Um novo capítulo da guerra de gangues no Distrito Federal aconteceu na madrugada de segunda-feira (23/5), quando foi realizada a Operação Finis. A ação cumpriu 59 mandados de prisão e 37 de busca e apreensão de membros de grupos rivais atuantes no Itapoã e no Paranoá, denominadas Fábrica de Luto/Comando Bala Voa (FBL/CBV) e Vinte e Nove (V9T2). Esses conflitos, apenas em 2021, teriam deixado, ao menos, 22 mortos e 68 feridos nas regiões.
O delegado-chefe da 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá), Ricardo Viana, informou que as investigações mostraram que os indivíduos que compunham os grupos tinham passagens por vários crimes, como tráfico de drogas, receptação e homicídio, sendo todos os classificados como de alta periculosidade.
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A investigação durou cerca de um ano e meio e apurou cinco anos de atuação dos grupos na região. "No momento, nós encerramos parte da operação com 26 mandados de prisão cumpridos. Doze pessoas são consideradas foragidas, mas eu digo que as equipes estão na rua, e nós temos mais 22 mandados a serem cumpridos no sistema prisional", detalha o delegado Viana. Dos mandados cumpridos, cinco foram de prisão em flagrante.
Origem da investigação
O delegado Paulo Henrique Feitosa, também da 6ªDP, ressalta que as investigações começaram após a identificação de diversos homicídios interligados na região. "Por volta de 2018, começamos a ver que diversos crimes de homicídios ocorridos em nossa região — Paranoá e Itapoã — tinham relação com duas gangues bastante atuantes no local", conta.
A gangue Fábrica de Luto/Comando Bala Voa (FBL/CBV) age principalmente nas quadras 6, 8, 10 e 12 do Paranoá. A Vinte e Nove (V9T2) tem como territórios a Quadra 29 e no Itapoã 2. De acordo com o delegado Marcelo Viana, a intenção dos grupos era lotear a região, estabelecendo áreas para prática de crimes como roubo, homicídio, tráfico de drogas e receptação, sem uma motivação específica além da dominação territorial.
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Mortes e saidões
Outro ponto de interesse para a investigação foi a incidência de homicídios ocorridos em saídas temporárias de presos no DF. "Nós identificamos que durante os saidões houve, ao menos, um homicídio tentado. Os indivíduos que estavam no presídio executavam rivais a mando de outros que também estavam presos", afirma. Por esta razão, alguns criminosos que estão presos também foram alvos dos mandados de apreensão.
Um dos casos de execuções feitas por membros beneficiados pela saída temporária aconteceu em junho do ano passado, no feriado de Corpus Christi, quando dois detentos foram presos pela Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) por assassinar um homem na Quadra 32 do Paranoá. Os criminosos, identificados como Fernando Fagner e Vinícius, se disfarçaram de garis para praticar o homicídio.
Eles invadiram a residência da vítima, identificada como Ronielly, 23 anos, e o mataram a tiros. Depois, roubaram um veículo Renault Duster branco para fugir. Militares do 20º Batalhão Policial monitoravam o local e viram o carro deixar o Conjunto D em alta velocidade. Os criminosos foram capturados na DF-001, próximos a um pinheiral, após capotar o veículo.
Ódio desde cedo
O delegado Paulo Henrique Feitosa alerta para a grande participação de crianças e adolescentes em grupos criminosos. "Há diversos jovens que atuam nessas gangues. Inclusive, alguns iniciaram quando eram menores, já são maiores de idade, e foram presos hoje (segunda-feira). Geralmente esses adolescentes estudam no mesmo lugar, frequentam os mesmo lugares, mas, por conta da territorialidade traçada por essas gangues, eles se odeiam desde tenra idade e não sabem o porquê desse ódio. Simplesmente, porque uma pessoa mora em outro local, eles são obrigados a odiar. E esse ódio desde a adolescência se perpetua até a fase adulta, o que culmina em crimes hediondos, como os que estamos apurando", explica.
O cenário de gangues e de disputa entre bandidos é algo bem comum no DF. De acordo com o especialista em segurança pública Leonardo Sant'anna, o surgimento desses grupos atrelados à criminalidade, está ligado a necessidade de continuar mantendo seus pontos de comercialização de drogas, bem como da locação de armas e a venda de substâncias tóxicas e entorpecentes, ou seja, a briga por territórios é fator preponderante para os conflitos. "É muito complicado dizer que é só para domínio de território, apenas para provocar ou provar quem é o melhor. Tudo isso carrega um histórico bem mais antigo", destaca.
A presença de menores de idade, frequente nessas organizações, requer um olhar atento. Segundo o especialista, muitas questões estão imersas nessa realidade, como: desassociação familiar, efetividade do sistema educacional, e aqueles que são atraídos para esse contexto pelo dinheiro, uma vez que alguns são responsáveis pelos custos dentro de casa. Na visão de Leonardo, outro motivo que corrobora nesse vínculo é a pena de prisão que, para menores, é relativamente pequena. Isso, para muitos, é um pretexto para entrar na vida do crime.
*Estagiários sob a supervisão de Guilherme Marinho
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