Um estudo da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) apontou que, em 2030, o DF deverá ter mais idosos (18% da população) do que crianças (17% dos brasilienses). A pandemia mudou os rumos desta estatística, como explicou o diretor da Sociedade de Geriatria do DF e professor de medicina da UnB, Otávio Nóbrega, em entrevista na edição desta quinta-feira (12/5) do CB.Saúde — programa em parceria do Correio com a TV Brasília, com apresentação da jornalista Carmen Souza.
O pesquisador em envelhecimento explica que a sensação de envelhecimento populacional é real no país. “A gente sempre teve em mente o fato de que a população brasileira está envelhecendo, não é um fenômeno particular nosso. Talvez a grande novidade seja esse processo acelerado. Isso já é uma realidade. As pessoas passaram a ter menos filhos. A queda da natalidade e de fecundidade foi tamanha que decaiu a população em uma velocidade acentuada. Teremos, proporcionalmente, com isso, mais idosos do que crianças no DF”, afirma.
A pandemia impactou diretamente a expectativa de vida dos brasileiros, como justifica o professor, em números. “Até 2019, pré-pandemia, a expectativa era de 76,6 anos, em média. Houve uma perda de quatro anos após a pandemia. Retrocedemos aos patamares de 2010, quando a expectativa era de 72 anos. Ainda assim, as pessoas conseguem chegar acima dos 70. A média etária diminuiu, mas a proporção dos que chegam, pelo menos aos 60, também aumentou. Não diminuímos a velocidade de envelhecimento, mas apenas o linear máximo que as pessoas estão conseguindo atingir”, demonstra.
Dentro do cenário brasiliense, o envelhecimento já impacta, em uma crescente, toda a população local. “No passado, esse envelhecimento demográfico foi mais concentrado em áreas mais nobres. Já se prevê para 2030, 2035, uma distribuição mais igual, onde regiões mais carentes serão bastante populosas de idosos. Se nota um envelhecimento mais marcante nas regiões mais ao norte e ao leste do DF, já que no sul e no sudeste, que é mais populoso e abundante, já tem um envelhecimento concretizado”, relata o docente.
Para efeitos de futuro, as mudanças no cenário nacional apontam um retrocesso na população total. “É esperado que, em algum momento, o nosso crescimento vegetativo (diferença entre natalidade e mortalidade) chegue a zero. Essa diferença tem diminuído gradativamente, ano após ano. Em algum momento, elas se encontrarão e a pandemia acelerou esse encontro. A população brasileira, em algum momento, começará a encolher, a regredir demograficamente”, espera Otávio.
A longo prazo, o Brasil tende a retomar números demográficos do século passado, segundo o professor. “Tínhamos expectativa de que esse ponto de inflexão decaísse em 2045. A estimativa atual é que essa mudança seja a partir de 2030 ou 2035. A previsão é de que chegaríamos a 230 milhões de habitantes, mas a estimativa é corrigida agora, em função da pandemia, para atingir um máximo de 220 milhões, por volta de 2030. A partir daí, teremos a população involuindo e com grande chance, regrediremos a ter os 160 milhões de habitantes que tínhamos em 1990. Isso deve acontecer por volta de 2050, 2060”, ressalta.
*Estagiário sob a supervisão de Nahima Maciel