A pouco mais de dois meses para o fim do prazo de registro de candidaturas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para concorrer nas eleições de outubro deste ano, pré-candidatas negras do Distrito Federal preveem mais um pleito com baixa representatividade racial para os postos de deputadas federal e distrital.
Em um manifesto escrito por oito pré-candidatas negras a cadeiras na Câmara dos Deputados e na Câmara Legislativa pelo Partido dos Trabalhadores (PT), publicado nesta quinta-feira (2/6), o grupo denuncia a falta de representatividade negra nas casas legislativas e alertam que a “existência do racismo estrutural continua a interromper a candidatura de mulheres negras”.
"A representatividade de mulheres negras no parlamento continua muito baixa. Na Câmara Federal, de um total de 77 mulheres deputadas, 13 apenas se autodeclaram negra. Na Câmara Legislativa, são apenas 4 mulheres e nenhuma se declara negra. Entendemos que uma das formas de mudar o cenário da condição da mulher negra no país é a presença delas na política. No entanto, não se dá espaço”, escreve o grupo no documento.
O problema, de acordo com as mulheres, começa antes mesmo de os nomes chegarem às urnas: o processo de escolha dos partidos sobre quais candidatos vão concorrer no pleito é permeado pela preferência a candidatos com capital político e, na maioria, brancos.
Aline Karina, pré-candidata a deputada federal pelo PT no diretório do DF, é uma das autoras do manifesto. Filiada ao partido desde 2006, é a primeira vez que ela se coloca como interessada a concorrer nas eleições. No entanto, ela já define o sonho como não alcançado.
"Eu vejo o processo de escolha como um jogo de cartas marcadas. Se alguém for deixado de fora, sempre serão as mulheres e, mais ainda, as mulheres negras. Sempre a escolha é para homens e homens brancos", declara.
O processo de escolha dos candidatos pelo PT-DF terminará neste sábado (4/6), no encerramento do encontro regional do partido, mas Aline se diz certa de que não conseguirá a candidatura. "Há uma escolha prévia de três candidatos homens e três mulheres, todos brancos, e a de um homem negro. O que eu percebo é que o racismo estrutural, que desenvolve toda a sociedade brasileira, também é reproduzido dentro dos partidos e, também, no meu", cita.
"Nos governos do PT alcançamos muitas conquistas para os negros, por isso, eu sou petista. Mas essas conquistas foram do movimento negro que reivindicou isso. No entanto, eles se apropriam do nosso discurso, o que é muito vantajoso, mas não dão espaço para a gente", relata.
A pré-candidata relata que o cenário é o mesmo nos dois espectros políticos — direita ou esquerda. “O problema é que, mais uma vez, os partidos brasileiros não racializam o discurso. Não basta falar de classe e gênero. O maior problema hoje é a questão da raça. É a população — e a mulher — negra que são os mais afetados hoje em todas as áreas. Então é preciso que a discussão racial seja o centro do debate, e não mais um adendo no discurso político", opina Aline.
O Correio entrou em contato com o PT-DF, mas não obteve resposta até a última atualização desta matéria. O espaço permanece aberto para eventuais manifestações.
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