Por mais contraditório que possa parecer, não sou disciplinada nas minhas postagens nas redes sociais. Trabalho com isso diariamente, impossível escapar se você é um comunicador neste século, mas confesso que no momento estou mais para voyer do comportamento e das publicações das outras pessoas e dos diversos veículos de comunicação do que preocupada com minhas próprias redes.
Quando o assunto surge nas conversas, dou uma de ombudskivina — feminino de ombudsman, o "provedor de justiça", que discute a produção dos jornalistas a partir da perspectiva do leitor, como me ensinou o querido jornal laboratório Campus, da UnB.
Pois bem, estava eu plena, à melhor maneira cringe, numa segunda tentativa de usar com mais frequência o Twitter quando resolvi postar uns dois versos de uma música de Gilberto Gil, já não me lembro qual. Afinal, são tantas as que despertam a vontade de cantar, relaxar ou de dar aquele abraço. Uma das canções dele, inclusive, fez parte do repertório do meu casamento. E trata-se, pasmem, da música que ele escreveu quando se separou.
Drão é de tamanha poesia e transborda sentimento e ternura que não nos importávamos com o que havia motivado sua composição. Pelo contrário, se um dia fosse para terminar e, o resultado, algo parecido com o que estava ali, é porque alguma coisa teríamos de ter feito certo.
Por via das dúvidas, antes da cerimônia na igreja, nos encontramos, meu marido e eu, com o frei para tratar, entre outros pontos, sobre o que a banda tocaria a cada momento da celebração. Saímos de lá sem nenhum veto à playlist. E teve Tribalistas, Eric Clapton, canção para lembrar a infância e receber nossos padrinhos, música sacra e Gil enfeitando o caminho para a chegada das alianças ao altar. "Quem poderá fazer aquele amor morrer / Se o amor é como um grão / Morre, nasce, trigo, vive, morre, pão".
E quem melhor do que o homem que nos ensina a nos aproximar de Deus para ajudar a selar uma união? "Se eu quiser falar com Deus / Tenho que ficar a sós / Tenho que apagar a luz / Tenho que calar a voz / Tenho que encontrar a paz / Tenho que folgar os nós"
Voltando ao tema desta crônica, qual não foi minha surpresa quando, horas depois da postagem, vi aquele coraçãozinho indicar: Gilberto Gil curtiu seu tweet. Pronto, zerei a vida, pensei. Era tanta euforia, como se o próprio tivesse vindo cantar no meu casamento. Consegui velejar no infomar, uma tiete brasiliense cheia de alegria aproveitando a vazante da infomaré.
Portanto, ver Gil tornar-se imortal é um pleonasmo. A minha antena parabolicamará já captava essa novidade há tempos. O reconhecimento oficial só o fará, agora, subir ao palco dessa eternidade criada por nós, meros mortais. Salve, Gil!