Uma ambulância do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) derrubou parte do teto da Rodoviária do Plano Piloto na tarde desta sexta-feira (29/4). De acordo com a corporação, a viatura estava no local atendendo um caso clínico, na plataforma superior, e, ao manobrar, acabou batendo na marquise. Em nota, a Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) informou que o local onde ocorreu o dano passará por manutenção para reposição das placas.
"Em manobra de estabelecimento da viatura, infelizmente acabou se chocando com a marquise deslocando quatro placas de mármore que caíram no chão e sobre a viatura", disse o CBMDF. A área foi isolada e não houve feridos.
Vendedores e ambulantes que estavam no local presenciaram o acidente. Dita Maria é cozinheira de um quiosque de lanches em frente a plataforma superior. Ela estava tendo um dia normal de trabalho, quando foi pega de surpresa pelo barulho do impacto entre a ambulância e a cerâmica da plataforma.
“A ambulância entrou aqui e estacionou bem devagar, então ninguém viu, antes, que iria bater. Mas quando o carro foi andar pra sair de lá, acho que o motorista não percebeu que estava raspando em cima, e a cerâmica despencou toda”, contou.
Reformas
Em outubro do ano passado, a Rodoviária recebeu algumas obras de manutenção, entre elas, a revitalização do teto da plataforma superior, a mesma estrutura que desabou nesta sexta-feira (29/4). Na época, o GDF também anunciou que seria feita a troca das portas dos banheiros, a manutenção das escadas rolantes e a melhoria do asfalto nas proximidades da rodoviária.
O Correio entrou em contato com a Secretaria de Transporte e Mobilidade e com o GDF para confirmar se essa foi a última obra no local. A secretaria respondeu, no entanto, que a última obra foi feita por outro órgão, e que a reportagem poderia procurar a assessoria do Buriti para acionar a pasta responsável. O GDF também foi questionado sobre o assunto, mas, em nota enviada pela Administração do Plano Piloto, apenas informou que não houve vítimas no incidente, somente "danos materiais ao patrimônio público". O espaço segue aberto para novas atualizações.
Valdoni Sousa, de 30 anos, é vendedor ambulante na Rodoviária há cerca de seis anos e também presenciou o momento do acidente. Ele estava trabalhando logo abaixo da plataforma e contou que, por sorte, não foi atingido pela cerâmica que caiu. “Eu acho que falta ter uma placa de aviso aqui sobre qual é a altura máxima permitida para veículos estacionarem, porque poderia ter evitado o acidente”, disse o vendedor.
O ambulante Dalton César, que chegou ao local logo após o acidente, também sente falta de placas de sinalização na plataforma superior. “Se não botarem a placa, vai acontecer de novo com alguma outra ambulância, ou com um carro muito alto. Eu trabalho lá embaixo, e tenho medo de ficar aqui na plataforma superior justamente por isso, já vi muito acidente por aqui”, afirmou.
Outros acidentes
Este não é o primeiro acidente envolvendo a queda de estruturas da Rodoviária do Plano Piloto. Em agosto do ano passado, um pedaço de gesso caiu em frente a uma loja depois que um buraco foi aberto no teto do piso superior. Na época, ninguém ficou ferido, e a Administração da Rodoviária explicou que o acidente se deu por causa do acúmulo da água usada para molhar o cimento que seria destinado à revitalização do terminal.
Poucos meses depois, em outubro, um outro bloco de concreto caiu do chamado “Buraco do Tatu”, viaduto localizado abaixo do terminal. O material caiu em cima de um carro que passava pela via e quebrou o pára-brisas do veículo. Apesar dos prejuízos para o motorista, ninguém se feriu. Na época, a administração do terminal disse que realizou vistoria no local, mas que não identificou nenhum desabamento do tipo no teto do viaduto, e que o material poderia ter sido arremessado por um morador em situação de rua.
O movimento na Rodoviária é intenso. A cada 24 horas, cerca de 800 mil pessoas passam pelo terminal, sendo que aproximadamente 120 mil são moradores do Entorno. Também circulam por lá 6.400 ônibus diariamente. Dalton César, ambulante que trabalha na rodoviária há mais de 27 anos, diz que já presenciou pelo menos quatro acidentes envolvendo a queda de estruturas do terminal.
Para o vendedor, além da falta de manutenção, a Rodoviária do Plano Piloto apresenta diversos outros problemas que ainda não foram solucionados pela administração pública. “A rodoviária está abandonada praticamente. Falta manutenção básica de tudo, falta reformar os banheiros, que continuam horríveis, não dá para usar, tá tudo quebrado, e falta, sobretudo, segurança”, relatou.
Privatização da Rodoviária
Desde o ano passado, o Governo do Distrito Federal (GDF) tem demonstrado apoio ao processo de concessão privada da Rodoviária do Plano Piloto. O objetivo, com a Parceria Público-Privada (PPP), é justamente trazer melhorias para o terminal, ampliar a limpeza do local e a manutenção dos equipamentos.
Em entrevista ao Correio, em dezembro do ano passado, o secretário de Transporte e Mobilidade afirmou que o processo de desestatização da Rodoviária, assim como do Metrô-DF, avançariam durante o primeiro semestre deste ano, com a publicação dos editais para encontrar empresas interessadas na concessão. A previsão é de que, após a seleção de empresas, o desenvolvimento e apropriação completa do terminal pelo setor privado demore cerca de dois anos.
O Correio também questionou a Secretaria de Transportes e Mobilidade (Semob) nesta sexta-feira (29/4), para saber em que estágio se encontra o processo de concessão privada da Rodoviária, e se há previsão para a publicação do edital de licitação. A pasta respondeu que o projeto já passou por ajustes sugeridos pelo Tribunal de Contas do DF (TCDF) e que "está sendo avaliado pelo órgão".
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