Passei os olhos sobre a Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (Pdad), divulgada pela Codeplan, e alguns dados me chamaram a atenção. Surpreendi-me com a informação de que 38,8% das pessoas da classe alta se declaram negras ou pardas. Sob esse recorte, é um índice bastante razoável, indicando uma relativa ascensão social, pois, se mirarmos outras perspectivas, chegaremos a conclusões muito diversas. Parece ser consequência do intenso debate sobre desigualdade e raça, do sistema de cotas e de algumas políticas públicas de promoção social.
Brasília está longe da imagem exclusiva da Praça dos Três Poderes propagada pelas emissoras de tevê. O DF tem mais de 3 milhões de habitantes e é a terceira metrópole do país. As desigualdades sociais estão estampadas em quase todos os recortes. Em mais de um quinto dos lares do DF (21,6%), algum morador deixou de fazer uma refeição por falta de recurso físico, social ou econômico.
E, de fato, podemos constatar nas ruas, cada vez mais, a presença de pessoas com cartazes que pedem comida para a família e, se você não tiver dinheiro, não é problema. Eles aceitam depósitos no Pix.
O cruzamento de dados entre os recortes de raça e renda é revelador. A maior parte da população do DF é constituída de pretos e pardos (57,4%). Quanto mais baixa é a renda domiciliar, maior é a presença de pretos e pardos (68,1%).
A desigualdade reponta, também, quando se analisa a relação de classe com as instituições públicas de ensino. Elas são muito mais frequentadas por pessoas de baixa renda com idade de 4 a 24 anos (88,1%) e pelos de classe média baixa (80,2%). Cristovam Buarque tem razão: era preciso exigir que os filhos dos políticos se matriculassem em escolas públicas para que elas se tornassem alvo da atenção dos governos e melhorassem. E, também, o sistema público de saúde e os transportes públicos.
A demanda por saúde pública fica evidente no fato de que 75,3% dos brasilienses de classe alta têm plano de saúde privado, contra apenas 11,8% das pessoas de baixa renda. E por transporte público também: o público com renda alta é o que mais usa carro para ir ao trabalho (84,5%), enquanto são os de classe baixa que mais utilizam ônibus para ir trabalhar (52,9%).
Esses problemas figuram na lista das questões insanáveis e insolúveis de Brasília. Entra governo, sai governo, e esses desafios não têm solução. Não é com sucateamento, com viadutos e com educação militarizada que esse quadro de precariedade será superado. É preciso que o eleitor fique atento às propostas dos candidatos para a saúde, a educação e o transporte públicos.