As ocorrências por furtos de celulares no Distrito Federal cresceram nos primeiros quatro meses deste ano. De janeiro a abril, 4,4 mil aparelhos foram furtados. No mesmo período de 2021, foram 2,7 mil casos — crescimento de 61,7% — e, em todo o ano passado, foram contabilizadas 10.090 ocorrências. No ano anterior, 8.315 aparelhos foram subtraídos e, em 2019, o número foi de 13.036. Os dados são da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF).
Alex Rabelo, professor de proteção de dados do Ibmec Brasília, acredita que o salto pode estar ligado ao fim das restrições sanitárias contra a covid-19. "A volta dos grandes eventos certamente influencia, visto que as pessoas estavam — e estão — ansiosas com esse retorno. Logo, estarão descuidadas e à mercê de eventuais furtos ou roubos. O crescimento é alarmante. Os usuários devem redobrar a atenção no que tange a proteção de patrimônios", aconselha. Ele recomenda a adoção de procedimentos para limpar o cache do dispositivo, além do uso de antivírus, para evitar a invasão de aplicativos.
Secretária-geral da Comissão de Direito Digital, Tecnologias Disruptivas e Startups da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional do Distrito Federal (OAB-DF), Natália Piasentin aponta que o crescimento não se limitou à capital federal. "Com a volta dos grandes eventos e da 'vida social', várias pessoas foram vitimadas em estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais", observa a especialista, citando o exemplo dos carnavais de rua.
Desatenção
Os grupos agem de maneira semelhante, de acordo com a advogada. "Há organizações criminosas especializadas neste tipo de crime. Feliz ou infelizmente, eles seguem o mesmo modus operandi: os suspeitos empurram as vítimas e, com a reação do susto, um outro integrante aproveita para furtar o aparelho", descreve Natália. Ela detalha que a atuação dos criminosos se dá por meio de divisão de tarefas, com estruturas bem delimitadas.
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Carolina Santana, 20 anos, foi uma das vítimas do DF contabilizadas no primeiro quadrimestre de 2022. O celular da moradora do Cruzeiro Novo foi furtado, em março, em um evento noturno, com grande público e fluxo contínuo de pessoas. "Não percebi (a ação criminosa), o celular estava na minha bolsa. Para se circular no local, era preciso transitar entre várias pessoas", relata a estudante. "Na fila do banheiro do evento, quis checar as notificações. Foi quando me dei conta do que tinha acontecido", continua. Carolina registrou boletim de ocorrência e pediu à operadora o bloqueio do aparelho. "A pessoa que furtou não conseguiu acesso aos meus aplicativos", relembra aliviada a estudante.
Bruno Oliveira, 32, também foi vítima em um grande evento. Em um show, em abril, o autônomo teve o celular furtado. O dispositivo, que estava no bolso do morador de Vicente Pires, foi recolhido sem que Bruno percebesse. "Nesses ambientes, a gente acaba prestando menos atenção a objetos pessoais e fica mais vulnerável", reflete. Ele registrou a ocorrência e, felizmente, por meio do localizador do aparelho, conseguiu recuperar o objeto. Desde então, Bruno redobra o cuidado com os pertences quando está em ambientes tumultuados.
No entanto, para Welliton Caixeta Maciel, professor de antropologia do direito da Universidade de Brasília (UnB), é preciso ter cuidado ao atribuir à pandemia o aumento das ocorrências, uma vez que as causas são multifatoriais e incluem até mesmo a crise econômica gerada pela covid-19. "É simplista explicar (o aumento apenas) pelo fim das restrições sanitárias. Podemos dizer que a volta dos grandes eventos potencializa (os crimes), mas eles são vetores para que esse tipo de criminalidade seja permanente e constante", pondera o pesquisador do Núcleo de Estudos sobre Violência e Segurança da UnB, citando que, em festas e shows, as pessoas costumam beber e ficar mais distraídas quanto aos próprios pertences. Contudo, locais do cotidiano, como rodoviárias, vias públicas, ônibus, metrô, shoppings, estádios e clubes, também podem ser palco para as ações de criminosos.
Dia a dia
Fernanda Monteiro, 29, confirma a observação do professor. A atendente foi furtada dentro do transporte público. "Meu celular estava no bolso de trás da calça. Uma pessoa esbarrou em mim, mas não estranhei, porque o ônibus estava cheio", descreve a moradora de Planaltina. Ela não conseguiu agir a tempo de impedir mais prejuízos, e o autor do crime teve tempo de acessar o aplicativo do banco de Fernanda e roubar R$ 300. Felizmente, ela recuperou, junto à instituição, a quantia. "Mas foi uma dor de cabeça", desabafa.
O professor Welliton, integrante do Grupo Candango de Criminologia da UnB, explica que, além do valor, a facilidade de repasse dos celulares incentiva a subtração dos itens. "É um objeto de troca, inclusive por drogas ou outras mercadorias ilegais. Existe um público que espera por esse tipo de produto (furtado). Se não houvesse consumidores e um público-alvo para os criminosos, haveria desabastecimento desse mercado. Ele existe porque há expectativa de obtenção e repasse", conecta Welliton Maciel.
Violência
Os criminosos não se limitam a furtar os itens sem a percepção do proprietário e elaboram armadilhas para atrair possíveis vítimas — inclusive com uso de violência. Foi o caso de Alysson Santos, 25, proprietário de uma loja virtual de celulares. "A pessoa faz o pedido e eu entrego pessoalmente. Em fevereiro, uma moça fingiu interesse em comprar um iPhone. Porém, era um esquema para me roubar", conta o morador do Entorno do DF. Quando Alysson chegou ao local, foi recebido por um homem, também integrante da armação. "Estava com uma arma apontada para mim. Minha reação foi correr e ele fez três disparos. Felizmente, nenhum me atingiu e eu não fui roubado", relata a vítima, que registrou boletim de ocorrência. "Foi um susto tremendo", relembra.
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