Viver na capital do país está cada vez mais caro. Em abril, a inflação no Distrito Federal registrou alta de 1,21%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Apesar da leve queda do indicador na comparação com março (1,41%), o resultado de Brasília foi o terceiro maior do país, atrás do Rio de Janeiro e de Aracaju, e acima da média nacional (1,06%).
A Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) detalhou o cenário, com base nos números do IBGE, e divulgou que os aumentos recorrentes do preço do combustível contribuíram para maior custo de vida no DF. Entre maio de 2021 e abril de 2022, a gasolina acumulou alta de 33,3%.
Pesquisador da Gerência de Contas e Estudos Setoriais da Codeplan, Renato Coitinho ressalta que uma pressão inflacionária recente tem sido observada, especialmente, no setor de transportes e no grupo de alimentação e bebidas. “O mês de abril não foi diferente, com uma elevação de 6,2% nos preços do principal combustível distrital. Os dados indicam que encher o tanque, hoje, custa cerca de um terço a mais do que em abril do ano passado”, exemplifica.
A alta da gasolina, de acordo com Renato, é repassado aos consumidores em geral, pois encarece os custos de frete e mobilidade dos produtores. “Já os preços dos alimentos cresceram mensalmente acima de 1,0% em nove dos últimos dez meses, o que pressiona o poder de consumo das famílias, em especial aquelas de menor renda”, pondera o pesquisador.
A moradia, diferentemente dos outros itens analisados, teve queda no preços caíram em abril, -0,47%. A diminuição se deu graças à redução da bandeira tarifária de escassez hídrica, o que, segundo Coitinho, foi um alento para os moradores do DF. “Mesmo capturando metade do mês, essa alteração gerou uma queda de 5,3% nos preços da energia elétrica no mês passado, segurando uma inflação maior e tornando o grupo de habitação o único a apresentar deflação no período”, explica.
Faixas de renda
O Codeplan calculou a taxa de inflação por faixa de renda no DF, com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo IBGE. Segundo a análise, os 25% mais pobres da capital perceberam aumento de 0,97% nos preços em abril, enquanto os 25% mais ricos notaram um incremento de 1,16%. As faixas intermediárias foram as mais afetadas: 1,34% (média-baixa) e 1,42% (média-alta). Os gastos com gasolina têm pesos menores nas faixas das pontas: as famílias de menor renda não têm veículo próprio, enquanto as mais abastadas apresentam recursos para gastar com outros produtos. “As famílias de alta renda tendem a gastar uma porcentagem menor de seu dinheiro com energia elétrica e aluguel, e mais com passagens aéreas, do que as demais faixas”, avalia Renato Coitinho.
Embora os dados do DF apresentem melhora em relação a março, o economista e professor de mercado financeiro da Universidade de Brasília (UnB) César Bergo pondera que o número se torna bastante elevado, se comparado a 2021. “Isso faz com que ela passe os 12% ao ano, no acumulado. Esse aumento impacta diretamente a mesa do brasiliense”, alerta. Bergo afirma que era esperado que a energia elétrica fosse um fator importante para reduzir a inflação da capital, mas que, embora ela tenha contribuído, não foi o suficiente para que o índice ficasse em um número razoável.
Para o especialista, a tendência é de que a inflação continue forte, declinando a partir do segundo semestre. “Esperamos que ela chegue ao final do ano com algo próximo a 7%, o que é bem acima do que já tinha sido previsto — na faixa de 6%”, adianta. César Bergo considera que o cenário exige, por parte do consumidor e do trabalhador, muita disciplina e determinação. “A renda cai, o desemprego está elevado, e isso acaba contribuindo para que a vida do brasiliense fique bem difícil. A dica é, sobretudo, evitar endividamento, porque os juros devem estar elevados ainda, o que acaba comprometendo os orçamentos domésticos”, aconselha.