidora desabafou: "Os pacientes precisam entender que não é nossa culpa, nós trabalhamos demais e nos esforçamos, a falta de médico não é um problema da nossa alçada".
A profissional revelou que, há três anos, a UBS sofre com o déficit de médicos e, com isso, alguns pacientes se exaltam. A equipe chegou a ser composta por seis médicos, mas, com o tempo, apenas uma médica permaneceu. No dia da agressão, a profissional estava de férias. "Todos os órgãos competentes estão cientes disso. Não temos médicos nessa unidade, o último que saiu foi em razão de uma agressão verbal que sofreu", expõe a técnica.
Carlos Anderson, técnico de laboratório que trabalha na UBS, afirma que a Secretaria de Saúde precisa se posicionar e esclarecer à comunidade que a falta de médicos não é culpa dos profissionais. "Até agora, não houve, do governo, nenhuma explicação para intermediar a situação e explicar para a comunidade porque as coisas estão assim", critica.
No mesmo dia em que aconteceu a agressão, os servidores da unidade prepararam um lanche para as mães da comunidade, sem saber do que ocorreria mais tarde. "A gente se esforça, faz as ações com dinheiro do próprio bolso e ainda é tratado dessa maneira", afirma a enfermeira Graziele Teixeira, integrante da mesma equipe de Débora.
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Maria das Graças, 73 anos, geralmente é atendida na unidade e afirma que os problemas não mudam: falta de remédio e ausência de médicos. No entanto, ela garante que a equipe sempre foi dedicada. Mesmo assim, quando a aposentada precisa fazer um exame ou receber atendimento mais complexo, ela costuma procurar a defensoria pública. "Tomo oito tipos de remédios e, praticamente, nenhum deles consigo aqui. Às vezes, o sinvastatina, quando tem", relata.
Ontem, os servidores da unidade estiveram em reunião para tratar do caso e definir os procedimentos daqui em diante. Procurada, a Secretaria de Saúde não respondeu aos questionamentos do Correio.
Jorge Henrique, presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Distrito Federal (SindEnfermeiro-DF), afirma que falta, por parte da Secretaria de Saúde (SES-DF), fazer o acolhimento de quem sofreu a violência a fim de entender os motivos que levaram um paciente ou até mesmo um agente público a praticar violência. "É preciso que a gestão crie canais de comunicação diretos com os servidores, que são violentados e sofrem agressões, para que a Secretaria de Saúde identifique e tome medidas para impedir que novos casos aconteçam", diz.
Com mais de 10 anos de experiência no servidor público, ele não acredita que seja comum a população agredindo servidores públicos. "Para o sindicato, a violência se expressa por conta da desorganização da rede assistencial da Secretaria de Saúde", analisa. Ele também aponta que, cada vez mais, a estratégia de saúde da família está sendo responsabilizada por atender emergências e urgências, o que leva à superlotação. Na UBS em que Débora Evelin foi agredida, estima-se a cobertura de toda área do P.Sul e um atendimento médio diário de 700 a 800 pessoas.
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