O painel de registro das mortes em casa no Distrito Federal variou em padrões diferentes nos meses de maio dos últimos anos, a depender das causas. Os óbitos em domicílio por AVC, pneumonia e insuficiência respiratória cresceram, enquanto houve redução dos falecimentos em residências por covid-19, infarto e septicemia (infecção generalizada). Os dados são do Portal da Transparência do Registro Civil.
Apesar da queda nos registros de algumas causas que tiraram a vida de brasilienses na própria casa, as mortes não podem ser reduzidas a meros números. "Até hoje é muito doloroso. Continuar a morar no mesmo lugar traz à tona as memórias." O relato de Adriana*, 38 anos, sobre o falecimento do pai, Marcos*, 79, na casa em que moravam juntos, é permeado de lembranças de pavor e desespero.
Há um ano, enquanto assistiam à tevê, o idoso começou a passar mal e faleceu de infarto. "Até então, estava tudo bem. De repente, a cor da pele dele mudou e ele ficou fraco. Foi quando me bateu um desespero. Estava só em casa", relembra a moradora da Asa Norte. "Comecei a fazer manobras de primeiros socorros e liguei para o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e eles foram me instruindo até que chegassem à minha casa", relata Adriana.
Doenças crônicas
Para Imara Schettert, médica de terapia intensiva do Hospital Santa Marta, a causa comum entre as mortes em casa, independentemente do movimento de aumento ou queda, está na falta de acompanhamento e controle de doenças crônicas, como diabetes, hipertensão, sedentarismo e tabagismo. "Instituir o tratamento o mais breve possível para controlar a infecção no início melhora os resultados em relação à sepse, pneumonia e insuficiência respiratória. Esta última pode ser causada pelo tratamento tardio da pneumonia", aponta.
Analisando as causas que apresentaram crescimento, a médica destaca que a pandemia da covid-19 pode ter relação, "se o paciente tiver mudado o estilo de vida em decorrência do isolamento, ou por medo de ir a hospitais, descuidando das doenças de base", observa Imara. "A queda dos óbitos por covid-19 em domicílio, assim como em hospitais, parece ser uma tendência global", completa.
O pneumologista João Daniel Rego concorda com Imara no que tange a relação com a pandemia. "A não procura do hospital por receio de contaminação por covid-19, associada à impossibilidade de vagas para atender à população, podem justificar esse aumento", acrescenta o médico.
*Nomes fictícios
Colaborou Júlia Eleutério
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