Aos 38 anos, o presidente da Câmara Legislativa, Rafael Prudente (MDB), acumula vitórias. Elegeu-se pela primeira vez em 2014, como um dos mais jovens deputados distritais, aos 31 anos, e obteve a reeleição como o quarto mais votado na Casa. No mandato, chegou à presidência e obteve um feito inédito — que outros poderosos parlamentares tentaram em vão: um segundo mandato no comando da Câmara na mesma legislatura, graças à aprovação de emenda à Lei Orgânica que mudou as regras para a recondução da Mesa Diretora.
Cotado para ser candidato ao governo, caso Ibaneis Rocha tivesse outros planos, a vice ou ao Senado, Prudente agora é pré-candidato a um mandato de deputado federal. Presidente do MDB-DF, chega à campanha na condição de hábil articulador político e um privilegiado expectador das negociações de bastidores para a composição da chapa de seu grupo.
Com esse olhar, ele defende um palanque presidencial duplo no DF, com a senadora Simone Tebet (MDB-MS), pré-candidata de seu partido, e com Jair Bolsonaro (PL), cuja base de partidos coincide com a do governador Ibaneis Rocha. Prudente garante que o acordo do MDB e de Ibaneis com a deputada Flávia Arruda (PL), para que ela dispute o Senado na chapa, está sacramentado e diz que o Palácio do Planalto terá de decidir entre as duas ex-ministras de Bolsonaro, já que a candidatura de Damares Alves poderá dividir a base eleitoral bolsonarista e dar a vitória para um nome da oposição.
Sobre uma eventual candidatura do ex-governador José Roberto Arruda (PL), Rafael Prudente aposta que ocorrerá, se houver condições jurídicas. Mas antecipa: vai rachar o grupo político que hoje apoia a reeleição de Ibaneis.
O projeto do senhor é mesmo concorrer a um mandato de deputado federal?
A gente faz política durante nossa vida toda, mas no exercício do mandato sempre defendi que tem que ser uma missão temporária. Importante a gente renovar, reciclar, trazer novas pessoas, novas ideias. Nunca me propus a ficar quatro, cinco, seis mandatos na Câmara Legislativa. Cumpri minha missão. Na reeleição, era uma prova porque a gente precisava saber se aquele primeiro mandato foi positivo ou negativo, se atendeu às expectativas ou não. Quem decide isso não é seu time. São as pessoas. Mas a gente teve uma aprovação significativa. Fui o quarto mais votado, com uma diferença muito pequena para o primeiro. Depois, esse trabalho foi coroado com os deputados nos escolhendo para comandar a Câmara, por duas vezes.
O senhor conseguiu um grande feito quando a CLDF aprovou a emenda à Lei Orgânica que permite a reeleição da Mesa Diretora dentro de uma mesma legislatura. Como foi essa articulação?
Nós tivemos 18 votos a favor da emenda da reeleição. Já era um indicativo da aprovação do nosso mandato à frente da Câmara, quando tivemos 21 votos. Aquilo com que me comprometi, aquilo a que me propus a fazer aqui dentro eu entreguei, equilibrando as diversas vertentes de pensamento. O desafio é muito grande. São 24 cabeças diferentes, com formações, pensamentos e ideias, ideologias diferentes. E de locais diferentes. Mesmo assim, a gente tem que convergir em pelo menos mais de 50%, para que as aprovações e votações possam acontecer. Então, a gente deu celeridade nas votações, não tem projeto engavetado, tudo foi discutido, nós demos voz para todos os deputados, seja de oposição seja de situação. Todo mundo teve uma aprovação quase que recorde de projetos. Todos os projetos que o governo enviou foram alterados, discutidos.
E a gestão da Câmara?
Conseguimos melhorar a gestão, economizar recursos, aprimorar a Câmara Legislativa para o século 21, conseguimos criar a nossa TV, que foi nosso compromisso. A gente implementou um sistema todo digital, alterou o site, colocou a Câmara mais sustentável com as placas solares. Internamente a gente também fez o nosso dever de casa. Tudo aquilo que a gente se comprometeu no primeiro biênio a gente cumpriu. Aí, a reeleição foi uma coroação do trabalho que a gente desempenhou.
