Além da expansão do comércio, muita coisa mudou desde que Águas Claras se desmembrou oficialmente de Taguatinga e se tornou uma região administrativa, em 6 de maio de 2003. A cada ano, dezenas de prédios residenciais foram inaugurados, e nesta sexta-feira (6/5), no aniversário de 19 anos da cidade vertical, a região conhecida como o maior canteiro de obras da América Latina conta com mais de 700 edifícios. Mas em 1999, quando José Júlio de Oliveira se mudou para Águas Claras, existiam apenas quatro prédios ocupados na região.
Aos 62 anos, ele conta que decidiu morar na cidade por diversos fatores, entre eles, a segurança, tranquilidade e conforto da região. "Já morei na Asa Norte e em Taguatinga, mas em nenhuma delas tinha essa verticalização de Águas Claras, que eu adoro. Muitos reclamam disso, mas é um ponto que estava previsto no projeto da cidade, e eu me interessei em morar aqui porque a região foge daquela arquitetura tradicional do Plano Piloto, que, apesar de muito bela, chega a ser monótona", diz o educador. "Muitas cidades parecem que pararam no tempo, mas Águas Claras nunca parou, todos os dias tem algo novo por aqui."
O estudante Guilherme Peixoto, 22, concorda, e acrescenta que a cidade traz "paz de espírito" para sua rotina corrida. Na maior parte da semana, ele faz yoga no Parque Ecológico da região. Depois da prática, gosta de sentar e ouvir música enquanto observa os moradores e vendedores ambulantes que passam no local. "Eu nasci na Bahia e vim pra cá em 2017, foi a única região do DF que eu morei, mas é um lugar em que realmente me sinto seguro, por causa do excesso de pessoas e de movimento", diz o jovem. "Além da pista de skate, onde fiz muitos amigos, meu lugar favorito daqui é o parque, porque adoro a ideia de sair de uma selva de pedras, que é a cidade, e dar de cara com essa natureza linda. Como eu moro aqui do lado, tenho muita qualidade de vida."
Há cerca de 15 anos, ainda era comum se deparar com ruas não pavimentadas em Águas Claras. Tamires Amorim, desenvolvedora web de 27 anos, lembra que se mudou wpara a cidade em 2012, quando as opções de lazer ainda eram poucas. "Como minha mãe morava aqui antes de mim, frequentei muito a região quando era criança, morava na Octogonal, mas voltei para cá por escolha própria, porque aqui tem tudo que preciso e é muito agradável para viver. Mas, quando era criança, não tinha muita coisa. Lembro-me que eu e minha irmã gostávamos de ficar em frente à estação de metrô, acenando para os trens que passavam, porque era nossa opção de lazer", conta.
Tamires frequenta o Parque de Águas Claras todos os dias e considera que a cidade é o local perfeito para quem está "começando a vida". Foi o caso também de Tatiana Félix, de 43, que se mudou para a região em 2008. "Eu e meu esposo construímos tudo que temos aqui. Também foi aqui que meus filhos nasceram e cresceram, fizeram amizades, e foi onde eu comprei e financiei meu primeiro apartamento", diz a fisioterapeuta. Ela faz parte do grupo e página "Mães e Amigas de Águas Claras", que reúne, em redes sociais, mais de 100 mil mulheres que moram na região. A associação surgiu de uma necessidade que ela e conhecidas de Águas Claras sentiram quando se mudaram: "Éramos um pequeno grupo de mães que se ajudavam, que indicavam serviços umas para as outras, mas a gente precisava de uma rede de apoio na cidade, e conseguimos crescer tanto que hoje o grupo tem um nome bem conhecido por aqui".
Perfil
Para Tatiana, Águas Claras tem diferenciais específicos em relação ao Plano Piloto e demais regiões da capital: "Aqui tem muitas esquinas, o que torna as coisas mais perto umas das outras. Eu consigo ir a pé a muitos lugares, e enquanto eu caminho pela cidade, encontro sempre algum conhecido, o que nunca aconteceu comigo no Plano Piloto. Também me sinto mais segura aqui, meus filhos podem brincar à vontade dentro do nosso condomínio, sem que eu me preocupe, e no Plano, eu não encontrava muitos prédios com a segurança reforçada, como aqui".
Outra característica única da cidade, segundo a fisioterapeuta, é a forte presença comunitária. "Nas redes sociais, muito se diz que o morador de Águas Claras só reclama, existe esse estereótipo sobre nós, mas o que eu vejo aqui não é isso. Vejo pessoas jovens, ativas socialmente, e que participam de associações, conselhos, que vão atrás do poder público, das empresas, e que cobram melhorias constantes para a cidade", explica. Segundo ela, é por causa dessa cobrança que a região conquistou diversos avanços ao longo dos anos.
Desde a última Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD) divulgada pela Companhia de Planejamento do DF (Codeplan-DF), em 2018, a região de Águas Claras já apresentava crescimento populacional acelerado, com uma grande quantidade de jovens famílias de classe média. Os dados mais recentes sobre a região mostram que, até 2018, a população total de Águas Claras era de aproximadamente 161,1 mil pessoas, sendo a maioria (52,2%) mulheres, com idade média de 31,3 anos. A divulgação da nova PDAD está prevista para junho.