Brasília, a cidade forjada no concreto armado, nos sonhos, na teimosia e no suor de milhares, chega aos 62 e reafirma a vocação de agregar, inspirar e realizar. Nessa quinta-feira (21/4), os brasilienses ocuparam os espaços públicos e celebraram a cultura, o céu que se perde no horizonte e se mistura ao verde dos espaços vazios minuciosamente pensados para a contemplação.
A nova capital do Brasil de hoje se permitiu parar e contemplar a própria história. Uma trajetória descrita como um diário de bordo pelo Correio Braziliense, o primeiro periódico da cidade. No Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), pinceladas dessa epopeia indissociável estão retratadas na exposição Brasília e o Correio Braziliense: 61+1 anos de histórias. A sensação, de acordo com Vânia Bellettini, 47 anos, administradora e residente em Águas Claras, é de ser imersa em viagem ao passado. "Parece que a gente é transportado para outro tempo, ver as capas do jornal é uma verdadeira viagem na história", exalta.
Empreendedorismo
A capital do país também tem seu destaque empreendedor. Gerente de projetos da Fundação Assis Chateaubriand (FAC), Leandro de Carvalho pontua as novidades: "estamos com o aplicativo Todas Elas, em parceria com o Banco Afro, que já pode ser utilizado para formação on-line. As inscrições para a nossa sexta turma, no site www.todaselas.facbrasil.org.br, estão disponíveis para mulheres de seis regiões administrativas, quem estiver no perfil, pode participar. Podem ser mulheres interessadas em gastronomia, artesanatos, serviços manuais. As inscrições vão até 1º de maio, e o curso tem duração de três meses", informa.
Ana Lúcia de Sousa, 61, moradora de Brazlândia e artesã de bonecas de pano foi uma das alunas do Todas Elas e que apresentava os produtos na CCBB. "Para mim, fazer o curso foi maravilhoso, porque eu melhorei o meu produto e aprendi coisas que não sabia, como calcular preço e conversar com os clientes. Ainda ficava um pouco insegura. Fiquei sabendo do curso graças por uma amiga, e me inscrevi. Fez muita diferença", ressalta.
Para a artesã de peças sacras, Lidiane Rocha, 41, o projeto que ela conheceu pelas redes sociais, também foi um divisor de águas. "Aprendi a precificar minhas obras, organizar minhas peças na hora de expor, e ajudou, principalmente, no empoderamento. Com a pandemia, eu estava ficando muito triste, então o grande diferencial foi o empoderamento que o curso me trouxe", garante a moradora de Sobradinho.
Toalhas no chão
Ao cair da tarde, sob o céu azul com poucas nuvens, o gramado ganhou cores, além do verde. Em toalhas estendidas no gramado, bebidas, comidinhas, livros, prosas do ontem, do hoje e do amanhã. O calor indo embora, o friozinho do outono chegando, a música. Essa é a história que o projeto Picnik ajuda a construir em sua 10ª edição, após dois anos de recesso forçado pela pandemia da covid-19.
Alexandre Vasconcelos, 43, aproveitou o momento com a esposa, Karine, 46. A história do casal com a capital do país começou em 2006, quando Alexandre passou em um concurso no DF e veio com a família. "Já adotei Brasília como minha cidade", destaca. Enquanto eles aproveitavam o gramado, o filho Isaac, 16, e os amigos Pedro Lucas e Hannah Leal, da mesma idade, curtiram a parte instragramável do evento. "Estamos gostando bastante, tem a parte de comida vegana, tem a música, está tudo muito legal", concordaram os três.
Com o filho Miguel Tayar, 7, a arquiteta Gabriela Scartezini, 30, desfrutava do evento no gramado, enquanto o menino brincava fazendo bolhas de sabão. Nascida na capital, Gabriela revela que percebeu o privilégio de viver em Brasília só quando cursava o ensino superior. "Na faculdade, fui me dando conta do quão valioso é o lugar que a gente mora", salienta.
