Na sociedade, as mulheres vêm conquistando espaço no mercado de trabalho. Atualmente, 34% dos negócios do país são liderados por mulheres e, só no DF, são 119 mil negócios comandados por elas. Em números de 2018, o quantitativo representa 36% das empresas da capital federal. Em cima do avanço feminino, uma situação tem aparecido de forma curiosa: mães e filhas trabalhando juntas. Nesta data especial, o Correio mostra duas histórias em que o campo materno e o campo profissional se misturam.
O primeiro caso vem de Águas Claras, na AN Estética — uma clínica em uma sala comercial na Rua Pau Brasil. O nome é referência às iniciais de mãe e filha, que trabalham juntas. Natália Barreto, 28, era formada em moda e tinha uma loja própria. Ao fazer um curso de maquiagem, apaixonou-se por estética. Junto à mãe, a esteticista Alessandra Barreto, 48, abriu um centro técnico de maquiagem e estética.
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Com a pandemia, tanto a loja quanto o centro técnico foram fechados e Natália juntou-se à mãe para abrir a AN Estética, em agosto de 2020. Alessandra descreve como foram as primeiras dificuldades, no apogeu da pandemia. "Foi naquela confusão, de falta de recurso, que tivemos que parar por 60 dias. Hoje, é normal a gente se surpreender a cada dia, principalmente com o nosso movimento", relata.
Natália fala sobre os problemas da mãe na gestão, o que motivou a união familiar. "Ela trabalhava muito, tinha muitos clientes, mas não tinha prosperidade, não desenvolvia um recurso palpável. Percebendo que ia dar certo, com o que eu sei de administração, sugeri essa sociedade", explica. A filha também fala do crescimento em meio à crise da covid-19. "A gente só cresceu durante a pandemia, em uma sala comercial, dedicando-se na internet. Mudamos de uma sala de 28m² para uma de 60m², temos uma equipe e tudo começou em um sonho meu e dela", descreve.
A mãe, com 14 anos de carreira, fala sobre as oportunidades que viu na pandemia. "O uso da máscara favorece a acne, pois a bactéria causadora dessa patologia gosta de calor e umidade. Nesse momento, aproveitei e pensei: agora é a minha hora", justifica. A filha, gestora, aponta o sucesso na prática: "Deu muito certo. Onde estamos, só temos como melhorar se expandirmos em número de clínicas. O nosso maior público, por exemplo, não é de Águas Claras".
Para Alessandra, o segredo está no respeito hierárquico, variando das áreas de domínio de cada um. "Eu sei administrar a minha casa e as minhas filhas. Aqui, na administração, a hierarquia parte da Natália, e no operacional, comigo. O que é de competência dela eu escuto, eu não sei fazer o que ela faz e vice-versa. Isso é a base. Existem pessoas que, trabalhando com família, criam rivalidade e isso não existe aqui. Tem coisas que competem a cada uma de nós", esclarece.
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Natália explica como o ambiente familiar se alia ao trabalho, ajudando a criar um clima amistoso com a clientela. "Não é um atendimento robotizado, é muito familiar. Os clientes se tornam amigos: tem cliente que vem só tomar um chá e conversar. Isso é a maioria dos casos. Exceção é fazer o procedimento e ir embora. Quando uma de nós não está na clínica é estranho para quem está aqui, fica faltando alguma coisa", pontua.
Cumplicidade
A admiração de Natália pela mãe aumenta ainda mais após os desafios superados juntas. "Não foi sempre fácil, principalmente no início, era muito difícil — criamos a AN Estética com cara e coragem e é um milagre. Ela sempre teve muita sabedoria, principalmente quando eu estava fraca e desesperada por algum motivo financeiro ou alguma desordem, ela me colocava nos eixos mais uma vez. Ela é meu ponto de equilíbrio. Quando não estou bem, tenho que me deixar no lugar certo. Minha mãe é incrível", declara.
A retribuição do carinho também se faz notável nas palavras de Alessandra, grata pela existência da filha. "No dia da nossa inauguração falei dela e reitero: ela é meu porto-seguro. Independente da AN Estética, ela me abre os caminhos. A Natália, quando chegou na minha vida, me mudou para melhor, e depois da clínica, mais ainda. Antes de sermos sócias, eu tinha uma perspectiva de crescimento que nunca chegava. Nesses quase dois anos, vi uma ascensão absurda em meio à pandemia. Vi empresas próximas fechando em meses enquanto crescíamos. Ela é quem eu preciso na minha vida profissional e pessoal, o melhor que eu tenho na vida", afirma.
Colega de trabalho
Já imaginou ser companheira de trabalho da sua mãe? Esse é o caso da operadora de televendas Ana Beatriz Mattos, 18, que trabalha na mesma empresa que a mãe, a promotora de vendas Tatiana Mattos, 44. Embora desempenhem funções diferentes e não trabalhem diretamente ligadas, mãe e filha sabem que podem contar uma com a outra e aproveitam o horário de almoço para trocar experiências e conversar sobre a rotina familiar. "No dia a dia, a gente não se fala muito, mas quando preciso de algo, de um conselho, falo com ela. Ficamos juntas no horário de almoço. A gente aproveita para conversar coisas da família", relata a filha.
Segundo Tatiana, é possível dividir bem as relações pessoal e profissional. "Tudo começa em casa, deixando e buscando na faculdade, indo e voltando para o trabalho. Quando estamos trabalhando, a gente se fala por telefone, para esclarecermos dúvidas nossas e dos clientes. Separamos o relacionamento materno do relacionamento enquanto colegas. Nos trajetos, conversamos sobre as dificuldades, o que aconteceu, o que precisa melhorar, por exemplo", explica.
Novos espaços
Juntas, mãe e filha tem a possibilidade de conquistar novos espaços profissionais. Embora trabalhem em um ambiente onde a predominância de homens é muito maior, Ana Beatriz afirma que não percebe diferenças de tratamento, por serem mulheres. Elas trabalham em um home center. "Eu vou muito à obras e hoje em dia não há essa diferença, pois hoje está mais fácil os homens entenderem o nosso espaço, que foi conquistado com muita luta", destaca.
Tatiana trabalha na empresa há sete anos, e é referência na área, conquistando seu espaço ao longo dos anos. "No início, quando eu falava de coisas do meu setor (louças e metais), desde o básico aos reparos, eu tinha que perguntar para alguém se eu estava falando as coisas corretamente. Hoje, os clientes querem falar diretamente comigo. A visão machista tem mudado", descreve.
As declarações de amor também seguem a natureza de trabalharem juntas, como descreve a filha. "Ela me ensina o que é amor, perdão e como tenho que agir. O meu caráter é formado pelo que ela me ensinou. Me vejo como o espelho dela — o que eu sou hoje é graças a ela. Tenho que tirar o chapéu para ela: minha força e minha base diária", afirma Ana Beatriz.
A mãe, por sua vez, incentiva a filha para que seja sempre melhor. "Não esperava pela Ana, que veio em um dos momentos mais difíceis da minha vida. Então, ela, por ser menina, é minha força. Meu motivo de estar de pé, de lutar, correr atrás e fazer tudo por ela. Sempre a incentivo a ser melhor — me dizem que ela é igual a mim, e eu digo que ela é melhor que eu", declara.
*Estagiário sob a supervisão de Michel Medeiros