O Executivo local decidiu desengavetar, neste ano, um projeto de 2011, que prevê a construção de mais duas pontes sobre o Lago Norte. As obras da nova Saída Norte estão orçadas em R$ 3,8 bilhões e, se aprovadas, devem começar até o ano que vem, segundo as expectativas do Governo do Distrito Federal (GDF). O corredor viário vai cortar a Asa Norte, o Lago Norte e Sobradinho, até chegar à BR-020. O prazo para contribuição com sugestões ao projeto fica aberto até 13 de maio.
O montante previsto não inclui só a construção, mas a manutenção da via e das pontes pelo período de 25 anos — prazo inicial de duração da parceria público-privada entre a empresa vencedora da licitação e o GDF. "Em função das contribuições recebidas durante a consulta e as audiências públicas, bem como da análise pelo Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF), ainda poderão ocorrer ajustes no projeto, com reflexos sobre os custos originalmente estimados", ressaltou a Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob), responsável pela elaboração do plano de construção.
Na justificativa do edital que detalha a proposta, a pasta informa que a meta é reduzir distâncias até o Eixo Norte. Para isso, no entanto, seria "necessário transpor a península do Lago Norte e construir duas pontes". Com base em critérios técnicos usados no Plano Diretor de Transporte Urbano do Distrito Federal, que embasam a nova estrutura, há simulações de deslocamentos feitos pela população que passa pelas áreas contempladas pelo corredor viário. "Na sequência, serão estudadas alternativas à infraestrutura de transporte existente, com objetivo de reduzir os custos operacionais e tempos de deslocamento, sendo que esses ganhos econômicos devem superar o custo da obra", completa a Semob.
Contrapartida
O GDF informou que saber a opinião da população trata-se de "uma importante ferramenta para o aprimoramento do projeto". Após essa etapa, os próximos estágios incluem a análise das contribuições, eventuais ajustes ao projeto, assim como avaliação da proposta pelo Tribunal de Contas, antes da abertura de licitação, que ocorrerá por meio de parceria público-privada. Em contrapartida para manutenção da estrutura pela empresa vencedora do certame, o Executivo local vai transferir terrar da gleba A do Setor Taquari 2 para a companhia responsável pelas obras.
O retorno do investimento se dará por meio da exploração imobiliária da região, o que deve intensificar os debates sobre o tema entre moradores da área. "O projeto será debatido em consulta e audiência com a população. Em seguida, será encaminhado aos órgãos de controle, como a Controladoria-Geral, o Tribunal de Contas e o Ministério Público do Distrito Federal. Só após aprovado em todas as instâncias é que poderá ser licitado. A previsão é de que as obras ocorram entre 2023 e 2027", completou a Semob.
Administrador do Lago Norte, Anderson Tolêdo, considera muito cedo para se manifestar sobre o assunto de maneira aprofundada, pois o projeto não está concluído. "Ainda não pensei a respeito. A proposta está em análise, a audiência pública será no dia 29, quando tudo será debatido", afirma. Entretanto, ele observa que os moradores estão divididos em relação à proposta. "Não é algo novo. Isso tem sido discutido há muito tempo, desde a época do (governo Joaquim) Roriz e do (José Roberto) Arruda. Agora, está sendo retomado", completa.
Para parte dos moradores, a construção do corredor viário e das pontes ameaçará a tranquilidade pa população, segundo Anderson. A outra parte acredita que a estrutura facilitará a mobilidade. Para participar da consulta on-line, a população deve enviar sugestões por escrito, para o e-mail consultansn@semob.df.gov.br, até 13 de maio. A Semob organizará uma audiência pública no próximo dia 29, às 10h, para discussão do projeto. O encontro será no auditório do Departamento de Estradas de Rodagem do Distrito Federal (DER-DF), no Setor de Administração Municipal.
Em detalhes
A construção prevê quatro canteiros de obras. O principal, no Setor Taquari, no Lago Norte, será composto pelas principais instalações de grande porte e de apoio aos segmentos viários mais extensos. O segundo ficará na L4 Norte, na altura da Universidade de Brasília, para os trabalhos nessa via de encontro à primeira ponte sobre o Lago Norte.
As duas demais áreas de concentração das construções ficam na interseção com a Estrada Parque Península Norte — em região a ser definida, para ligação das duas pontes — e no interstício entre o Condomínio Privê e a MI 3, também no Lago Norte. Outros três canteiros complementares serão construídos para facilitar o acesso de materiais e insumos necessários à construção.
A ponte principal terá uma plataforma de concreto sustentada por arcos e cabos de aço. Cada sentido de tráfego terá três faixas para veículos, uma pista exclusiva para transporte coletivo, além de espaço separado para uso de pedestres e ciclistas.
Palavra de especialista
Construção ultrapassada
O Lago Norte só tem uma entrada, e isso realmente intimida bandidos. Caso a ponte seja construída, a violência tende a aumentar, assim como a insegurança em todo a região. Essa obra é absolutamente reprovável e imprudente. Há outras maneiras de fazer a ligação que eles querem. Na Universidade de Brasília, por exemplo, há uma península na parte do Centro Olímpico que as pessoas chamam de Ruínas da UnB. Um dos lugares apropriados para construir uma ponte seria saindo dessas ruínas e indo para a outra margem do Lago Paranoá, ligando a instituição de ensino ao restante de Brasília. Depois do Varjão, inclusive, há um grande condomínio irregular chamado Village Alvorada. Ele tirou totalmente a privacidade do Palácio da Alvorada. Tudo aquilo é irregular. Uma ponte nesse local traria benefícios; já a ponte passando pela Península Norte trará prejuízos. Por que não fazer uma para eliminar males? Se uma estrutura dessas fosse feita exatamente no meio dos condomínios grilados, seria uma construção do bem. O problema do governo é que ele está atrás de obras, mesmo que sejam ruins. É fazendo obra que se faz política. O número de construções ruins da atual gestão é imenso. O túnel de Taguatinga é um exemplo. Se fosse nos anos 1950, quando os automóveis chegavam ao mundo, seria bom. Mas, para o momento em que estamos, essas obras não funcionam.
Frederico Flósculo, arquiteto, urbanista e professor da UnB