A autônoma Raimunda Rodrigues, 50, se apaixonou pela "nova capital" antes mesmo de conhecer a cidade, quando morava no interior do Pará. "Cheguei, aqui, em 2014, mas amo Brasília desde criança, quando ouvia pela rádio as coisas da capital. Morava em uma vila de Cametá, mas já era fascinada com os monumentos e a política. Lembro que, na juventude, cheguei a pedir para Deus que um dia me permitisse visitar Brasília", lembra. O sonho se realizou. "Me considero uma brasiliense, mesmo chegando um pouco tarde na cidade", conta a moradora do Itapoã.
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O que esperar dos próximos 62 anos?
Assoprar as velinhas imaginárias consolida o sentimento de dever cumprido e repactua o compromisso, de cada um e de todos juntos, de construir a Brasília de aqui a 62 anos. Afinal, como será a capital do pais aos 124 anos? Hoje, somos mais de 3 milhões de pessoas, segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE). Que tamanho terá nossa gente? O que moverá a nossa economia? Quais artistas teremos lançado? Qual será a realidade que nossas crianças vão encontrar?
Tais perguntas ainda não podem ser respondidas, mas a expectativa dos brasilienses é de um amanhã bem melhor. É o que o menino Jorlos Vinicius, 10 anos, sonha para o futuro. "Eu amo Brasília. Eu nasci e vivo aqui. Daqui muitos anos, eu quero uma Brasília sem ladrões e também uma Brasília que só tenha amor, esperança e respeito. Se Brasília fosse uma pessoa, eu diria feliz aniversário e que eu gosto bastante daqui", garante o garoto. Com a mãe, Nana da Cunha, 40, e a irmã, Isis Dometilia, 5, Jorlos assistia ao espetáculo de Moana na Torre de TV.
Quem também estava comemorando aniversário era o maranhense Magno Pascoal, que completou 67 anos no mesmo dia que Brasília fez 62. Ele tem o costume de aproveitar os pontos turísticos para reunir a família. "Esses espaços são muito bons, as crianças correm e brincam ao ar livre. Para daqui 62 anos, eu espero que isso aumente", avalia Magno.
Esse foi o primeiro aniversário de Brasília em que os filhos da estudante Mel Mascarenhas puderam participar da celebração. "A mais nova ainda era muito pequena quando começou a pandemia, desde então, esse é o primeiro evento que me sinto confortável em levá-los, e tiramos o dia para aproveitar bem", afirmou Mel, que saiu de casa preparada com comida, toalha de piquenique e muita animação. A filha Malu Mascarenhas, 8, era a mais empolgada entre os irmãos Otávio, 10, e Miguel, 12. Ao estudar sobre Juscelino Kubitschek na escola, ela quis conhecer o memorial JK, e Mel não poderia ter escolhido um dia mais simbólico para levar a menina. "Eu estou muito feliz, porque vi a estátua de Juscelino apontando para Brasília, e, ainda vamos subir na Torre e ver tudo lá de cima", vibra a criança.
Do espetáculo infantil ao rock, na programação dessa quinta-feira teve de tudo. O casal José Rezende, 65, e Sônia Campos, 63, se organizaram para assistir ao show comandado por Digão, dos Raimundos, na Concha Acústica. Desde 1960 em Brasília, José espera que a cidade continue a prosperar. "Quando eu cheguei, vi o Eixão sem pavimentação, as ruas se formando, e, hoje, temos essa cidade maravilhosa", ressaltou.
Programe-se
Exposição do Correio no CCBB
Visitação aberta até 20 de maio
Dias: terça-feira a domingo
Horário: das 9h às 21h
Atrações: Em 23, 24 e 30 de abril e 1º de maio, as crianças terão a oportunidade de criar, no estande do Correio Braziliense, a própria capa de jornal em uma oficina. A atividade será das 10h às 11h e das 11h às 12h.