Depois de dez anos, o Distrito Federal tem um levantamento estatístico sobre sua população de rua. Estima-se que 2.938 pessoas vivem nessa condição, sendo 244 crianças ou adolescentes. Os dados são de pesquisa da Companhia de Planejamento (Codeplan) divulgada ontem. O levantamento foi feito em fevereiro, em todas as regiões administrativas do DF. Do total, 1.767 pessoas foram entrevistadas. Outras 927 não responderam o questionário e foram classificadas pelas equipes de coleta. As demais são do grupo de crianças e adolescentes. Dos entrevistados, a grande maioria se autodeclarou de cor parda ou preta.
Roberto Cosme, 39 anos, está na rua há mais de uma década, assim como outros 29,2% dos entrevistados pelo órgão. Morando com a companheira Cássia Rodrigues, 41 anos, ele conta que passou a viver assim após o falecimento da mãe e do avô. "Eu vim parar na rua. Vivo do jeito que dá", comenta.
Outros 38,2% da população em vulnerabilidade social afirmaram que estão nessa situação desde o início da pandemia, há cerca de dois anos. O presidente da Codeplan, Jean Lima, destacou que a pesquisa tem o intuito de dar visibilidade a essas pessoas. "É importante conhecer o perfil dessa população para que os gestores possam, enfim, pensar políticas públicas na área de segurança, na área da assistência social, na área da Secretaria de Justiça e de Direitos Humanos", ressaltou.
Medo
De acordo com o levantamento, 40,7% dos entrevistados disseram sentir medo e insegurança por viverem na rua e 17,4% relataram sofrer violência física. "A gente percebeu na pesquisa que a principal questão das pessoas é o medo de serem violentadas, medo de qualquer tipo de violência, então é uma população muito vulnerável", explicou Lima.
Almoçando no barraco em que vive, Roberto teme pela própria vida. "Medo de morrer queimado dormindo, de uma covardia, de um amigo me matar na rua. O que mais tem é briga, por causa do álcool e das drogas que deixam alterados", confidencia.
Outro ponto da pesquisa indica que quase metade dos entrevistados têm entre 31 e 49 anos (47,2%), como é o caso de Roberto. "Do ponto de vista demográfico, é a idade mais produtiva da pessoa, está no auge profissional. Então, é preocupante esse cenário", destacou Lima.
Também morando nas ruas da capital, Ornei dos Santos, 60 anos, não lembra há quanto tempo está em Brasília. "Eu bebi e a cachaça me derrubou. Fico sozinho aqui", disse o idoso. Ele já viveu em Recife, trabalhava na construção civil e afirma que não teme morrer nas ruas. "Medo de quê? Eu não tenho medo não", garante.
Próximo passo
O próximo passo da Codeplan é entregar a parte qualitativa da pesquisa no segundo semestre. "Vai destrinchar mais as questões sobre as razões pelas quais as pessoas estão na rua, sobre as violências que elas sofrem. A gente vai entender um pouco do ponto de vista qualitativo", adiantou o presidente do órgão. Segundo ele, a companhia junto ao governo local estuda a periodicidade desse estudo. "Não dá pra ficar dez anos de novo sem fazer a pesquisa. A gente não tem ainda a periodicidade, se vai ser bianual ou quadrianual. Importante é que, a partir desse estudo, a gente vai ter referência, vai poder desdobrar em outros estudos", concluiu Lima.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.