Desde que voltou a ficar acima de 1, na sexta-feira (6/5), a taxa de transmissão da covid-19 no Distrito Federal segue em ascensão. Os aumentos se tornaram consecutivos a partir de 29 de abril. Nessa terça-feira (10/5), alcançou 1,16 — cada 100 infectados transmitem o vírus a, em média, outras 116 pessoas. Para as autoridades de saúde, o indicador abaixo de 1 significa que a pandemia está controlada. Antes do mês passado, o resultado havia passado de 1 pela última vez em 17 de fevereiro (leia Índices).
Em virtude do ritmo acelerado de infecções do fim de dezembro até essa data, o DF registrou ocupação de até 97% dos leitos em unidades de terapia intensiva (UTIs) da rede pública para pacientes com covid-19. No entanto, a vacina contra a doença contribuiu para que o número de mortes pelo novo coronavírus não acompanhasse o compasso de explosão dos casos. Um levantamento divulgado pela Secretaria de Saúde (SES-DF), em fevereiro, mostrou que, entre os internados no Sistema Único de Saúde da capital federal, cerca de 90% não tinham se imunizado ou recebido alguma das doses.
Com 83,8% dos brasilienses acima de 5 anos — público apto a se imunizar — vacinados com duas aplicações ou a dose única, o aumento da taxa de transmissão não exigiu a adoção de medidas sanitárias mais rígidas por parte das autoridades. Nessa terça-feira (10/5), o governador Ibaneis Rocha (MDB) revogou outro decreto que estabelecia estado de calamidade pública no DF, por causa da pandemia da covid-19. O novo texto suspende uma norma publicada em junho de 2020. Em 18 de abril, o chefe do Buriti adotou ação semelhante para derrubar uma determinação de março de 2021.
Subsecretário de Vigilância à Saúde do DF, Divino Valero avalia o cenário de cobertura vacinal como trunfo neste momento, em relação ao observado no período mais crítico da pandemia. "Os números das taxas tinham maior paridade com as internações e mortes, o que não existe hoje. Além disso, a cobertura vacinal em 90% contribui para que esses números não sejam alarmantes", afirma.
Na SES-DF, a estratégia tende a variar de acordo com o andamento da imunização. Em relação à aplicação da quarta dose em pessoas de outras faixas etárias, a pasta aguarda o envio de imunizantes pelo Ministério da Saúde, segundo o subsecretário. Apesar disso, Divino Valero acrescenta que há unidades suficientes para suprir o segundo reforço do grupo contemplado atualmente. "Temos de ficar atentos se houver variação na sequência de atendimentos. Tem gente que acha que a pandemia acabou e não toma as vacinas (complementares)", destaca.
Cuidados
A eficácia das vacinas contra a doença têm prevenido quadros graves e mortes provocadas pela covid-19. Intensivista do Hospital Brasília, o médico Rodrigo Biondi avalia essa relação: "O principal fator do imunizante é evitar o desenvolvimento de formas sérias da doença. O motivo de não termos um aumento expressivo das internações em UTI nem dos óbitos é exatamente pela taxa de imunização elevada".
O médico reforça que essa proteção é fundamental, ainda que não impeça a contaminação. "Mesmo com a vacinação, os casos existem por dois motivos: o imunizante não evita a infecção e as medidas sanitárias deixaram de ser cumpridas. Mas continuamos a recomendar às pessoas em situação de risco que mantenham o uso de máscaras em ambientes fechados e que evitem aglomerações desnecessárias", orienta Rodrigo.
Entre os brasilienses aptos a tomar a segunda dose, cerca de 120 mil não retornaram aos postos para recebê-la e, aproximadamente, 900 mil não receberam a terceira. Infelizmente, a negligência se transformou em saudade para a aposentada Lúcia Helena Ferraresi, 70 anos, que perdeu um amigo da mesma idade. O idoso havia decidido não se vacinar contra a doença. "Ele morreu recentemente. E perdi outros amigos, fora dessa faixa etária, pelo mesmo motivo. A quarta dose é essencial. Se houver mais, estarei aqui (no posto de saúde)", diz a moradora da Asa Norte, que conversou com a reportagem enquanto recebia o segundo reforço na imunização — disponível no DF desde sexta-feira (6/5) para pessoas acima dos 60 anos.
O casal de aposentados Eleonora Antuoga e Felipe Antuoga, ambos de 69 anos, seguiram fielmente a rotina de proteção. "Toda a família se vacinou e manteve os protocolos (de cuidados). Ninguém próximo a nós morreu. Só houve casos suspeitos e leves", relata Eleonora. Apenas o filho mais velho, que mora em Santa Catarina, e um dos netos do casal contraíram covid-19. Para Felipe, tomar a quarta dose representa uma prevenção básica neste momento de subida da taxa de transmissão no DF. "É interessante se imunizar adequadamente. E, se vier uma quinta, sexta aplicação, vamos receber também. Se temos o recurso, temos de usá-lo", completa.
*Estagiário sob a supervisão de Jéssica Eufrásio
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