Sob forte comoção, Marianne Peretti foi velada na tarde deste sábado (30/4) no Cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul. Artistas, amigos e familiares estavam presentes para se despedir e prestar a última homenagem à idealizadora dos vitrais da Catedral e do Panteão da Pátria. Marianne morreu na segunda-feira (25/4), aos 94 anos. Neste domingo (1º/5), será celebrada a missa do sétimo dia na Igreja Rainha da Paz, às 10h, e na Catedral de Brasília, às 18h.
Isabela Peretti, filha de Marianne, destacou ao Correio que a escolha de trazer o corpo da mãe de Recife para ser velado na capital do país foi algo natural. “As obras mais importantes dela estão aqui em Brasília e ela gostava muito da cidade. Trabalhou muitos anos aqui. A Catedral era a obra de arte que ela preferia, que deu mais trabalho a ela, e também era aqui que ela tinha os amigos que a ajudaram nesse trabalho. Por isso acho importante que ela seja homenageada na capital”, defende. Após o velório, o corpo de Marianne foi levado para ser cremado.
Isabela confidenciou que trouxe Marianne para uma visita a Brasília, no fim de 2021. “Não contamos a ninguém porque queria que fosse algo mais íntimo, pessoal de mãe e filha, sem muita gente atrás dela, para ela ter esse momento de rever a obra dela. Eu a levei ao Congresso e à Catedral e ela dizia: ‘meus vitrais são bons. Eu fiz um bom trabalho’”, lembra.
Como representante do Governo do Distrito Federal, o secretário de Cultura e Economia Criativa, Bartolomeu Rodrigues, esteve presente à cerimônia. “Marianne é uma parte importante de Brasília. E ela ser velada aqui em Brasília, por iniciativa da filha dela, é uma honra para a nossa cidade. Brasília poderá para sempre reverenciar as obras que ela deixou eternizadas através da sua sensibilidade”, afirma.
Arte Vitral
Nascida em Paris, filha de mãe francesa e pai pernambucano, Marie Anne Antoinette Hélène Peretti cresceu e estudou na França. Ela chegou ao Brasil em 1956, aos 29 anos. Em 1959, ganhou um prêmio pelo desenho da capa do livro na 5ª Bienal Internacional de Arte de São Paulo. Pouco depois, conheceu Oscar Niemeyer no Rio de Janeiro, com quem viria a colaborar pelo resto da vida dele.
Marianne tinha pleno domínio da técnica e da história desse tipo de material. Em Brasília, ela quis dar a essa forma de decoração tradicional em catedrais milenares um ar moderno. Como lembrou Marcus Lontra ao analisar a obra da artista, ela recupera os vitrais góticos e acentua o caráter operístico da arquitetura de Niemeyer. A técnica milenar ganha elegância, ousadia e sensualidade nas curvas desenhadas para obras como a do Memorial JK, do Panteão da Pátria e da própria Catedral.
As curvas retomam a forma dos prédios públicos da capital, enquanto as cores emergem da própria cultura brasileira, que Marianne abraçou ao se mudar para o Rio de Janeiro e, mais tarde, para Recife e Olinda, onde montou e manteve ateliê durante muitos anos.
A pesquisadora Tactiana Braga, organizadora do livro Marianne Peretti — A ousadia da invenção, encara a obra da artista como excepcional no cenário internacional. "Ela coloca o Brasil no mapa da arte vitral. E dialoga com esse vitral com liberdade, não se prende aos cânones do modernismo e traz ao modernismo um vitral com novas possibilidades. Isso é muito valioso", explica.
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