A bagunça da pandemia

Severino Francisco
postado em 22/06/2022 00:01

Estamos sofrendo na pele as consequências da política de acabar com a covid-19 por decreto, mas sem combinar com o vírus. A desmobilização dos cuidados essenciais da máscara, do álcool em gel e do distanciamento social resultou em um índice de contaminação que permanece, há mais de 40 dias, acima de 1, patamar estabelecido pela OMS como sinal de alerta da perda de controle da pandemia.

A última aferição geral do DF indicou 1,62, isso significa que cada 100 pessoas podem contaminar outras 162. Os hospitais estão lotados. É exatamente a sensação de perda de controle o que a gente tem no cotidiano. Em todos lugares, reina a bagunça, gente com máscara, gente sem máscara, sinfonias de tosse.

Em um supermercado, muito cuidadoso em outros tempos, tentei pegar um carrinho de compras, mas desisti no meio caminho, pois não havia nenhum recipiente de álcool em gel para higienizar o equipamento antes de usá-lo. A dona de um quiosque reclamou que chega gente sem máscara, confessando que está com covid-19.

E o que dizer da situação da contaminação nas escolas? Não existe qualquer controle diário sobre o número de contaminações. As crianças estão expostas ao vírus porque algumas usam máscaras e, outras, não. Se o cenário é de tranquilidade por que não são divulgadas as pesquisas, diárias, sobre o contágio nas escolas?

É muito difícil instituir o uso de máscara durante muito tempo. Com os cuidados da proteção, havia se tornado viável manter as atividades presenciais. Depois de muito esforço, associada ao avanço da vacinação, apesar de toda a campanha negacionista, a pandemia arrefeceu. Em vez de estimular as medidas de proteção, as excelências resolveram antecipar, por decreto, o fim da pandemia, e jogaram todo esse investimento pela janela.

Com o índice de contaminação batendo 1,62, é preciso ampliar o acesso à vacinação. No Plano Piloto, só existem dois pontos: a Rodoviária e a unidade da L-2 Sul. É urgente organizar um mutirão para aplicar o imunizante nas crianças, nos professores e nos funcionários nas escolas. A dose de reforço só está liberada para os professores que têm mais de 40 anos. Mas, por quê são excluídos, se eles são considerados integrantes do grupo de atividades essenciais?

Alega-se que, com a vacinação, os sintomas da covid-19 são leves. Não é bem assim, o transtorno é grande, as pessoas ficam impedidas de trabalhar presencialmente. Além disso, as sequelas dessa doença são imprevisíveis. Uma colega está com dificuldade de respirar. Quanto mais fingirmos que a pandemia acabou, sem que ela tenha sido efetivamente superada, mais tempo despenderemos para vencer essa doença traiçoeira.

Com essa farra de desproteção, podem surgir novas variantes muito mais letais, alertam os cientistas. É insustentável manter medidas inviáveis para o novo cenário que vivemos. Deixar à mercê do livre arbítrio de cada um a decisão de tomar vacina ou de usar equipamentos de proteção para uma doença coletiva é um ato de irresponsabilidade. Não é democracia; é demagogia.

Se eu sei que existe uma doença grave solta no ar, jamais diria a um filho, a um neto, a um amigo ou a qualquer cidadão: "Use a máscara se você quiser, é uma questão de liberdade de expressão".

Eu digo: "Use a máscara porque você corre perigo, proteja-se e proteja aos que você ama". Quanto os governantes adiarem o enfrentamento da crise, quanto mais demorarem a cumprir o ciclo da vacinação, mais difícil será vencer essa doença e mais riscos correremos de ela se tornar ainda mais perigosa.

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