O senhor é apontado como um hábil articulador. De onde vem essa característica?
Eu sempre tive uma facilidade de relacionamento com as pessoas, seja na iniciativa privada, seja na vida pública. É personalidade. Sempre tive facilidade de conversar com as pessoas, respeitar o pensamento divergente, tentar compreender. Acho que isso me ajudou: do PSol ou PT ao PL, a gente tem o respeito.
O senhor é presidente do MDB-DF e declarou apoio à pré-candidatura da senadora Simone Tebet à Presidência. Como vai ser a campanha no DF com um governador do MDB que tem uma base bolsonarista?
Claro que a gente vai seguir aqui a orientação da executiva nacional do partido, que é de manifestar apoio, enquanto mantida a pré-candidatura da senadora Simone Tebet. Foi uma opção do partido, discutida com os diretórios estaduais de sair dessa polarização e a gente poder ter um projeto diferente para o Brasil. Agora, sem dúvida nenhuma, os principais partidos que compõem a base do presidente Bolsonaro, Republicanos, PP e o PL, estão na base do governador e compõem o governo. Isso já vinha sendo construído com esses partidos nos últimos meses. Então, a executiva do partido vai obedecer a orientação nacional, mas sem dúvida nenhuma o presidente Bolsonaro terá palanque na chapa do governador Ibaneis, visto que os partidos que compõem a sua base aliada compõem a base aliada de Bolsonaro.
Então o governador Ibaneis vai se dividir, seguindo a agenda de Tebet e de Bolsonaro?
Isso aí a gente vai ter que ver como fazer mais para a frente, em especial o governador que disputa um cargo majoritário, que estará ao lado — pelo que se desenhou — da pré-candidata ao Senado Flávia Arruda, que foi ministra do presidente Bolsonaro. Então, sem dúvida, ele vai ter que se dividir nos dois palanques.
E isso não causará um constrangimento se a senadora Simone Tebet crescer?
Na política, tudo pode acontecer, inclusive nada. Então, pode continuar o cenário da forma que está ou tudo pode mudar, localmente ou nacionalmente.
Acha que a candidatura da Simone Tebet já está consolidada? E se não se consolidar ela pode ser abandonada na campanha?
É difícil fazer essa previsão porque a gente não acompanha tudo o que está sendo debatido nacionalmente diariamente.
Como presidente do MDB-DF, considera que está fechada a aliança entre Ibaneis e Flávia?
Bom, pelo menos até o momento, a palavra que um deu para o outro e o compromisso que foi feito lá atrás é de que a Flávia será a candidata ao Senado na chapa de Ibaneis. Isso está bem alinhado e a gente espera que ninguém mude de ideia nos 45 minutos do segundo tempo. Da parte do MDB, não haverá nenhum movimento contrário a isso.
E a pré-candidatura da Damares? O senhor conhece a base evangélica. Acha que ela vai faturar esses votos e pode prejudicar a candidatura da Flávia Arruda?
Sem dúvida. Agora temos alguns problemas porque a chapa só pode lançar um candidato ao Senado. Então, não sei como vai ficar isso. O Republicanos vai ter que se decidir. Não há espaço para um governador apoiar dois senadores. Agora, mais do que tudo, essa é uma questão interna e um problema que precisa ser resolvido no Palácio do Planalto, com as duas ministras do presidente Bolsonaro. Ele precisa escolher uma das duas para lançar. Porque se lançar as duas, mesmo com candidatura avulsa, a candidatura de uma atrapalha diretamente o projeto da outra. A Damares, pelo trabalho que ela fez, pelo conhecimento que ela tem de Brasília, sem dúvida alguma tem um apoio considerável, iniciando pela base evangélica. E ela está trabalhando muito. Acho que tomou gosto. Imagino que ela entrou para ver o que queria e acabou conseguindo muito apoio. Elas precisam decidir porque, se a base racha, é capaz de vir uma terceira via e levar a vaga do Senado. O governador já decidiu: a pré-candidata dele ao Senado é a deputada Flávia Arruda.
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