Pobreza menstrual é uma triste realidade no Brasil. E, no Distrito Federal, cerca de 50 mil meninas, entre 12 e 17 anos, estão nesse contexto, segundo a Secretaria de Desenvolvimento Social. Uma pesquisa divulgada em 2021 pela Johnson & Johnson Consumer Health, em parceria com os Institutos Kyra e Mosaiclab, mostra que 28% das mulheres brasileiras (cerca de 11,3 milhões) de baixa renda são afetadas diretamente pela falta de acesso a absorventes. Iniciativas do governo e da sociedade civil tentam minimizar o problema e levar dignidade a essa parcela da população tão vulnerável.
Moradora da Estrutural, a faxineira Aleci de Souza, 44 anos, conta que uma das filhas, de 24 anos, colocou um dispositivo intrauterino (DIU) de cobre na rede pública e o fluxo sanguíneo no período menstrual aumentou. Hoje, a jovem pega absorventes em uma igreja católica da região. "Chegou a ter uma ação aqui, em que fizeram doações, mas foi só um mês que entregaram", relata a mãe.
Maristela Durães, 36, também pega absorventes na igreja da região. "Esse mês eu menstruei duas vezes, e depois que tive filho a duração do fluxo ficou maior", relata a catadora de recicláveis, que revela não ter dinheiro para comprar medicamentos que amenizam as cólicas. "Eu pensei que ia vir pouco (na igreja), mas está bem intenso e fica difícil trabalhar assim. Por conta da força que se coloca para trabalhar, a dor da cólica fica maior ainda, tenho que carregar muito peso e acho que é por isso que vem muito (sangue). Se a gente não fizer porque está com dor, eles dizem que a gente está com preguiça", lamenta.
Em outubro passado, o Governo do Distrito Federal lançou a campanha Dignidade feminina — Da transformação de meninas a mulheres: mais cidadania e menos tabu, coordenada pela Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus). A ação arrecadou mais de 155 mil itens de higiene em uma ação integrada entre o poder público, a sociedade civil e a iniciativa privada. No total, foram atendidas cinco mil estudantes da rede distrital. A campanha segue ativa, realizando ações de conscientização nas escolas, e a Secretaria de Educação está arrecadando absorventes.
Coordenadora de promoção de crianças e adolescentes da Sejus, Beatriz Cruz ressalta que nas oficinas, que foram realizadas em 1 unidade de ensino publicas do DF, as meninas recebem informações sobre a saúde do adolescente. "A campanha nunca foi só sobre distribuir absorventes, é sobre oferecer dignidade feminina e transformação de meninas a mulheres", explica.
Uma fotógrafa do Lago Norte teve a ideia de promover sessões de fotos individuais a quem doar dois pacotes de absorvente com 32 unidades cada. Moema Andrade e o sócio, Claudio Reis, do estúdio Poesias de Luz oferecem três imagens, em mídia digital, ao final do ensaio para aqueles que colaboram com o projeto. "Tô encantada com a adesão e a solidariedade de outras mulheres ao se darem conta do significado da pobreza menstrual. O projeto ajuda brasilienses a se darem conta da situação. Foi um despertar para mim. Uma sem teto me pediu dinheiro para comprar absorvente, e ela me olhou e disse: você é mulher, me ajuda! Em cima disso, eu criei o projeto", emociona-se Moema.
A ação ocorre até 30 de junho. O material será enviado à Central Única das Favelas (CUFA-DF) para que a entidade faça distribuição. O estúdio se reserva o direito de publicar, ao menos, uma foto de cada participante na página no Instagram @poesiasdeluz.fotos. Os ensaios serão previamente agendados pelo telefone 98360-9988 e é possível remarcar uma vez.