Pandemia

Avanço da taxa de transmissão da covid-19 preocupa especialistas

Não houve mortes pela doença nessa sexta-feira, mas o índice de contágio ultrapassou o maior valor de 2021. Média de casos teve alta de 255% em duas semanas. Infectologistas sugerem uso de máscara no transporte público

O aumento da taxa de transmissão da covid-19 no Distrito Federal deixa especialistas em alerta. O índice, que mede a reprodução da pandemia, está subindo desde 18 de março, quando registrava 0,54. Apesar de leves quedas pontuais de lá para cá, a tendência é de crescimento. Nessa sexta-feira (27/5), o número chegou a 1,44 e superou o maior dado de 2021 — 1,35, em 7 de março. O valor de sexta aponta que cada 100 brasilienses com a doença podem transmiti-la, em média, a outros 144. A Secretaria de Saúde (SES-DF) não confirmou nenhuma morte pela doença em dois dias — o primeiro dia sem óbitos havia sido em 28 de abril. O comportamento dos casos da doença, porém, confirmam a alta no contágio. A média semanal de infecções de sexta-feira cresceu 255% em relação ao dado de duas semanas atrás e fechou em 919. Este sábado (28/5), há cinco pontos de vacinação contra a covid-19, confira no site do Correio. Domingo (29/5) não haverá atendimento.

Na última quinta-feira, foi divulgado o novo Boletim InfoGripe Fiocruz, que sinaliza continuidade na tendência de aumento dos casos de covid-19 em todo o país. Cerca de 48% das ocorrências de Síndrome Respiratória Aguda Grave registradas nas últimas quatro semanas são em função do Sars-CoV-2, com percentual de 84% considerando os óbitos. A análise é referente à Semana Epidemiológica (SE) 20, no período entre 15/5 e 21/5. O vírus não lidera o ranking de notificações apenas entre crianças de zero a 4 anos de idade, onde o Vírus Sincicial Respiratório (VSR) tem sido mais recorrente.

Em contrapartida, o médico infectologista Hemerson Luz diz que o aumento era esperado devido a um conjunto de fatores dos últimos meses. "No tempo frio ocorre uma piora nas doenças infecciosas respiratórias e a covid está nesse grupo", afirma. Segundo ele, a alta no número de casos também está associada à predominância da variante ômicron e das subvariantes, além das medidas restritivas que foram flexibilizadas e a volta das pessoas a frequentarem eventos, festas e comemorações de carnaval.

No entanto, o especialista diz que não é momento para a população se desesperar, mas sim de cautela. "É normal que ocorra essa oscilação na taxa de transmissão. Por isso, a população deve ficar atenta e quem tiver qualquer sintoma deve se isolar e utilizar máscara caso precise se expor", orienta. Segundo o infectologista, um fator positivo é que os óbitos não estão acompanhando essa tendência da alta. "Isso indica que a vacinação está realmente protegendo a população e essa questão vacinal tem que ser priorizada, tanto a da covid-19, quanto da influenza", completa.

Por enquanto, para Hemerson Luz, as medidas restritivas não devem ser avaliadas , mas as autoridades de saúde devem tomar providências quanto a condutas pontuais, como analisar aumento em determinadas regiões para que reforce a cobertura vacinal. "Caso haja um aumento muito expressivo, aí sim corre o risco de uma sobrecarga nos hospitais. Isso junto com a somatória de doenças respiratórias, não só a covid."

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A assistente administrativa Maria Gabrielle Martins Cordeiro, 25 anos, tem sentido na pele o aumento do contágio da covid-19. A moradora de Sobradinho está com a doença e começou a manifestar os sintomas na quarta-feira da semana passada. Adepta ferrenha do isolamento social desde o começo da pandemia, é a primeira vez que a jovem contraiu covid. "Eu me isolei totalmente no início. Só estou saindo agora, que estou vacinada", conta. Ela, que está com leve dor de cabeça e sensação de febre, recebeu a terceira dose em fevereiro.

Ao Correio, a Secretaria de Saúde informou que "segue atenta a todas as mudanças no cenário epidemiológico da covid-19 no Distrito Federal". A pasta garante que, se preciso, tomará as medidas cabíveis, junto às demais autoridades sanitárias. "É importante reforçar que a taxa de transmissão não é o único indicador utilizado para definição do cenário epidemiológico. É essencial avaliar em paralelo a média móvel de casos e de óbitos, o percentual de positividade, o número de casos ativos, entre outros indicadores. Todas as medidas tomadas para combate ao coronavírus são baseadas em avaliações de especialistas, critérios científicos e dados técnicos. A situação é monitorada todos os dias, em tempo real", completou, em nota, a SES-DF.

Carlos Vieira/CB/D.A.Press - Médicos destacam que a imunização é a melhor arma contra a covid-19

Atenção

É necessário se precaver contra a infecção, ainda que, felizmente, a situação das mortes por covid-19 no DF não seja alarmante. Muitos brasilienses ignoram a necessidade das doses de reforço. No total, o DF tem 356,5 mil habitantes acima de 60 anos, público apto a receber a segunda aplicação extra, chamada de quarta dose (D4). Desses, cerca de 126 mil tomaram a D4, número que corresponde a 35% do grupo. A abrangência restrita da quarta dose não explica a baixa adesão. De acordo com a Secretaria de Saúde, 743 mil pessoas no DF que estão autorizadas a receber a primeira dose de reforço (D3) não retornaram às unidades de saúde.

