O CB. Saúde desta quinta-feira (7/4) teve a participação de Dalcy Albuquerque, infectologista e representante regional da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical em Brasília. Em entrevista ao programa, realizado em parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília, Albuquerque abordou temas relacionados ao impacto da ação humana na transmissão de doenças. A conversa foi conduzida pela jornalista Carmen Souza, e ocorre no Dia Mundial da Saúde, que tem como tema “Nosso planeta, nossa saúde”.
O primeiro ponto abordado foi a ação do homem na natureza e o impacto disso na transmissão de doenças, como dengue e malária. “As próprias mudanças climáticas que estamos observando — provocadas, em grande parte, por industrialização e urbanização acelerada e descontrolada — vem, sem dúvida nenhuma, mexendo com a nossa saúde. Seja introduzindo doenças novas, como vemos o coronavírus, seja, muitas vezes trazendo de volta doenças antigas”, avalia.
O desmatamento também foi elencado pelo infectologista como fator determinante para trazer doenças para mais perto de espaços urbanos. “Isso está relacionado diretamente a agressões ao meio ambiente. Quando você desmata uma região, principalmente regiões tropicais, há, normalmente, o aumento de doenças como malária e leishmaniose, porque você aproxima o ser humano do vetor que transposta protozoários, vírus, bactéria, etc. Assim há aumento de casos e, infelizmente, o aumento de mortes, muitas vezes”, acrescenta.
Outro tema tratado durante a conversa foi o impacto da pandemia no enfrentamento de doenças, como a malária. “A pandemia desorganizou o sistema de saúde de uma forma geral. Ela mobilizou o pessoal de assistência e prevenção para os trabalhos próprios da pandemia, e também impediu o contato pessoal. A malária, principalmente, em regiões próximas das cidades, é baseada na visita de um agente e tudo isso foi complicado, devido ao período mais crítico da pandemia” , afirma.
Esses fatores levantaram também a questão sobre possível aumento da letalidade da doença. Segundo informações da Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças ligadas ao clima matam em torno de 13 milhões de pessoas por ano no mundo. “Sim, até porque a assistência foi complicada. Os hospitais, que estavam em muitos locais, e que eram destinados a esse tipo de doença, foram desviados para tratar covid, que abarrotou o sistema de saúde. Houve até um ruído de concorrência de medicações com a malária com a covid. Então sim, se for malária é provável o aumento de letalidade”, pontua.
Além da alta da letalidade, também foi discutida a queda de letalidade da covid-19 até o ponto em que vire uma doença endêmica, bem como os desafios para esse cenário. “Influenza é uma doença endêmica, dengue é uma doença endêmica, e poderíamos citar uma série de outras. É uma doença que vai ter um número regular de casos, via vacina ou via infecção natural, ou pelas duas coisas. Com isso, a tendência é uma diminuição dos casos graves. Então, você terá durante determinada sazonalidade uma aumento de caso. Pegando um exemplo, a influenza, que é uma doença de transmissão respiratória, que estaria mais próxima da covid. Durante os meses mais frios do ano existiria uma tendência a aumentar os números de casos de covid, como temos na época quente dengue, porque é a época em que se prolifera o mosquito. Tudo isso vai depender de uma progressão no aspecto científico e industrial", esclarece.
Além do avanço no combate à covid-19, também foi discutida a aplicação da tecnologia de vacina no combate à dengue. Albuquerque ressaltou a expectativa de que o avanço tecnológico conseguido com a vacina contra covid-19 também se dê para as vacinas contra doenças ligadas ao clima, porém também apontou as dificuldades para alcançar esse feito. “Dengue é uma doença muito complicada, porque ela é causada por quatro vírus, dengue 1, 2, 3 e 4, que são doenças parecidas, mas por vírus diferentes. Então, você precisa de uma vacina que seja tetravalente e efetiva para os quatro vírus. A vacina que nós temos hoje tem uma resposta diferente para os outros vírus e poderia funcionar como uma primeira infecção”, explica.
*Estagiário sob a supervisão de Nahima Maciel