"Não é o que a gente espera do que deveria ser uma cidade modelo para Brasília, inspirada no Plano Piloto". Esse é o relato de Celina Bessa, 37 anos, que mora em Águas Claras há 20 anos e, desde que chegou na região, precisa conviver com um emaranhado de fios nos postes. Além de moradora, ela possui um estabelecimento na Quadra 301 e conta que, quando comprou o imóvel — na mesma época em que mudou — havia um plano diretor para Águas Claras. "Nele, estava previsto que seria uma cidade planejada, com uma rede subterrânea, sem essa bagunça de fios", lembra.
No entanto, a empresária afirma que, com o passar do tempo, postes foram sendo colocados — de forma emergencial — para que a população recebesse energia elétrica. "Infelizmente, não houve a troca para a rede subterrânea. Então, hoje a gente fica com essa poluição visual na cidade", reclama. "Além disso, existe uma dificuldade na questão do fornecimento. Já houve situações em que fiquei sem luz aqui no meu estabelecimento, inclusive. Então, para quem também é do comércio, fica bem complicado", pondera Celina.
Outro morador de Águas Claras, o representante comercial Marcus Antonio Fernandes, 49, também comenta sobre a questão estética. "É muito feito, visualmente. Sem contar a questão imobiliária, pois, nos locais onde existem esse tipo de rede, os apartamentos acabam perdendo seu valor. E ainda tem o perigo que representa para quem está próximo", frisa.
Reclamação parecida tem o estudante Henrique Freitas, 18. Ele mora próximo a uma das estações do metrô. "Muitas vezes estou andando, me deparo com um fio solto e tenho que desviar, por não saber qual é o tipo", destaca.
Problema de custo
A professora de arquitetura e urbanismo da Unieuro, Hiatiane de Lacerda, explica que o sistema aéreo é mais mais barato de se implantar e de fazer manutenções do que o subterrâneo.
A urbanista confirma o que foi dito por Celina. "A região teve o seu planejamento desvirtuado. Isso porque, inicialmente, ela não seria uma área tão densa e com edifícios tão altos. Além disso, a ideia era que o sistema utilizado fosse o subterrâneo", esclarece.
A especialista aponta que infelizmente a troca da fiação seria algo inviável, por também esbarrar na questão econômica. Desta forma, Hiatiane afirma que uma solução paliativa seria o uso de uma rede compacta. "Isso já ajudaria na questão da poluição visual e dificultaria, mesmo que um pouco, a criação de conexões clandestinas."
Parte técnica
Davino Genésio também é arquiteto e urbanista, e trabalhou na Companhia Energética de Brasília (CEB) durante alguns anos. Ele explica o que é rede compacta. "É a compactação dos cabos na menor dimensão possível, deixando-os entrelaçados. Contudo, por estarem energizados, eles não podem ficar 'nus'. Eles são protegidos e isolados para que não entrem em curto-circuito."
As redes compactas também são melhores para o meio ambiente. "Justamente pelo fato do sistema precisar de um espaço menor e, por estarem protegidas e isoladas, diminuem o risco de animais voadores, que pousam nos postes, tomarem choques elétricos", defende. "No âmbito urbano, as redes compactas são boas soluções, pois interrompem o fornecimento com menor frequência do que as convencionais", explica.
Questionada sobre uma possível substituição da rede de fiação, a Administração Regional de Águas Claras disse ao Correio que, no momento, "não existe nenhum pleito para o remanejamento às vias subterrâneas".
Responsável pela criação dos projetos de infraestrutura das cidades, a Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap) informou que o padrão para as regiões administrativas da capital são as redes aéreas, por conta dos custos que o soterramento incide.
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