Furo! Neste momento de altas rapinagens e falcatruas no cenário político, esta coluna conseguiu uma entrevista mediúnica exclusiva com o padre Antônio Vieira, o genial autor de Os sermões, para conversar sobre as doenças do Brasil. Fala, mestre!
Qual é a causa da enfermidade do Brasil?
A causa da enfermidade do Brasil bem examinada é a mesma que a do pecado original. Pôs Deus no paraíso terreal a nosso pai Adão, mandando que o guardasse, e trabalhasse, e ele parecendo-lhe melhor o guardar, que o trabalhar, lançou mão à árvore vedada, tomou o pomo que não era seu, e perdeu a justiça, em que vivia para si, e para o gênero humano.
E o que isso tem a ver com o que acontece hoje no Brasil?
Esta foi a origem do pecado original, e esta é a causa original das doenças do Brasil, tomar o alheio, cobiças, interesses, ganhos, e conveniências particulares, por onde a justiça se não guarda, e o estado se perde.
De que maneira isso levou e leva o Brasil à perdição?
Perde-se o Brasil, senhor (digamo-lo em uma palavra), porque alguns ministros não vêm cá buscar nosso bem, vêm cá buscar nossos bens. Se um só homem que tomou, perdeu o mundo, tantos homens a tomar, como não hão de perder um estado?
Quais são os sintomas da enfermidade do Brasil?
E senão, pergunto, para que as causas dos sintomas se conheçam melhor: toma nesta terra o ministro da Justiça? Toma. Toma o ministro da Fazenda? Toma. Toma o ministro da República? Toma. Toma o ministro da Milícia? Sim, toma. Toma o ministro do Estado? Sim, toma.
Por que chegamos a esse ponto tão dramático?
O pior acidente que teve o Brasil em sua enfermidade foi o tolher-se-lhe a fala: muitas vezes se quis queixar justamente, muitas vezes quis pedir o remédio de seus males, mas sempre lhe afogou as palavras na garganta, ou o respeito, ou a violência. Por esta causa serei eu hoje o intérprete de nosso enfermo, já que a mim me coube em sorte.
Que trabalho teria um líder para curar as enfermidades de que padece o Brasil?
Acontecerá a Vossa Excelência com o Brasil, o que a Cristo com Lázaro. Chamaram-no para curar um enfermo e, quando chegar, será necessário ressuscitar um morto.
Como curar o Brasil de suas enfermidades?
É pois a doença do Brasil falta de devida justiça, assim da justiça punitiva, que castiga os maus, como da justiça distributiva, que premia os bons.
Quais as consequências da falta de justiça no Brasil?
Não é miserável a república onde há delitos, senão onde falta o castigo deles: que os reinos e os impérios não os arruínam por pecados cometidos, senão por dissimulados. Sem justiça não há reino, nem província, nem cidade, nem ainda companhia de ladrões que possa conservar-se. Que não há cousa que assim desespere os beneméritos, como ver os indignos premiados.
Como seria um Brasil curado de suas doenças, um Brasil justo?
Que se der o sangue, não há de ser para que outros vivam e triunfem, senão para que nós vivamos e triunfemos de nossos inimigos. Tudo o que se tirar do Brasil, com o Brasil se há de gastar.
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