Após a divulgação da interdição da empresa Grid Pneus, acusada de enganar clientes com a cobrança de serviços extras, inúmeros clientes manifestaram experiências desagradáveis com o estabelecimento. Vídeos obtidos pelo Correio mostram os consumidores identificando problemas que teriam sido causados propositalmente por funcionários da loja. A reportagem conversou com uma das vítimas, que denuncia que teve as quatro rodas empenadas logo após se recusar a realizar alguns serviços sugeridos pelos mecânicos (veja os vídeos abaixo).
Em 4 de fevereiro, a dentista Rudyane Vlieger, 28 anos, compareceu à loja da Asa Norte para trocar os quatro pneus. O serviço foi combinado anteriormente com um vendedor, que, por telefone, informou a gratuidade do balanceamento e alinhamento, bem como a limpeza do filtro do ar-condicionado. Por ter feito uma revisão em novembro do ano passado, Rudyane dispensou o serviço gratuito de limpeza de filtro do ar.
Ao chegar na empresa, a dentista conta que foi encaminhada a uma sala de espera e, em seguida, chamada por um vendedor que lhe mostrou inúmeros danos no veículo. “Eu tinha feito uma revisão há dois meses, então o carro estava zerado. Eles me falaram também que a bieleta esquerda se apresentava empenada e que a barra da direção estava solta, tentaram me coagir com base no risco que eu estava assumindo com a minha segurança", disse. Resistente, a Rudyane disse ao funcionário que não tinha interesse em outros serviços, exceto trocar os pneus.
Ao final do serviço, o vendedor disse que, como a cliente não havia aceitado o serviço adicional, complicaria o balanceamento e alinhamento do pneu. “Diante disso, eles me disseram que não poderia dar a garantia e eu falei que não queria mais”, disse. Um outro mecânico interferiu na conversa entre a dentista e o vendedor e afirmou que a garantia era do próprio fornecedor. Mesmo desconfiada, ela deixou terminarem o serviço e questionou ao mecânico quanto à linha do pneu comprada. “Ele foi super impaciente, sempre correndo de um lado ao outro sem parar para conversar comigo direito. Sugeriu colocar meu pneu de volta e eu aceitei ao que ele esbravejou pra outro mecânico: 'Tá bom, desmonta tudo então pra ela e põe o dela. Cê é louco!', se mostrando super incomodado comigo”, descreveu.
Danos intencionais
Três dias depois, a dentista procurou a concessionária onde havia feito a revisão do veículo. Durante a avaliação, o mecânico mostrou marcas no carro que indicavam danos provocados intencionalmente, como marcas de apoio no amortecedor para movimento de alavanca para empenar a bieleta esquerda, na barra da direção e todas as quatro rodas estavam empenadas.
Em um vídeo, o marido de Rudyane detalha o estrago. “Essas duas marcas não têm como ter sido causada de forma natural. Foi intencional para causar problemas no balanceamento dela. Aqui, tinha indicativo de instrumento para desregular a barra de direção.” Atualmente, a dentista diz ter medo de dirigir e se sente lesada financeiramente.
Em entrevista ao Correio, o diretor-geral do Procon-DF, Marcelo Nascimento, deu detalhes de como os funcionários das lojas agiam e enganavam os consumidores. Além de treinar mecânicos para condenar peças de automóveis de clientes e, como recompensa, oferecer comissão, os donos da Grid elaboravam ordens de serviço sem autorização dos clientes e mantinham uma tabela de preço diferenciada para cada consumidor.
Nas lojas, as equipes encontraram, por exemplo, uma ordem de serviço de “suspensão premium” em que, os preços variavam entre R$ 1,6 mil a mais de R$ 2 mil. “Se era mulher, era um valor. Idoso, era outro. Tecnicamente, para mulheres eles cobravam mais caro aquele mesmo serviço, fora a lesão que eles criavam ao cliente”, destacou Marcelo.
Em algumas ordens de serviço, os mecânicos cobravam ou não a mão de obra. A hora da mão de obra chegava a custar até R$ 600. Além disso, foram constatados serviços em duplicidade e até troca de nomes. Por exemplo, ao invés de alinhamento ou balanceamento, eles trocavam por “geometria”, a fim de confundir o cliente e tirar proveito. O caso tramita em segredo de Justiça. O Correio tenta contato com a empresa. O espaço permanece aberto para manifestações.
Ana Luísa Machado, advogada em direito do consumidor, explica que os relatos corriqueiros se justificam porque os consumidores em geral não detêm informações suficientes para compreender a temática. Para se resguardar dos golpes, a especialista orienta os clientes a formalizarem dos orçamentos, buscar oficinas com registro na junta comercial e investigar a credibilidade do estabelecimento em sites de avaliação de serviços. “A vulnerabilidade é conceito que permeia todo o direito do consumidor, o qual busca proteger a parte mais frágil da relação de consumo, a fim de promover o equilíbrio contratual”, frisou.
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