Pesquisadores e estudantes da Universidade de Brasília (UnB) desenvolvem, há cerca de dois anos, um sistema tecnológico que auxilia no reconhecimento facial para identificação de fraudes e para gestão mais eficiente em diferentes setores da sociedade. O aplicativo, que foi testado e tem previsão de começar a operar até o fim do mês, pode ajudar bancas examinadoras, instituições de ensino, empresas e organizações a evitar irregularidades relacionadas à identificação, à geolocalização e ao reconhecimento de estudantes, trabalhadores e candidatos, em processos seletivos, salas de aula, escolas ou até nos órgãos públicos.
Os resultados e conclusões da pesquisa que deu origem ao aplicativo foram apresentados, na segunda-feira (18/4), à Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF). Ela vai decidir como, onde e se o aplicativo será usado. O desenvolvimento do sistema, batizado de Faciem (do latim, "face"), teve início em 2020, quando a instituição pública pediu que a UnB apresentasse soluções para impedir fraudes em cursos de capacitação.
À época, a FAP-DF tinha contrato com uma empresa que promovia essas atividades de preparação. Porém, diante da presença maciça de estudantes, cuja frequência chegava a 100% diariamente, a fundação suspeitou da existência de irregularidades no preenchimento da lista de presença. "Isso gerou um alerta, porque é impossível gerenciar um curso em que ninguém falte. Eles (da FAP-DF) nos procuraram, pois queriam uma solução tecnológica que checasse se uma pessoa está em um local específico, no dia e horário determinados", detalhou Marcus Vinicius Lamar, coordenador da pesquisa e professor do Departamento de Ciências da Computação da UnB.
Funcionamento
O Faciem adota técnicas de reconhecimento biométrico e facial que garantem uma identidade única ao usuário e permitem saber se ele está, de fato, presente no lugar necessário. O aplicativo foi desenvolvido exclusivamente para celulares. Para usá-lo, basta ter uma câmera e sistema operacional Android, versão 10 ou superior, ou iOS a partir da 13ª, no caso de iPhones. Testado por mais de 500 estudantes da UnB em aulas remotas, a expectativa inicial é de que o programa funcione com até 5 mil acessos simultâneos.
O Correio testou o aplicativo. Primeiro, o usuário se cadastra, na página inicial do app e, com um QR Code, registra fotos do próprio rosto em três posições: frontal, pelo lado esquerdo e a face direita. A partir dessas imagens, o sistema cria um algarismo que indicará o grau de semelhança entre as imagens de que fez o cadastro original no programa e a de quem tenta validar a presença em um curso ou processo seletivo, por exemplo.
O aplicativo capta, ainda, a geolocalização do usuário, para checar se a pessoa está no local esperado. Com a precisão do sensor GPS, também é possível saber se ela se encontra em movimento e até a velocidade do deslocamento. O sistema funciona na frequência determinada pelo gestor e, se necessário, a presença e o reconhecimento facial podem ser processados por minuto, por hora ou em intervalos diferentes.
Utilidade
Apesar de ter sido testada em contexto acadêmico e idealizada para cursos de capacitação, a ferramenta pode ter grande variedade de usos na gestão pública. Até o momento, o sistema só foi oferecido à FAP e à UnB, mas o grupo de pesquisa quer levá-lo para o Governo do Distrito Federal. O aplicativo pode, por exemplo, ajudar a organizar a distribuição de vacinas nas unidades básicas de saúde (UBS). Nesse caso, o usuário previamente cadastrado poderia chegar ao local apenas no horário marcado e, com leitura do QR code e reconhecimento facial, ser atendido com o imunizante indicado.
Professor de ciências da computação, Flávio Vidal, coordenador da parte técnica da pesquisa, acrescentou que o aplicativo poderia servir para o controle da frequência e da localização de políticos em eventos, viagens oficiais e em audiências parlamentares com gastos financiados pelo poder público. "Se um deputado, por exemplo, diz que está em um lugar, mas está em outro, a gestão pública pode usar nosso sistema para monitorar. E isso funcionaria em qualquer parte do mundo, não só no Brasil", destacou.
A iniciativa foi desenvolvida por 14 docentes e estudantes de cursos das áreas de engenharia e computação. Em junho, o grupo vai apresentar, na 17ª Conferência Ibérica de Sistemas e Tecnologias de Informação, um artigo sobre o processo de pesquisa, que recebeu investimento de aproximadamente R$ 2,5 milhões da FAP-DF.
Colaborou Ana Luisa Araujo
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