 Os pontos de vacinação têm lidado cada vez mais com a vacância de quem não toma as doses complementares. No Posto de Saúde n°2, do Cruzeiro, o movimento de sexta-feira era pequeno. A auxiliar de enfermagem Jania Mendes, que atua na unidade, afirma que a falta de pacientes dura há algum tempo. "Ninguém mais pega fila aqui (para se vacinar). Não tem explicação para essa despreocupação. Aqui, a testagem rápida cresceu e a positividade aumentou: só na quarta-feira à tarde, tivemos 10 casos positivos em 20 pacientes testados", conta a profissional. Justamente pelo ritmo da transmissão, a enfermeira crê que os postos de vacinação voltem a ser procurados.

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Cuidado

Diante do cenário de alta circulação da covid-19, médicos ouvidos pelo Correio recomendam o uso de máscaras, mesmo que o item não seja mais obrigatório no DF desde 10 de março. A utilização é necessária sobretudo em locais fechados e de maior aglomeração, como aviões e transporte público, conforme explica o intensivista do Hospital Brasília Rodrigo Biondi.

"Os locais mais preocupantes e perigosos para a transmissão da covid-19 são aqueles com baixa ventilação e muita gente aglomerada. Nesta época de inverno, o transporte público é, particularmente, um ambiente muito ruim, porque os veículos circulam com as janelas fechadas. Lugares como shoppings e bares na rua também são arriscados pela quantidade de pessoas circulando, mas o risco é bem menor, porque são ambientes mais ventilados", compara o médico, que continua a lista: "Outro lugares muito preocupantes são cinemas, teatros e aviões, porque as pessoas ficam muito tempo paradas e na mesma posição. Mesmo que o local tenha sistema de ar purificado, não é suficiente para eliminar o vírus de forma adequada", completa Rodrigo Biondi.

Alexandre Cunha, vice-presidente da Sociedade de Infectologia do DF, defende o uso das máscaras, mas ressalta que a proteção mais importante é a imunização. "A prevenção combinada é o método que deve ser utilizado agora, mas o foco deve ser a vacina", destaca. O médico aponta, ainda, a atenção redobrada que algumas situações requerem. "Ainda há a circulação do vírus, portanto, o ideal é usar a máscara em lugares com aglomeração. Mesmo que outras pessoas estejam sem o item, se você usa, já estará protegido de alguma forma, embora o uso geral seja o mais indicado. Quem tiver outras doenças respiratórias, como asma, deve continuar utilizando a máscara. A alta do vírus influenza é outro fator que motiva o uso da proteção, neste momento", sugere o infectologista.

Opiniões

A falta do item de proteção é observada no transporte público da capital federal, entre passageiros e trabalhadores. A atendente de padaria Maria Aparecida da Silva, 30, abandonou o hábito. "Vejo que a maioria das pessoas não está de máscara nos ônibus. Me sinto confortável em não usar, apesar de não ser completamente seguro. Eu não pego ônibus muito lotados, por conta do horário, e o trajeto é curto, o que me dá certo conforto. Acho que eu usaria a máscara se meu caminho fosse mais longo", pondera. "Se o cenário da pandemia piorar, eu volto a usar a máscara, com certeza", garante a moradora do Recanto das Emas.

Para cuidar da saúde, Rita Cândido Gomes, 62, vai a clínicas e hospitais ao menos duas vezes por semana. O cuidado da moradora de Arniqueira começa dentro do próprio condomínio. "Para mim, a máscara tem sido uma proteção fundamental, mesmo com muita gente já não fazendo mais o uso dela nos ônibus. Uso em qualquer lugar, assim que saio pelo meu portão. Graças a Deus não tive essa doença e espero não ter. Esta semana pretendo tomar a quarta dose (da vacina)", relata a diarista.

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No metrô do DF, o movimento é intenso e também há baixa adesão dos usuários à máscara. A autônoma Lizanete Ferreira, 42, usa o transporte subterrâneo em horário de pico, e detalha a situação sufocante de andar nos vagões. "No horário de pico, está bastante lotado. Às vezes, é difícil respirar direito. Acho que 80% das pessoas que andam no metrô estão sem máscara. Quando alguém tosse ou espirra, todo mundo olha torto. Eu me preocupo, tomo cuidado inclusive quando estou em casa. Minha família também usa máscara no transporte público", descreve a habitante de Arniqueira.

O medo do vírus entre os operadores do transporte público não é mais tão forte quanto antes, na opinião do cobrador de ônibus Israel Santos Alves, 30, que é um deles. "Hoje em dia, está mais confortável. O contato direto é perigoso, mas o risco diminuiu com a vacinação. Até mesmo entre os funcionários houve uma queda de casos. Eu peguei covid-19 duas vezes, em um momento mais crítico, antes da vacina", conta. Israel, que mora no Recanto das Emas, faz três viagens em uma viagem de 36km. De acordo com a Lei Distrital nº 6.571/2020, os funcionários do transporte público do DF seguem obrigados a fazer o uso da proteção, e a fiscalização é feita pela Secretaria de Transportes e Mobilidade (Semob).

*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira

Recomendação

Até o momento, o Ministério da Saúde aprovou a D3 para a população acima de 18 anos que tomou a segunda dose (D2) há quatro meses e para os adolescentes de 12 a 17 anos imunossuprimidos e gestantes ou puérperas dessa idade.