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Escolas públicas comemoram recorde de alunos aprovados na UnB

Escolas públicas do Distrito Federal emplacam grande número de estudantes em cursos de graduação da Universidade de Brasília (UnB) por meio do Programa de Avaliação Seriada (PAS)

Estudantes de escolas públicas aprovados na Universidade de Brasília (UnB) por meio do Programa de Avaliação Seriada (PAS), assim como os professores deles, comemoram o que consideram a grande conquista de suas vidas. A sensação do dever cumprido e a certeza de dias melhores em um futuro próximo são experimentadas, agora, por 10 entre 10 alunos. Escolas públicas de Santa Maria, Ceilândia e Taguatinga registraram aprovação recorde na primeira chamada do programa. Mais da metade dos calouros aprovados para o primeiro semestre de 2022 são oriundos de escolas públicas (826) ou estudantes que se declararam negros (88), de acordo com dados da Reitoria da instituição de ensino superior.

O caminho trilhado pelos candidatos do PAS foi marcado por diversas dificuldades provocadas pela pandemia, pois as provas ocorreram no auge do contágio. Os estudantes foram obrigados a encarar as aulas remotas e grande parte deles sequer tinha acesso à internet, o que levou muitas escolas da rede pública a se reinventar, na busca por uma base sólida de aprendizado.

"Aulões" beneficiam 32 alunos

Em Santa Maria, o Centro de Ensino Médio 404 registrou a aprovação de 32 alunos. Entre as iniciativas para alcançar o bom desempenho, destaca-se o projeto Mais 1 no PAS, idealizado pelo professor Ricardo Rocha. Iniciado em outubro, o programa, criado para auxiliar os estudantes da cidade, consiste em uma série de "aulões" mensais gratuitos, sempre aos sábados. A equipe é formada por professores voluntários, que planejam desde a orientação da inscrição no exame até o conteúdo curricular cobrado — inclusive as obras da matriz do Programa de Avaliação Seriada —, além de oferecer suporte psicológico.

A logística para os "aulões" requer financiamento coletivo, tanto para compra de materiais acadêmicos e equipamentos, quanto para a alimentação. Rocha avalia que o projeto pode resultar em maior inserção de jovens da rede pública da região em instituições de ensino superior de qualidade. Segundo ele, a ordem é exterminar o estigma negativo de Santa Maria, introduzindo uma nova perspectiva profissional para os jovens locais. "Esperamos que em, pelo menos, dois anos, as pessoas olhem para a cidade com mais positividade e compreendam que, aqui, não existe apenas criminalidade. (Queremos) mostrar que temos várias coisas legais também", diz ele.

Aprovadas na Universidade de Brasília, as gêmeas Mariana e Manuela Veras, 18 anos, foram beneficiadas pelo Mais 1 no PAS. Mariana alcançou nota máxima na redação e atribui boa parte da realização ao projeto. "Pelo menos 70% do meu desempenho nas provas foi graças ao que aprendi nos 'aulões'. Se não fosse por essas aulas, não teria conseguido alcançar meu objetivo", relata Mariana. Ela conta que, para frequentar os simulados, foi preciso conciliar trabalho e estudo. "Mesmo com a agenda lotada, sempre arranjávamos um tempinho à noite para estudar juntas", lembra.

Mariana acrescenta que, ao saber que alcançou nota máxima na redação, a sensação foi de surpresa e incredulidade. "Pensava que tinha zerado. Foi um choque. Estava muito nervosa, mas, depois, caiu a ficha. A redação estava mesmo impecável", reconhece.

Sonhos que se transformam em realidade

O Centro de Ensino Médio Ave Branca (Cemab), em Taguatinga, aprovou 36 estudantes em diferentes cursos da Universidade de Brasília. A diretora da escola, Suzane Martins, emocionou-se com o feito. "É o resultado de um excelente trabalho em equipe desenvolvido durante a pandemia. Estamos muito felizes", comemora.

Ela destaca que o esforço foi recompensado pela participação ativa dos alunos nas aulas remotas. "Nossos estudantes são verdadeiros guerreiros, pois vivenciaram todo o ensino médio a distância", diz. Segundo ela, a escola também desenvolveu um projeto de "aulões" preparatórios mensais para os estudantes, que foi adaptado para o modelo virtual.

