Tentei escapar da sina de escrever sobre o frio, mas não consegui, o tema me atropelou. Recentemente, comprei um filtro de ozônio para garantir uma água limpa, pois a ocupação desordenada na região em que moro trouxe problemas de saneamento. Abri a torneira na temperatura "natural", mas, mesmo assim, a água saiu gelada.
Passei por um quiosque, rapaz que cuida do churrasco estava com blusa reforçada, cachecol e gorro, mas indagou: "O que a gente faz com esse frio?" Respondi a ele que só uma festa de São João poderia dar um jeito: "É mesmo, que venham as festas de São João". Que venham as quadrilhas, não as das excelências enroladas com a Justiça, mas, sim, as campeãs de dança.
Na quinta-feira, os termômetros superaram a marca de 1,6°C e registraram 1,4°C, a mais baixa temperatura da série histórica do DF. Em alguns pontos da cidade, a sensação térmica ficou abaixo de O°C. A grama amanheceu coberta por uma fina camada de gelo.
Blusas, cachecóis, luvas e gorros, acessórios raramente usados pelos brasilienses, saíram do baú. Um morador do Lago Oeste, ouvido pela reportagem do Correio, pensou que sofreria um infarto de tanto frio na madrugada. O sol estava aberto, mas não esquentava, só iluminava: "Parecia luz de geladeira".
É possível imaginar a situação de quem vive na rua ou está desempregado e não tem como se proteger. Antes mesmo da onda gelada, um senhor, com uma placa pedindo cesta básica, na saída de um supermercado, solicitou também agasalhos.
No caminho de volta para casa, próximo ao CCBB, avistei chamas muito altas no mato. A princípio, pensei que fosse um incêndio. No entanto, observei com mais cuidado e constatei que havia silhuetas de algumas pessoas ao redor. Eles tinham feito uma imensa fogueira para se aquecerem e se defenderem do frio. O que atenua as consequências da guinada abrupta para a estação gelada são as redes de solidariedade.
Que a onda de frio nos sirva de sinal de alerta, mesmo que não esteja diretamente ligada às mudanças climáticas pelas quais passa o planeta. Estava assistindo a um documentário em que se dizia que, na França, não existe nenhum partido sem um programa de ação para evitar o desastre climático.
O candidato que não se interessar pelo tema está descartado sumariamente. Nem mesmo os partidos de extrema-direita escapam. A sustentabilidade entrou, definitivamente, na agenda política. Se eles cumprirão a meta, é outra história e outra batalha.
Mas, aqui na taba, nós estamos completamente alienados. O compromisso dos partidos e dos políticos com a sustentabilidade do meio ambiente é zero. Ainda patinam na vanguarda do atraso. Nós temos uma arma poderosa nas mãos: o nosso voto.
Não podemos mais conceder mandatos a excelências e a partidos que ignoram as questões ambientais. É das nossas escolhas políticas que dependerá o mundo que legaremos a nossos filhos e a nossos netos.