"Cansada e revoltada" — esse é o sentimento que, há mais de um mês, paira sobre a vida de Luciane Rodrigues, 41 anos, mãe do adolescente Pedro Miguel Rodrigues Cardoso, 15, atingido na cabeça por uma árvore de cerca de 20 metros, no Dia das Mães, no Parque da Cidade. O menino sofreu uma parada cardiorrespiratória e está internado na unidade de terapia intensiva (UTI), desde então.
Grávida de quatro meses do terceiro filho, Luciane conta que está esperando o quadro de saúde de Pedro melhorar, para ter tempo de procurar a Justiça. Ela vai acionar o Governo do Distrito Federal (GDF) para que se responsabilize pelos danos físicos, emocionais e materiais causados ao adolescente e à família. Enquanto espera, está reunindo provas.
A mãe considera que é revoltante ver o primogênito, que era saudável, na atual situação. "Ele não fazia uso de qualquer tipo de medicação e, agora, em cima daquela cama, pedindo pra coçar o nariz, coçar a bochecha, falando que está com dor, sem sequer virar o pescoço", relata. Pedro está na UTI em estado grave. Com dores no crânio, no pescoço e nos pulmões, enquanto faz os exercícios respiratórios, o adolescente respira por meio de aparelhos e não consegue realizar movimentos do pescoço para baixo.
Apesar de tudo, Luciane revela que está confiante e feliz com os avanços do filho. "Ele voltou à consciência e está reconhecendo todo mundo, entendendo tudo", conta. Além disso, agora, Pedro consegue mexer os lábios e se comunica com a mãe por leitura labial. "Ele usa os olhos para escolher as letras em uma plaquinha e a gente vai formando as palavras. Com o treinamento com a fonoaudiologia, ele começou a usar a boca para poder fazer o movimento dos lábios para formar as palavras."
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No entanto, a mãe afirma que o sofrimento da família ainda é grande. "Todos os dias, quando eu chego para poder trocar o plantão com meu marido, que eu olhei ele em cima da cama, já vem a vontade de chorar. Eu penso que ele está aqui, ainda, porque eu sei que vai sair com a graça de Deus, mas ainda está dessa forma e, aí, vem o cansaço físico, o desgaste emocional. Então, é uma mistura, a dor é imensa", lamenta.
Emocionada, Luciana diz que a dor não é apenas pela situação do filho, uma vez que ela tem fé na recuperação do garoto, mas pela revolta de um acidente que não deveria ter ocorrido. "Isso só aconteceu por causa da negligência e pela omissão de pessoas que deveriam estar cuidando da segurança de outras pessoas, porque é para isso que nós temos uma gestão", aponta. A revolta também é pela falta de amparo e auxílio das autoridades. "A gente tem plano de saúde, então, graças a Deus, ele está sendo bem cuidado. Mas o poder público, em momento algum, nos deu apoio. Até hoje, por mais entrevistas que a gente dê, por mais que a gente fale, eles continuam inertes", denuncia.
Descaso
Após o acidente, uma reportagem do Correio denunciou o descaso com o Parque da Cidade, local inaugurado em 11 de outubro de 1978 e que hoje sofre as consequências da falta de manutenção. Para além dos banheiros fechados e da depredação da infraestrutura, o espaço de 420 hectares expõe os quase 51 mil visitantes semanais a diferentes riscos.
Criada para cuidar e zelar da maior área verde urbana da América Latina, a Associação Amigos do Parque da Cidade existe desde 1988. O presidente, Carlos Valadares, 64, contou que assiste ao mesmo filme de descuido há anos. "Entra governo e sai governo, mas a situação não muda. Os Amigos do Parque da Cidade acompanham esse descaso com o maior espaço de lazer do brasiliense, protestam, defendem o local", reforçou.
Questionado sobre a falta de apoio e auxílio que a família de Pedro Miguel está sofrendo, o GDF limitou-se a responder, em nota, por meio da Procuradoria-Geral do DF (PGDF), que "o Distrito Federal não foi acionado a respeito de processo referente a requerimento de indenização".
Força e fé
Até o momento, Pedro Miguel já passou por duas cirurgias. A primeira foi no dia do acidente, no Instituto Hospital de Base de Brasília (IHBB), em razão de uma perfuração no estômago. O segundo procedimento foi na coluna, para corrigir uma lesão na medula. Para poder voltar a falar, o adolescente tem feito terapia com fonoaudiólogos.
Luciane classifica o filho como "guerreiro" e, emocionada, conta que, em momento algum, Pedro Miguel deixou de lutar pela vida. "Ele tem tanta fé que não se deprimiu, não está triste. A gente fala que está perto, que tudo vai se resolver, vai melhorar e ele diz: 'amém'. Ele crê e está se mantendo tranquilo, porque todos cremos que ele vai sair e, com a graça de Deus, vai ser muito rápido." Agora, a família se apega à fé e à esperança de que tudo vai melhorar, em breve. "O prognóstico dele não é bom. Por tudo que a gente já ouviu, se não fosse a fé, já teríamos desabado há muito tempo, com certeza", completa.
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