Há muitos anos, não acompanho o tão comentado reality Big Brother Brasil, o BBB. Faz tempo que, para mim, a sigla se relaciona muito mais à abreviação de "bom, bonito e barato", referindo-se àquele bem ou serviço que a gente considera um achado, ainda mais em períodos de inflação alta.
Cheguei a assistir às primeiras edições do programa, quando anônimos corriam atrás de R$ 1 milhão, premiação a que estavam concorrendo apenas por serem eles mesmos, em frente às câmeras que os filmavam 24 horas por dia. Houve brigas, ameaças, romance, choro, risos, provas de resistência e tudo o mais que fez a fórmula da franquia dar certo.
Não voltei a me interessar, no entanto, nem mesmo quando o formato do programa mudou, e a premissa de selecionar anônimos deu lugar justamente ao contrário: chamar influencers e outros famosos para compor o time de "brothers" e ressuscitar o reality. Por motivos que me escapam um pouco à compreensão, deu certo.
Nas conversas com amigos, parentes e no trabalho, dificilmente faltava o momento de comentar algum detalhe da prova do dia, do paredão ou da festa preparada para os participantes. Eu, porém, continuei sem dar muita importância ou entender a empolgação. O que será que havia de tão original ou cativante naquele formato?
Analisando as redes sociais e o sucesso aparentemente instantâneo de tanta gente que grava, escreve e vive do que publica nelas, não fica muito difícil realmente entender todo o contexto. Apesar do toque de malícia que há em acompanhar a vida dos outros quando ela está submetida a esse grau de exposição, o programa da tevê aberta sempre escancarou mazelas sociais e contribuiu para lançar debates importantes: racismo, machismo, homo e transfobia, além de outros tipos de preconceito e de exclusão.
Hoje, ao falar de BBB, me sinto tratando de algo supérfluo. Mas me peguei pensando que, diante de todas as questões mais complexas que o mundo contemporâneo nos coloca e de que somos lembrados todas as vezes que levamos o carro para abastecer, por exemplo, talvez se permitir distrair com o programa do momento — que já anunciou a próxima edição — não seja tão má ideia.
Ainda sobra a angústia e a culpa de me focar em um problema tão trivial diante do abismo social e econômico em que mergulhamos após dois anos de pandemia. A cada pedido de ajuda no sinal, na porta de farmácia ou de supermercado, é possível ver o tamanho do problema. Não é preciso ser economista ou sociólogo para perceber que algo não vai bem. Nessas horas, a vontade é de escapar da realidade, ligar a televisão e começar a maratona de programas à la Big Brother.
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