Com o inverno chegando, aumentam as preocupações com as doenças respiratórias típicas do período, que também afetam as crianças. Para a coordenadora do Departamento de Pediatria Ambulatorial da Sociedade de Pediatria do Distrito Federal (SPDF), Andrea Jácomo, neste ano, há uma sobrecarga de patógenos ameaçando os pequenos. "Desde outubro, lidamos com a circulação de vírus fora de época. Isso é algo no mundo inteiro, incluindo várias capitais do país", afirma. A pediatra foi a entrevistada da semana do CB.Saúde, programa do Correio em parceria com a TV Brasília e apresentação da jornalista Carmen Souza.
O que está acontecendo com esse excesso de doenças virais atacando as crianças?
Desde outubro do ano passado, lidamos com a circulação de vírus fora de época. É importante falar para os pais que isso é algo do mundo inteiro, incluindo várias capitais do país. Tivemos vírus respiratórios que circulam agora, de maio a julho, mas que já circulavam em outubro. Passamos pela influenza fora de época, no final do ano passado e em janeiro, simultâneo a mais uma onda de covid, com a ômicron, em adultos e crianças e agora estamos na temporada dos vírus respiratórios. O pico da ômicron passou, mas outros vírus continuam circulando e acometendo as crianças.
Temos percebido o aumento de internações em UTI por síndromes respiratórias graves. Qualquer um desses vírus pode causar essa síndrome?
O vírus essencial respiratório, que é o vírus da bronquiolite, é identificado em crianças pequenas. As que passaram os primeiros anos da pandemia mais poupadas, também foram acometidas por esses vírus. Temos o rhinovirus, que é o do resfriado, o adenovírus, e uma série de variações que voltam a circular intensamente à medida que as crianças saem mais de casa. O inverno tem uma peculiaridade que é de aglomerar as pessoas, fechar as janelas, como de ontem para hoje, o que atrapalha a circulação de ar e a ventilação das salas de aula e das brinquedotecas. Isso pode proporcionar um aumento nos casos respiratórios.
Como proteger as crianças nesse período de temperaturas baixas?
É importante prestar atenção nas crianças menores de um ano. A cabeça, como maior parte do corpo delas, é uma superfície muito vascularizada, e os pequenos perdem muito calor nessa região. É importante o uso de toucas. É preciso ter cuidado de madrugada com as extremidades: proteger mãos e pés com luvas e meias. Se ficar muito quente, a gente retira, porque também não faz bem para a criança. Para as maiores, que precisam sair cedo para a escola, precisamos colocar uma roupa em cima de outra, retirando durante o dia, para dar esse conforto térmico.
O inverno, oficialmente, começa daqui a um mês. Existem alguns
cuidados que podem ser tomados agora?
É muito importante se cuidar no inverno. Mantê-las hidratadas é importante porque as crianças não suam mas perdem calor para manter a temperatura. Nos ambientes secos, temos o hábito das bacias de água para regular a umidade. Casas que têm crianças pequenas não podem ter isso, pelo risco de afogamento. Daí, utilizamos a estratégia da toalha úmida. Umidificadores podem ser eficazes, mas de madrugada, quando esfria, eles podem ajudar na eclosão de ácaros, que desencadeiam as crises alérgicas. O cuidado é redobrado.
Esses vírus têm sintomas muito parecidos. É possível diferenciar e indicar os sintomas de alerta?
Alguns vírus têm sintomas mais característicos. O vírus da bronquiolite acomete as crianças maiores nas vias aéreas superiores, e lidamos com mais facilidade. Nas crianças menores, há o brônquio-espasma, onde a criança tem uma certa dificuldade na respiração, usando a musculatura para forçar a respiração. Outro sinal de alerta para os menores é a recusa ao mamar. Os quadros virais podem causar febre alta, mais insistentes nas primeiras 48 horas. Não precisa forçar a comida porque se o vírus acomete a faringe, a criança pode vomitar, precisamos reforçar a hidratação e deixar a criança em repouso.
Como entra a covid nessa história? É necessário o diagnóstico, nesses quadros?
Tivemos, há duas semanas, muitos quadros de herpangina, que são as lesões características de vírus na garganta. Se tem um quadro claro, não precisa do diagnóstico da covid. O Sars-CoV pode vir com o bronquioespasmo, pode fazer quadros de laringite, ou quadros gastrointestinais. Não tem como saber se não testar. No entanto, não muda a conduta, o tratamento. Alguns vírus precisam da detecção das complicações a longo prazo e o Sars-CoV é um deles.
Começamos a ver um aumento de casos de covid-19 no DF. Como tem sido esse cenário com o público infantil?
A nossa taxa de transmissão vem aumentando aos pouquinhos, desde o início de maio. Tivemos dois feriados em abril, flexibilização do uso de máscaras em locais fechados, o retorno das festas, comemorações infantis e tudo isso contribui para o aumento no número de casos, favorecendo essa disseminação. O número de crianças infectadas dobrou desta semana para a anterior. Acende-se o sinal de alerta para todos.
O sinal de alerta é maior em relação a uma possível sobrecarga nos hospitais, incluindo às UTI's pediátricas?
Sim. No Hospital da Criança ainda não foi desativada a UTI para a covid. Apesar de uma melhora na situação, os outros quadros respiratórios não permitiram esse fechamento e a UTI seguiu movimentada.
A proteção e adesão à vacina está estagnada. Para os pediatras, como é esse cenário?
Também estamos estagnados. Segundo o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, em abril, a síndrome respiratória aguda grave, em menores de 19 anos, teve mais de oito mil casos. Desses, quase seis mil, estão entre menores de cinco anos. É uma faixa etária que não tem acesso à vacina, mas precisamos ter atenção a elas.
Outros vírus também podem
ser evitados com vacinas?
A influenza, em sua temporada de vacinação, é oferecida para crianças de seis meses a cinco anos, sendo disposta na rede particular fora dessa faixa etária. É uma vacina que impede as formas graves da doença e a sua internação, ou hospitalização.
Como os pais podem ajudar a evitar a disseminação desses vírus?
O ideal é que deixassem as crianças, pelo menos, 48 horas sem febre, para retomar as atividades. Sabemos que os vírus são mais transmitidos em período febril. Nesse momento, deixo o meu filho em casa, protejo o meu filho, e o filho dos outros.
*Estagiário sob a supervisão de Michel Medeiros
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