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Taguatinga 64 anos: as histórias literárias da memória taguatinguense

Pesquisador, escritor e jornalista, Wílon Wander Lopes produziu dois livros sobre a memória e a importância da região administrativa; veja

Edis Henrique Peres
postado em 05/06/2022 07:00 / atualizado em 05/06/2022 20:06
Wílon Wander:
Wílon Wander: "A vila que nós ajudamos a transformar em cidade" - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)

Os 64 anos de Taguatinga são recheados de histórias e mistérios, como o próprio nome da cidade que por muito tempo, devido a um erro histórico de tradução, foi interpretado como ave branca. Além da importância cultural, a cidade tem, na avaliação de Wílon Wander Lopes, morador desde 1960 e autor do livro Cidade cidadã, um papel fundamental na construção da capital do país. "Taguatinga virou um grande depósito de material de construção e de gente para as obras, o que possibilitou uma maior agilidade nas obras", detalha o pioneiro. Confira os principais pontos da entrevista — e lembre-se: para ler o especial completo sobre os 64 anos de Taguatinga neste link!

Uma das principais curiosidades a respeito de Taguatinga é sobre o próprio nome da cidade. O que ele significa?

Quando houve um dos primeiros desfiles comemorativos do aniversário de Taguatinga, um professor de português da escola Cemab (Centro de Ensino Médio Ave Branca), sem conhecer a língua tupi, ao ser indagado sobre o significado da palavra respondeu que era "ave branca" (naquele tempo não havia o Google), razão de aparecer, então, uma ave pintada na faixa do Cemab, no tal desfile escolar, o que virou nome da escola.

Contudo, como havia dúvida sobre o verdadeiro significado de Taguatinga, o professor de linguística Antonio Garcia Muralha informou que a tradução correta não é ave branca. Taguatinga é uma expressão da língua tupi-guarani, usada pelos índios que primeiro moraram por aqui e que a usaram para denominar o córrego que passa pela cidade. É a junção das expressões Tagua, que é barro, e Tinga que é branco.

Você relaciona em sua obra questões de afetividade e cidadania, pode comentar?

Essa questão afetiva vem da vivência na vila que nós ajudamos a transformar em cidade. É fácil entender: quando mudamos para uma cidade, ela está pronta. Aqui tivemos que fazer tudo: casas, ruas, escolas, igrejas, praças e, principalmente, o mais importante, que é o tal pertencimento — a cidade é minha, eu sou da cidade, eu sou taguatinguense. E aí, nasce a cidadania.

Qual a importância de Taguatinga para a construção do próprio Plano Piloto?

Sem Taguatinga, Brasília não seria construída! Para a obra acompanhar o chamado "ritmo Brasília", como Juscelino Kubitschek queria, sempre faltava gente e material de construção, que não havia por perto, chegando a ser trazido de avião, atrasado e a preços caríssimos. Pouco a pouco, Taguatinga virou um grande depósito de material de construção e de gente para as obras.

Você tem dois livros sobre Taguatinga. O que eles abordam?

Ambos contam histórias e mostram gente e valores da cidade. Taguatinga tem memória foi publicado em 1990 e no ano passado saiu a segunda edição de Cidade Cidadã, no qual eu mostro e provo que a Cidadania de Brasília começou em Taguatinga. Isto aconteceu a partir da decisão dos dirigentes da Novacap (Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil), preocupados com a chegada de mais gente do que a estrutura podia aguentar, resolveram barrar a entrada dos migrantes, que estavam sendo obrigados a voltarem para suas terras de origem. Eles se revoltaram e, despejando seus trastes no cerrado, chamaram a atenção da imprensa e, num ato de desobediência civil, criaram, ao lado da Cidade Livre, já lotada, uma vila, que, muito inteligentemente, foi denominada Sarah Kubitschek.

Quando Juscelino ficou sabendo do problema e o uso do nome de sua esposa, e que o que eles queriam era ficar em Brasília, determinou a remoção e colocação deles para onde tinha água, ou seja, para onde corria o córrego Taguatinga.

Momento de orgulho

Herbert Ramthum, 88, é um dos pioneiros mais antigos de Taguatinga. Ele chegou na cidade em 12 de junho de 1958 para exercer sua profissão, como alfaiate, e nunca mais saiu da região. Ramthum fundou o primeiro Rotary Club de Taguatinga, o Clube dos 200, além da primeira loja maçônica da cidade, chamada União e Silêncio. "Um dos momentos de maior orgulho foi quando a minha loja fez parte da guarda dos restos mortais de Dom Pedro I, quando eles estiveram aqui em comemoração pelos 150 anos da Proclamação da Independência", destaca.

 

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