Com o aumento de 43% na coleta de leite humano no Distrito Federal, subindo de 1,2 para 1,7 mil litros, no período entre fevereiro e março deste ano, a Secretaria de Saúde conseguiu elevar a média mensal em estoque, que estava abaixo de 1,5 mil. Mesmo com a marca, a importância das doações segue como foco, a fim de atender os bebês prematuros, que dependem do alimento nos primeiros dias de vida.
A técnica em enfermagem Fabiane Aparecida Rocha Moreira, 32 anos, é um exemplo de doação. Com apenas duas semanas do nascimento da filha Isabela Rocha, 7, começou a coletar o alimento, tornando-se uma doadora. Gesto que se repetiu com a chegada do segundo filho, João Rocha.
"Fico muito feliz em amamentar meu filho e poder contribuir com outras crianças que, muitas vezes, estão internadas em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), ou que as mães não podem amamentar, por não conseguirem ter uma produção muito efetiva", analisa.
Moradora de Ceilândia Sul, Fabiane comenta que não há burocracia no processo de doação. O Corpo de Bombeiros do Distrito Federal (CBMDF) realiza o cadastro por meio do celular ou do e-mail, por onde os exames são encaminhados. Tanto o envio dos frascos vazios, quanto a retirada com o material coletado, são feitos com data e hora marcada. "Tenho o alimento número um, mais que essencial para o bebê, e que pode salvar vidas", comemora a servidora pública.
A última vez que as doações ultrapassaram 1,7 mil foi em setembro de 2021, quando 1,8 mil litros foram coletados pelos Bancos de Leite Humanos do DF. A Secretaria de Saúde do DF (SES) esclarece que 300ml de leite materno alimentam até 10 bebês. Atualmente, há cerca de 250 crianças internadas em UTIs neonatais da rede pública. O leite pode ficar armazenado em um recipiente no congelador por até uma quinzena.
Importância da doação
Coordenadora das Políticas de Aleitamento Materno da SES-DF há 20 anos, Miriam Santos se recorda da história do estudante universitário Matheus Rezende Araújo, 21, que nasceu prematuro aos seis meses de gestação. Com pouco mais de 1,35kg, foi amamentado pela mãe, mas também recebeu doações de leite durante o tempo que ficou na UTI do Hospital Regional de Taguatinga (HRT). Apaixonado pelo processo de aleitamento de UTI Neonatal, Matheus decidiu fazer nutrição e retribuir a ajuda recebida. "Me encantei pela área da saúde e por toda a importância por trás da nutrição, principalmente através do aleitamento", conta.
A mãe, a gerente comercial, Terezinha Maria de Rezende, 47, explica que teve eclâmpsia no final da gestação, o que causou o nascimento prematuro de Matheus. O jovem, que ficou internado por dois meses, não podia mamar, devido ao baixo peso. Foi quando Terezinha recebeu ajuda do banco de leite. "Eu tirava leite de três em três horas e, enquanto eu doava para o banco, ele recebia", recorda.
Mãe de primeira viagem, a gerente comercial fala sobre a importância do gesto para as famílias que precisam do alimento. "Quando você vê que o seu filho nasceu e que precisa de cuidados especiais, dá um certo medo. Mas existem pessoas que abraçam a sua causa, te dão apoio e te fazem compreender a importância desse processo de amamentação", diz. "Às vezes, a criança tem dificuldade de pegar o mamilo, ocorre a rejeição e você se sente incapaz. Mas quando passei por isso, abracei ainda mais a causa", reforça.
Para Terezinha, ver o filho saudável, cursando o 6º semestre do curso de Nutrição, é a prova da importância do aleitamento materno e das ações em prol do abastecimento do banco de leite do DF. "É muito gratificante. Como mães, temos que apoiar essa causa, porque muitas outras não têm conhecimento, apoio e, muitas vezes, precisam de ajuda", afirma. "Precisamos acreditar, sempre, na importância do leite, no quanto o aleitamento é válido e na diferença que isso faz na vida dos nossos filhos", reitera.
Para que mais casos como esse ocorram, Miriam deixa um conselho para as mães que ainda não doaram este ano ou enxergam como um processo burocrático. "A mãe que doa leite materno pode doar o leite em casa com ajuda dos bombeiros, e faz essa solidariedade com outras mulheres, porque essas mães vão poder estar ensinando aos seus filhos o primeiro ato de solidariedade que essa criança faz: doar o alimento que está sobrando para outra, o que passa essa ligação para o filho eternamente", sugere a médica pediátrica.
A 2º sargento do Corpo de Bombeiros Militar do DF, Márcia Couto, conta que as mães como Fabiane, mais informadas, ou aquelas que precisaram do leite para os próprios filhos em UTI, têm mais consciência. "Muitas mães doam por terem passado pela dificuldade de não poder amamentar o filho com leite materno nas primeiras semanas", relata.
Márcia também é responsável pela coleta de leite na Assessoria dos Programas Sociais (Apros), do CBMDF, e costuma fazer o cadastro de mães doadoras. Ela explica que, normalmente, as coletas caem por falta de informação. "Sempre tento mantê-las motivadas, faço contato para conversar e dizer da importância do ato da doação. No primeiro contato, entregamos um kit pronto, com vidros esterilizados, além de touca e máscara. Também explicamos como se armazena", explica.
A vendedora Nathália Félix, 29, fez doações de agosto de 2021 a janeiro deste ano, após o parto da filha Eloah. Moradora de Valparaíso de Goiás (GO), Entorno do DF, explica o que motivou as doações. "No primeiro momento, como não precisei amamentar e o meu bebê estava na UTI, vi de perto como é necessário se doar um pouquinho para salvar muitas vidas", recorda-se emocionada.