Reeleito nesta terça-feira (3/5), em chapa única, para a presidência da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), José Aparecido da Costa avalia que a recuperação da economia na capital do país terá um longo caminho pela frente. O empresário do setor de papelarias recebeu apoio da maioria dos sindicatos filiados à federação e assumirá a gestão da Fecomércio-DF pelos próximos quatro anos. Em entrevista ao Correio Braziliense, ele fez uma análise sobre o atual cenário para comerciantes do DF, e falou sobre seus planos e prioridades à frente da entidade.
Para o presidente da federação, a prioridade, no momento, é que a capital "volte a gerar empregos". Ele avalia que, apesar de novas contratações feitas neste ano, a taxa de desemprego ainda está alta na capital. Na entrevista, o empresário também elogiou a revisão da Lei de Uso e Ocupação de Solo (Luos), sancionada na última quinta-feira (28/4) pelo governador Ibaneis Rocha (MDB), e comentou que novas medidas serão apoiadas e trabalhadas pela federação, em parceria com o GDF, para facilitar o crescimento do setor produtivo. Leia a entrevista, na íntegra:
Qual é a sua principal missão à frente da Fecomércio-DF, no período pós-pandemia?
É fazer com que o comércio possa se recuperar. A gente sabe que a recuperação não vai ser rápida, vai ser lenta, mas a missão é apoiar todo o setor produtivo e continuar trabalhando para que tenha números positivos e que o comércio volte a crescer, que possamos voltar a gerar emprego, porque é o que mais precisamos neste momento tão difícil.
Como o senhor pretende modernizar a federação e ampliar a atuação dela no Distrito Federal?
Nós vamos trabalhar colocando o Sesc e o Senac à disposição da população, desenvolvendo um trabalho transparente, visando atender toda a população do Distrito Federal com o projeto Fecomércio Perto de Você. Então, a ideia é dar continuidade e apoiar o setor produtivo. Estamos aqui com esse objetivo: apoiar o setor produtivo e a retomada no Distrito Federal.
Quais são os efeitos da crise da covid-19 no comércio, e até quando o setor sentirá os efeitos da pandemia?
É difícil prever um tempo, mas estamos tendo bons números. Na recente pesquisa que o Instituto Fecomércio fez em relação às vendas de datas comemorativas, vimos que os números da Páscoa e do Dia das Mães são bons. Em termos de recuperação, o DF é a quinta unidade da Federação que está com a recuperação mais rápida, e nós esperamos que continue neste ritmo, que possamos ter uma recuperação boa. Tivemos um crescimento nas vendas do comércio de 4,7%, de janeiro para fevereiro deste ano. Temos aí uma perspectiva de crescimento de vendas para o dia das mães de 26%, e na Páscoa, já tínhamos a perspectiva de crescer 18%. A perspectiva é boa, mas a recuperação pós-pandemia não vai ser rápida. Não tem como ser, porque o setor de turismo, de eventos, teve um baque muito grande na pandemia, e agora que esses setores estão voltando a funcionar. São dois setores muito afetados e que fazem girar muita economia, porque são cerca de 50 atividades ligadas a esses dois setores, então nós esperamos que eles voltem totalmente às suas atividades normais para ajudar na recuperação.
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A contratação de empregados pelo comércio vai aumentar a partir do segundo semestre ou ficará estagnada?
O comércio está contratando mais do que antes, mas ainda está contratando pouco. O setor produtivo de modo geral, de comércio, de bens e serviços, está contratando. O nível de desemprego no DF diminuiu, mas muito pouco. Então nós ainda temos mais de 280 mil desempregados, e a recuperação realmente vai ser lenta, mas já está começando, e isso é um bom sinal.
Qual é o tipo de ajuda e serviço que a Fecomércio-DF presta a sindicatos empresariais da capital, atualmente, e como essas entidades podem se fortalecer?
Na verdade, o sistema sindical e federativo dependem um do outro. Então, o setor sindical, no passado, era um setor muito importante para a Fecomércio. Hoje, depois da lei da reforma trabalhista, os sindicatos se enfraqueceram muito. Então temos que trazer o empresariado para dentro do sindicato, fazer com que as empresas voltem a participar dos sindicatos, para que os sindicatos possam se fortalecer.
Quais são os entraves gerais que temos hoje, no DF, para estimular a retomada da economia?
São resíduos que temos de dois anos de pandemia, abre e fecha. O comércio, para funcionar, precisa de tempo e investimento. Temos muita falta de produtos hoje, em diversas áreas, então isso atrapalha bastante, a inflação está bem alta, os juros estão muito altos. Estamos saindo de uma pandemia, com juros altos e inflação alta, isso inibe ainda mais o crescimento. Mas temos que ter fé e trabalhar que tudo vai dar certo. Agora estamos tendo uma retomada, e principalmente no Distrito Federal a retomada já está acontecendo, mas não vai ser com a rapidez muito grande porque a pandemia abalou o mundo inteiro, e agora estamos também com uma guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que acaba afetando um pouco.
De que forma a Fecomércio-DF pretende atuar, junto ao GDF, para atender melhor às demandas do setor?
Nós tivemos a Luos (Lei de Uso e Ocupação do Solo), que foi sancionada recentemente, e que realmente vai ajudar um pouco nesta retomada. E ainda temos o PPCub (Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília) pela frente, que vamos trabalhar para tentar, neste ano eleitoral, fazer com que seja aprovado ainda este ano. O PPCub é um conjunto de ações que o governo local pode fazer que realmente vão nos ajudar muito na retomada da economia. São leis que destravam determinadas atividades, principalmente dentro da área tombada do Distrito Federal. Temos um país com muitas leis, e o PPCub vai trazer uma liberação de muitas áreas para funcionamento, por exemplo, de postos de gasolina no Eixinho. Quando surgiu a legislação dos postos de gasolina no Eixinho, só podia ter posto de gasolina, mas hoje os postos têm lava-jato, loja de conveniência, borracharia, e infelizmente, no Eixinho não pode ter. E não dá mais para os postos funcionarem apenas vendendo combustível.
Como a sanção da Luos vai afetar o setor produtivo, de forma geral?
Tínhamos vários endereços no Distrito Federal, lojas do Distrito Federal, em avenidas comerciais, que eram tidas como residências. E por isso, então, as empresas não podiam montar comércios naquelas lojas, não conseguiam licença para isso. Nós tínhamos cerca de 10 mil licenças de funcionamento travadas por conta dessa regulamentação, e agora, com a sanção da Luos, essas empresas vão ser regularizadas e poderão começar a funcionar legalmente e fazer investimentos.