ESPECIAL

Taguatinga 64 anos: Galeria Olho de Águia, muito além da fotografia

Desde 2002, a Galeria Olho de Águia, criada pelo fotógrafo Ivaldo Cavalcante, traz uma mistura que agrada todos os gostos e públicos

Arthur de Souza
postado em 05/06/2022 07:00 / atualizado em 05/06/2022 20:11
Ivaldo Cavalcante, incentivador a cultura local -  (crédito:  Minervino Júnior/CB/D.A Press)
Ivaldo Cavalcante, incentivador a cultura local - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)

Localizada na CNF, em Taguatinga Norte, a Galeria Olho de Águia contempla antigas e novas gerações. Ela foi criada pelo fotógrafo Ivaldo Cavalcante, 66 anos. "Hoje em dia, a galeria é um ponto da juventude, mas também existem amigos da década de 1970, que sempre aparecem. É um ambiente destinado a arte em geral".

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Ivaldo conta que inaugurou o espaço em 2002, no entanto, somente em 2012 decidiu "arregaçar as mangas" e se dedicar à galeria. Para ele, foi como se tivesse recebido uma benção de outros antigos locais tradicionais de Taguatinga. "Antigamente, tinha o Botiquim Blues e o Rolla Pedra. O sentimento, quando inaugurei a galeria, foi como se eu tivesse recebido o 'bastão' deles para ter um local bem potente como eles foram", considera o fotógrafo.

A primeira curiosidade do local está no próprio nome. Ivaldo revela o que o fez batizar a galeria como Olho de Águia. "A ideia veio depois que eu li um texto, na internet, sobre a águia. Desde então, me apaixonei pelo animal e primo por tudo que ele representa. Uso o nome em tudo, desde a galeria até o meu e-mail", detalha. "Tem um trecho falando que a águia tem um olhar monocular e outro binocular. Um deles é mais periférico, criativo para saber o que ela vai fazer. Então, posso dizer que o nome da galeria está ligado a esse olhar criativo que a águia tem, tento representá-lo aqui", observa o dono.

Projetos

Como bom fotógrafo, Ivaldo afirma que o fotojornalismo é o que move a galeria. O principal projeto do espaço é o "Imagem sem fronteiras", que teve a primeira edição em 2012. "Trouxemos para cá alguns fotojornalistas, tanto do Brasil como estrangeiros, para exporem e comentarem sobre seus trabalhos", destaca. "Estamos nos preparando para a terceira edição, que deve acontecer ainda este ano. A ideia é que, desta vez, a gente misture o fotojornalismo e a literatura", revela.

Além das fotos, Ivaldo também apoia a arte, por meio do "Artista do Bairro", criado em 2013. "Pessoas de qualquer lugar de Brasília trazem sua exposição para cá e ela fica nas paredes da galeria durante 15 dias. O projeto deu tão certo, que a agenda desse ano foi esgotada em fevereiro", detalha. "Eu gosto muito dele, pois dá oportunidade aos artistas locais e não tem aquele academicismo, de precisar passar por uma curadoria para selecionar. O artista chega no balcão, apresenta o trabalho dele e escolhe em qual período quer expor", assegura.

Em casa

O frequentador Bruno Ávila, 35, é cliente da Galeria Olho de Águia há cerca de oito anos, sob a influencia de um amigo. "Ele me trouxe aqui e acabei me ambientando muito bem. Desde então, adoro esse lugar. Sinto que estou em casa quando estou aqui", ressalta.  "É o meu bar. Falo com ele (Ivaldo) que eu vou ser o futuro comprador daqui", brinca. Bruno estava acompanhado de sua namorada, Silmara Dias, 45. Ele conta que a trouxe na galeria desde o primeiro dia do relacionamento. A corretora de imóveis lembra como foi o processo de convencimento. "Na primeira vez, ele falou que ia me levar no lugar que vendia o melhor quibe de Brasília. Como eu gosto de comer, vim por conta desse argumento e acabei me encantando pelo local", garante.

Desde então, o casal considera a galeria não como a segunda, mas primeira casa. "Passo mais tempo aqui do que na minha própria residência. Até minha mãe gostou, quando veio", revela Bruno. Assim como ele, o funcionário público Gilberto Alves, 62, também frequenta a galeria há um bom tempo. "Logo que conheci o local fiquei maravilhado com sua estética e encantado com a figura humana extraordinária que é o Ivaldo", destaca. "Vou à galeria com bastante regularidade. Raramente passo mais do que 15 dias sem prestigiar as exposições. A galeria reflete a cena cultural pulsante em Taguatinga, mostrando que a cultura do DF, fora do Plano Piloto, existe e é muito forte", finaliza Gilberto.

Resistência artística no Mercado Sul

As casas marcadas por intervenções artísticas e as ruas enfeitadas com vasos de plantas caracterizam o Mercado Sul como um polo cultural de Taguatinga. Em três quadras, a ocupação acolhe artistas de diferentes ofícios. Vitória Aquino, de 22 anos, vive no local desde os oito anos e aprendeu, com os outros moradores, ofícios dos quais se orgulha. "Sou artesã, trabalho com saboaria, sou cantora, compositora. Aqui todo mundo é multiprofissional", afirma.

A vitralista Jacque Bittencourt, 33, foi atraída pelo local por sua singularidade. "Ouvia falar que aqui era um local democrático, em que tudo se resolvia em assembleia, com envolvimento de cada membro", relata.

Ayanna Duran, 33, veio da Chapada dos Veadeiros e se apaixonou pelo local. "Aqui não é um local que apenas abraça a diversidade, é um local que é diverso em sua própria composição. Temos pessoas de todos os lugares, de todos os estados, de várias tribos indígenas", afirma a pintora.

Nas mãos hábeis de Virgílio Mota, 70, a sustentabilidade ganha um peso artístico e funcional. "Produzo móveis de todo tipo com papelão. Todos eles são totalmente funcionais, cadeiras que aguentam até 200kg, mesas e outros materiais", relata.

A quadra cultural também garantiu que um legado de família se mantivesse vivo. Alexandre Aden Alves, de 54 anos, é responsável pela loja Aden Violões, ofício que aprendeu com o pai. "Meu pai, por sua vez, aprendeu com o pai dele", detalha. "Aqui é um lugar de força cultural extraordinária", finaliza.

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