Com o objetivo de ampliar a conscientização em torno da saúde mental materna, foi aprovado na Câmara Legislativa do Distrito Federal, na tarde desta terça-feira (7/6), o projeto de lei n 2726/2022, que inclui no calendário oficial de eventos o mês Maio Furta-Cor, dedicado às ações de conscientização e incentivo ao cuidado e promoção da Saúde Mental Materna no âmbito do Distrito Federal.
De autoria da deputada distrital Arlete Sampaio (PT-DF), o projeto determina que a Secretaria de Saúde e órgãos competentes promovam ações, debates, cursos, oficinas, palestras, rodas de conversa, seminários, e ações gratuitas sempre ao longo de todo mês de maio.
Para a deputada, há um forte estigma social em torno de temas ligados à saúde mental. Além disso, Arlete Sampaio alerta para o aumento nos casos de depressão, ansiedade e suicídio entre as mães. De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), uma em cada quatro mulheres sofrem de depressão pós-parto, sendo que mais da metade dos sintomas já se apresentam na gestação, mas não são diagnosticados, muito menos tratados adequadamente e em tempo.
“O mês de maio, quando celebramos no Brasil o Dia das Mães, é um momento oportuno de fomentar discussões ao redor das causas maternas e dos aspectos envolvidos nos crescentes índices de depressão, ansiedade, esgotamento e suicídio”, explica a parlamentar.
A psicóloga Camila Barros, representante do movimento Maio Furta-cor em Brasília, afirma que a Saúde Mental Materna ganhou com a aprovação desse PL. Ela é uma das responsáveis pela proposição do projeto de lei à deputada Arlete Sampaio, junto com Aline França e Juliana Neri, idealizadoras do projeto Acolhendo o Puerpério.
“Sabemos o quanto as mulheres que passam por adoecimentos nesse período são deslegitimadas e invisibilizadas pela maternidade, cercadas de romantização e tabus. O período da gestação e do pós-parto é o de maior risco para a saúde mental da mulher e passou da hora de darmos a devida atenção a acometimentos que podem levar ao suicídio e infanticídio mas que, acima de tudo, podem ser tratados e prevenidos”, esclarece Barros.
“Com esse projeto de lei, é possível dar um pouco de voz às mulheres-mães e sensibilizar toda a população a essa causa tão importante e que também diz respeito à infância (...). Eu, enquanto profissional que trabalha como formiguinha na disseminação desse tipo de conteúdo, vejo essa aprovação como uma grande vitória, mas apenas o começo de um novo olhar para a saúde mental materna”, finaliza a psicóloga.
Sobre o Maio Furta-Cor
Nicole Cristino, psicóloga clínica e perinatal, e Patrícia Piper, médica psiquiatra e psicoterapeuta com atuação na perinatalidade, criaram o Maio Furta-cor em 2021, com o objetivo de “mudar o forte estigma social em torno de temas ligados à saúde emocional de mulheres”.
“Quando se estende ao campo materno, esse estigma é ainda mais reforçado. Por outro lado, observa-se um alarmante crescimento dos casos de depressão, ansiedade e suicídio entre as mães”, alertam as idealizadoras.
A escolha do furta-cor se deu por ser uma tonalidade que se altera de acordo com a luz que recebe, não havendo uma cor absoluta para aquele que lança o olhar. No espectro da maternidade, não é diferente. Nele, cabem todas as cores.
De acordo com a psicóloga perinatal e representante do Maio Furta-Cor em Brasília, Camila Barros, atualmente existem inúmeros exames em termos de saúde física na pós-gestação. A saúde mental, no entanto, ainda é um tabu, especialmente no que se refere às mães.
Segundo ela, por ser um assunto envolto em preconceitos infundados, as mães acabam sofrendo sozinhas. Sem ajuda, encontram dificuldades em serem diagnosticadas ou receberem tratamento adequado. "Com a campanha, queremos dar voz e lugar a essas mulheres que estão sofrendo, para que busquem ajuda e façam seus tratamentos para que estejam inteiras para as crianças", explica Camila Barros.
A psicóloga destaca ainda que o ciclo que vai da gravidez até o puerpério (período que compreende desde o nascimento e, segundo estudos recentes, pode se estender até os 3 anos de vida da criança) é o de maior vulnerabilidade para a saúde mental da mulher, o que a inclui no grupo de risco para adoecimentos mentais. “Inclusive para o suicídio, que é a primeira causa de morte materna até o primeiro ano após o parto, superando as mortes por hemorragia”, destaca a profissional.
"Isso é um dado assustador, a que as pessoas infelizmente não têm muito acesso nem no pré-natal, muito menos no pós-parto. É fundamental que se fale sobre isso para que a gente ajude a preservar vidas femininas. Detectando esse tipo de adoecimento o mais cedo possível, facilita o tratamento, é possível preservar as relações com o próprio filho, com familiares e o bem de toda a sociedade, até nas relações de trabalho."
Camila Barros alerta ainda para a alta incidência de adoecimentos como depressão e ansiedade no Brasil e a falta de diagnóstico e tratamento adequado para mulheres.
“A depressão perinatal, por exemplo, atinge 25% de mulheres. Já a ansiedade atinge 19% das mulheres até o primeiro ano de vida do bebê. Sabe-se que o risco de suicídio em puérperas aumenta em 70 vezes quando comparado ao restante da população, sendo a principal causa de morte materna direta no pós-parto (até o primeiro ano após o parto)”, destaca Barros.
Nesse sentido, nasce um dos slogans da campanha: "Só é possível mudar o mundo cuidando de quem cuida de todo mundo". O Maio Furta-cor também chama atenção para a solidão na maternidade, que torna essa fase da vida da mulher ainda mais sensível, e convida a sociedade a se importar e apoiar uma mãe. "Maternar é coletivo", prega o projeto.
Tramitação
O Projeto que institui o mês de maio como o mês maio furta-cor foi aprovado por unanimidade no primeiro e no segundo turno. Agora, o PL será enviado para o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB). Se sancionado, a matéria se torna lei.
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