Dois estudantes do colégio, com histórias de vida diferentes, optaram por seguir carreiras na área de engenharia. Arthur Ramos, 17, foi aprovado no programa em engenharia mecânica e vai estudar no câmpus Darcy Ribeiro, no Plano Piloto, no próximo semestre. "Parece um sonho. Até hoje, estou comemorando. Só vou acreditar quando entrar na sala de aula", afirma.

O jovem, filho de professora, contou com a ajuda do irmão para se preparar para o processo de seleção, chegando a montar um cronograma, pelo qual estudavam duas matérias por dia, durante cerca de quatro horas. Ele conta que optou pelo curso por apreciar o universo do automobilismo e das máquinas pesadas. "Desde criança, eu me interesso por carros e sempre quis entender como as engrenagens funcionavam", lembra.

Já Gabriel Castro, 18, escolheu o curso de engenharia química e considerou a aprovação uma grata surpresa, pois enfrentou dois anos de aulas remotas. Ele revela que a pandemia foi um fator determinante para a mudança de escola, pois o comércio da mãe fechou, levando-o a buscar refúgio nos estudos. "A ansiedade foi o maior dos problemas. Eu me senti superdesmotivado durante os dois anos de distanciamento", afirma. Além disso, ele reconhece que as escolas da rede pública sofreram muito para se adaptar nos picos da covid-19.

Ceilândia vibra com resultado

Quem também teve alunos aprovados na área de engenharia foi o Centro de Enino Médio 2 de Ceilândia, que emplacou 16 aprovações. Lá, os estudantes vibraram com a realização de ingressar na Universidade de Brasília (UnB). "Ainda estou sem acreditar. Foram três anos de muita dedicação e luta", relata Jéssica Eveline, 18 anos, que optou por engenharia de softwares. A jovem foi aprovada em letras pelo vestibular. Contudo, assim que saiu o resultado do Programa de Avaliação Seriada, optou pelo diploma de engenheira.

Além do incentivo da família — principalmente da mãe, que se formou recentemente e é educadora —, Jéssica frequentou cursinhos preparatórios oferecidos por movimentos sociais do Distrito Federal, que a ajudaram a se manter firme nos estudos: "Eles me motivaram a ter a consciência de que meu lugar é na universidade, que teria como ser aprovada. Hoje, consegui isso", diz. Ela se orgulha de ser a primeira da família aprovada na UnB.

Jéssica comenta que a ansiedade foi um dos obstáculos na preparação para os vestibulares: "Acredito que ela atacou todo mundo nesse período". E, para a jovem, ao mesmo tempo em que o modelo remoto foi desesperador, quando foi necessário que a escola se reinventasse, os alunos desenvolveram a habilidade de estudar por conta própria. "Isso trouxe uma certa maturidade", relata.

Gabriel Henrique Rodrigues, 18, também optou por engenharia de software e, graças a muita persistência, obteve a tão sonhada aprovação. "Fiquei sem acreditar o resto do dia. É uma sensação incrível saber que você estudou tanto e foi recompensado", disse. O jovem conta que investiu cerca de oito horas diárias para se preparar, com ajuda da irmã, educadora, que o auxiliou a compreender a dinâmica das provas e o motivou a seguir o sonho dele.

O recém-aprovado se alegra pelo fato de, agora, poder estudar presencialmente na UnB, pois não obteve boas experiências com aulas a distância nestes últimos dois anos. "A ansiedade bateu lá em cima, porque não tinha ninguém para interagir e conversar. Foi um processo traumático", conta. Ele revela ter optado por engenharia de software na expectativa de ingressar mais rapidamente no mercado de trabalho.

Os calouros podem se preparar para o próximo semestre. Segundo o calendário da UnB, as aulas retornam ao modelo presencial em 6 de junho. Em caso de não preenchimento das vagas, a universidade pode publicar novas chamadas ao longo do ano.

*Estagiários sob a supervisão de Jáder Rezende

 

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