Fogo

Incêndios aumentam 115% no DF, nos últimos dois meses

Dados de maio, prévios à chegada do frio, apontam um crescimento quase seis vezes maior nas ocorrências do tipo e de 485% de áreas consumidas

Pedro Marra
Paulo Martins*
postado em 19/06/2022 06:00 / atualizado em 19/06/2022 07:24
Ventos fortes e seca são combustíveis ideais para a proliferação das queimadas durante a estação -  (crédito: ED ALVES/CB/D.A Press)
Ventos fortes e seca são combustíveis ideais para a proliferação das queimadas durante a estação - (crédito: ED ALVES/CB/D.A Press)

A chegada do inverno tem relação direta com o aumento das queimadas: fatores como a baixa umidade e o vento, além de propiciar a combustão espontânea de áreas do cerrado, anualmente, deixando a vegetação muito seca, têm contribuindo para a propagação do fogo. Dados do Grupamento de Proteção Ambiental (GPRAM), do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF), mostram que, nos últimos dois meses, houve aumento de 115% nos acionamentos para as ocorrências do tipo. No mesmo período, as áreas queimadas aumentaram 485%, quase seis vezes mais: de 76,5 para 448,1 hectares.

O meteorologista Mamedes Melo, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), explica que a secura típica do inverno não é tão forte como a brasiliense. Mas, nos últimos meses da estação (agosto e setembro), a baixa umidade do ar se intensifica pelo clima da capital, o que deve repetir as mesmas taxas do ano passado, podendo chegar a 30%. "Espera-se índices bem baixos toda vez que entra uma massa de ar polar na região, o que é uma característica dessa estação", explica.

Além do fator da seca, a intensidade dos ventos também é uma marca própria do inverno. "Após a passagem de ar polar, a ventania costuma passar mais forte, sobretudo com algumas rajadas no início da manhã, mas diminuindo ao longo do dia. A soma dos ventos com a seca é certeira para as queimadas quando esse período seco se prolonga, diferentemente de como é o caso de agora", alerta o especialista.

De acordo com o Inmet, a última chuva registrada no Distrito Federal caiu na última segunda-feira. Nesse cenário, os efeitos que os incêndios florestais podem trazer à saúde também são uma preocupação necessária. O cardiologista Diogo Kalil aponta alguns públicos que podem sofrer com esse evento anual, sendo pessoas com crise de asma, principalmente crianças e idosos, ou com infecções respiratórias, como pneumonia, as mais suscetíveis.

"Pode-se tornar um problema a longo prazo em caso de exposição à fumaça. Para um bombeiro, a intoxicação traz um quadro forte com tontura, falta de ar, náusea e vômito. Tem que tomar cuidado com o tempo que se fica exposto, pois pode-se desenvolver enfisema pulmonar com a recorrência dessa exposição, tal e qual o efeito do cigarro", explica Kalil.

Cuidados com o corpo

Para lidar com situações dessa natureza, o médico dá dicas de como manter cuidados com a respiração. Para ele, é recomendável se hidratar bem, usar soro fisiológico no nariz e manter hidratada as vias aéreas. "Umidificar a casa com umidificador ou toalha molhada, ou fazer nebulização em pessoas mais suscetíveis, e, na medida do possível, deve-se evitar áreas que podem ser de queimada, como no cerrado ou parques abertos, além de evitar exposição ao sol sempre que possível", indica o cardiologista.

Para tais situações, o conhecimento da área consumida pelo fogo é de fundamental importância para saber dar sequência ao combate, como explica o major Marcelino, do Corpo de Bombeiros Militar do DF. Ele explica que considera os fatores geográficos para ver o movimento que o fogo pode tomar. "Avaliamos fatores como dano potencial e relevo, para conferir essa avaliação e, em seguida, ir para a parte operacional, tanto que, em ocorrências complexas, precisamos lidar com um estudo melhor", contextualiza.

O militar conta ainda que o contingente é reforçado em tempos comuns para incêndios florestais, como o inverno no cerrado. "Temos, no mínimo, 25 grupamentos para atender as demandas no DF, além de um contingente extra para esse tipo de situação, sem desabastecer as cidades, à medida em que as queimadas ficam mais recorrentes, especialmente entre agosto e setembro", detalha.

Com a chegada do inverno, em 21 de junho, a previsão do tempo do Inmet é da média da umidade mínima do ar entre 20% e 25%. Os sinais dessa época do ano mostram a vegetação seca, resultado também de altas temperaturas, de até 30ºC. O meteorologista Heráclio Alves explica que a estação resulta em frio pela manhã, com marcadores entre 8ºC e 10ºC, mas com aumento durante o dia. "Nos próximos dias, a umidade vai continuar baixa, com aumento da temperatura", adianta.

 

*Estagiário sob a supervisão
de José Carlos Vieira

2022

Janeiro: 37

Fevereiro: 34

Março: 118

Abril: 178

Maio: 383 (alta de 115%)

2021

Janeiro: 219

Fevereiro: 27

Março: 224

Abril: 215

Maio: 702 (alta de 226%)

2020

Janeiro: 15

Fevereiro: 2

Março: 10

Abril: 1

Maio: 24 (alta de 2.300%)

Área queimada (por hectares)

2022

Janeiro: 21,5 hectares

Fevereiro: 4,4 hectares

Março: 82,4 hectares

Abril: 76,5 hectares

Maio: 448,1 hectares (alta de 485,2%)

2021

Janeiro: 52 hectares

Fevereiro: 1 hectare

Março: 61 hectares

Abril: 55 hectares

Maio: 308 hectares (alta de 460%)

2020

Janeiro: 17,9 hectares

Fevereiro: 2,4 hectares

Março: 8,2 hectares

Abril: 15 hectares

Maio: 14,9 hectares (queda de 0,6%)

Fonte: Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF)

 

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