Legitimamente brasileiro, o choro é uma manifestação musical surgida em meados do século 19 com influências dos tradicionais bailes europeus, da jovem classe de profissionais liberais e boêmios, além da preponderância direta da cultura africana resistente. Um patrimônio que foi celebrado no último sábado, Dia Nacional do Choro, e que, este ano, vai prolongar a comemoração no Distrito Federal com um projeto musical destinado às escolas da rede pública: Choro Brasileiro.
Idealizado por um grupo de musicistas apaixonados pelo gênero, o projeto pretende apresentar a riqueza do violão, flauta, cavaquinho — instrumentos bases do choro — em atividades musicais para conquistar ouvintes e, quem sabe, despertar talentos.
Entre abril e maio, os amigos Fernando César, Pedro Vasconcellos, Thanise Silva, Valerinho Xavier percorrerão quatro escolas localizadas no Gama, Ceilândia, Paranoá e Riacho Fundo II. Eles formataram o projeto e apresentaram às unidades de ensino que autorizaram a atividade de extensão com a comunidade escolar.
O músico Fernando César, 51 anos, explica que as ações de formação de plateia consistem em um trabalho de mediação abrangendo o momento que antecede e sucede a experiência de assistir ao espetáculo musical. "A gente preparou uma cartilha falando sobre o choro, sobre os instrumentos e alguns vídeos contando a história do choro em Brasília. A intenção é levar para as escolas esse estilo musical que hoje não é tão predominante, mas que é uma grande identidade cultural do Brasil", acrescenta.
Ele explica que atividades são feitas em etapas. Primeiramente, os professores participam de uma capacitação com os músicos, que destacam a importância do gênero musical brasileiro e a influência do conjunto regional para o desenvolvimento da música popular no Brasil. Durante o workshop, os mediadores sugerem atividades que podem ser feitas com os alunos durante o ano. Após esse primeiro contato, professores e instrumentistas promovem oficinas informativas sobre música e o choro e fecham as atividades com um show, o espetáculo Tudo Novamente.
Projeto permite troca cultural
O intuito da iniciativa vai além de apenas proporcionar um dia diferente para os estudantes. "Eu sempre tive vontade de apresentar o choro para estudantes das escolas públicas, mas queria algo além da música e da apresentação. Mais do que só aquela coisa da gente ir lá e tocar, que é legal, mas queríamos atividades que pudessem envolver um pouco mais as crianças e deixar uma marca nela", explica Fernando César, que também é professor de música.
Fernando conheceu o choro em 1981, por meio do pai que frequentava o Clube do Choro em Brasília e incentivava os filhos a tocarem. "É o meu habitat, eu toco choro e minha vida é focada nisso", conta. Hoje, o professor de música quer passar tudo que aprendeu para as futuras gerações. "Foi uma coisa que eu não tive. Quando eu estava começando a tocar, ninguém ensinava choro. Então eu quero passar o conhecimento para frente, principalmente para os jovens e adolescentes."
Sendo um gênero pouco conhecido, Fernando como apaixonado não se resigna e faz sua parte para garantir que o choro sobreviva e resista. "Essas crianças não teriam a oportunidade de conhecer o gênero, então, a intenção é mostrar que isso faz parte da identidade cultural deles", afirma. O professor destaca que durante as oficinas, um dos focos é justamente tentar aproximar a realidade musical dos alunos ao choro. "A gente tem um número em que começamos tocando o maxixe e aí no meio a gente transforma em rap e vamos improvisando juntos. Eles se amarram", garante.
Hoje, os professores do Centro de Ensino Fundamental 10 de Ceilândia Norte são os primeiros a receber o projeto Choro Brasileiro e participarão da oficina. A supervisora pedagógica Kelly Cristina conta que tanto os docentes, quanto os alunos estão animados. "Nossos alunos não conhecem estilos musicais dessa época, hoje em dia são os estilos mais urbanos, como o funk. Então essa proposta é interessante para que conheçam o choro, que faz parte da nossa cultura", afirma.
Amanhã, os alunos do 6º ao 9º ano poderão contemplar show, palestra e mediação. E, em maio, será a vez do CEF 04 do Paranoá, CEF Lobo Guará do Riacho Fundo II e CED 07 do Gama. Em cada instituição, cerca de 130 alunos participam do projeto.